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Segundo estudo

Mudanças climáticas aumentam turbulências em voos, mostra pesquisa

Um estudo da Universidade de Reading mostra que em 2100 haverá até 27% mais correntes de jato em comparação com 2015, o que cria condições propícias para um tipo de turbulência imprevisível

Saúde | 03 de Setembro de 2025 as 10h 06min
Fonte: Galileu

Foto: Divulgação

As mudanças climáticas aumentam a ocorrência das turbulências à medida que o ar se torna mais instável, indica um estudo da Universidade de Reading, no Reino Unido. As correntes de jato, ventos rápidos que circulam em altas altitudes, irão aumentar entre 16% e 27% em 2100 em comparação com 2015.

Isso porque a elevação das temperaturas implica em mais energia presente na atmosfera, o que provoca maior circulação do ar. Quanto maior a emissão de gases do efeito estufa, mais aumentam as turbulências e a instabilidade da atmosfera.

“Por isso que a mudança climática não é hoje tratada como o aumento da temperatura do planeta apenas, mas também como a intensificação de extremos”, explica à GALILEU o professor Wilson Roseghini, responsável pelo Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que não fez parte do estudo.

Ele esclarece que na atmosfera os fortes ventos têm ondulação difíceis de prever, e o estudo mostra que esses movimentos ficarão cada vez mais imprevisíveis.

Ao utilizar 26 dos últimos modelos de clima global que estimam como as temperaturas afetam as correntes de jato, os autores do artigo concluíram que a atmosfera se tornará entre 10% e 20% menos estável de 2015 para 2100.

A pesquisa, publicada em 19 de agosto na revista Journal of the Atmospheric Sciences, analisou as mudanças da atmosfera entre 10 km e 15 km da terra, nível de voo de muitas aeronaves e que já apresenta ventos bastante intensos.

Os resultados encontrados indicam que as mudanças climáticas trarão condições mais favoráveis, inclusive, para as turbulências de ar-limpo (do inglês Clear Air Turbulence - CAT), que de modo diferente das tempestades não são visíveis. Roseghini conta que essas turbulências não são detectáveis pelas aeronaves e ocorrem em áreas sem nuvens. “Ela acaba sendo até certo ponto uma surpresa para os pilotos”, diz.

As CATs podem provocar acidentes, em especial, se os cintos dos passageiros estiverem desafivelados durante o voo, além de trazer danos às aeronaves.

A pesquisa também observou um aumento do chamado cisalhamento vertical do vento nas latitudes médias do hemisfério norte. O cisalhamento, também conhecido como tesoura de vento, ocorre quando há um vento transversal à direção de voo.

Segundo Roseghini, as latitudes médias são as mais vulneráveis a instabilidades por serem uma área de transição entre climas mais frios e climas mais quentes. “Elas são muito instáveis, porque ali é onde a gente tem vários sistemas atmosféricos acontecendo”, afirma.

A autora do estudo Joana Medeiros, do Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading afirma que, diante do provável aumento das condições para turbulências, as companhias aéreas irão depender de previsões cada vez mais precisas de turbulência e de um planejamento de voo flexível para evitar as áreas de ar mais turbulento.

Além disso, os órgãos reguladores podem ter que atualizar os padrões de certificação das aeronaves para testar os aviões contra cargas de turbulência mais fortes. “Para os passageiros, se tornará cada vez mais importante seguir as orientações sobre o uso do cinto de segurança, já que solavancos repentinos podem se tornar mais comuns”, completa.

Outro estudo publicado em julho de 2024 mostra que a ocorrência CATs mais do que dobrou entre 1980 e 2021, em especial, sobre o norte da África, no leste da Ásia e no Oriente Médio em razão do aumento do cisalhamento vertical do vento e de correntes de jato.

O autor desse estudo, Mohamed Foudad, pesquisador de pós-doutorado em modelamento de turbulências também da Universidade de Reading, explica que as correntes de jato sofrem forte influência da diferença de temperatura entre os trópicos e as altas latitudes.

No artigo, Foudad realizou 20 simulações que partiam de condições climáticas com pequenas diferenças para quantificar o papel das mudanças climáticas na CAT no hemisfério norte. A maior frequência dessas turbulências de alta e média intensidade foi encontrada no leste da Ásia, com 7,5%, o que em parte pode ser explicado pela presença do Himalaia.