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Sinop

Médico diz que não houve irregularidade no atendimento de paciente que recebeu alta mesmo com um AVC

Relatório do médico responsável técnico da UPA não aponta falhas no protocolo e na conduta dos profissionais

Saúde | 03 de Julho de 2023 as 16h 30min
Fonte: Jamerson Miléski

Foto: Divulgação

A secretaria de Saúde de Sinop se posicionou, nesta segunda-feira (3), através de uma nota compartilhada pela assessoria de comunicação, sobre o caso da paciente Maria Eunice de Souza Silva, 64 anos. Residente na Gleba Mercedes, Maria sentiu fortes dores de cabeça na manhã do dia 22 de junho e buscou atendimento na UPA. Após alguns exames ela foi medicada e ficou em observação por 12 horas, quando recebeu alta, com uma receita para um remédio para pressão alta e a recomendação médica de tomar uma “sopinha”. Maria voltaria a UPA 24h na manhã do dia 23 e, após uma tomografia de crânio, foi confirmado que ela estava com um AVC (Acidente Vascular Cerebral), com quadro de hemorragia intracraniana.

Na nota, a secretaria de Saúde diz que o relatório feito pelo médico RT (Responsável Técnico), da UPA, desconsidera a alegação de erro no diagnóstico médico na primeira entrada da paciente na unidade, afirmando que não houve “nenhuma irregularidade de protocolo ou de conduta médica dos profissionais que atenderam a paciente”.

Mesmo que o relatório do Responsável Técnico não tenha apontado nenhuma irregularidade ou omissão, a secretaria afirmou que abrirá um processo administrativo, através de uma junta médica, para apurar todas as dúvidas referentes ao caso. A nota afirma que se a junta médica emitir um parecer contrário ao relatório do responsável técnico em sua sindicância, os resultados serão encaminhados ao Conselho Regional de Medicina (CRM-MT).

Maria está internada no Hospital Regional de Sinop desde a última segunda-feira (26). Seu quadro de saúde é grave, com risco de sequelas e morte. Ao longo da última semana ela foi induzida ao coma e medicada para dissolver os coágulos no cérebro. Na sexta-feira (30), foi feita uma incisão no pescoço da paciente para entubá-la diretamente na garganta. Segundo Ezequiel Duarte da Silva, filho de Maria, uma nova ressonância magnética foi realizada, revelando a obstrução de vários vasos sanguíneos, apontando um quadro de AVC Isquêmico – quando há obstrução de uma artéria, impedindo a chegada de oxigênio para as células.

 

A espera de Maria

Os primeiros sintomas de Maria Eunice apareceram por volta das 7h da manhã de quinta-feira (22), em sua casa localizada um sítio na Gleba Mercedes, há 100 km do centro de Sinop. Sozinha, ela caminhou até um vizinho onde pediu ajuda para chegar até a UPA 24h. Deu entrada na unidade por volta das 9h30 - estava consciente, andando e falando, mas com a pressão bastante alta. Recebeu atendimento médico, sendo encaminhada para soroterapia. Já havia passado da meia noite quando a médica Maria de Fátima de Melo Mendes avaliou novamente a paciente e decidiu dar alta. Foi nessa hora que a médica disse para Ezequiel levar sua mãe para casa e dar “uma sopinha”.

A médica prescreveu apenas HCTZ 25 (Hidroclorotiazida 25mg), medicamento com efeito diurético, comumente utilizado no tratamento de pressão alta. Maria Eunice foi levada para a casa da filha, no Bairro Boa Esperança. Na manhã de sexta-feira (23), Maria já estava respondendo menos, os sintomas haviam se agravado e ela foi levada novamente para a UPA, por volta das 9h da manhã. Outra médica avaliou os exames da mãe e se assustou em saber que a paciente foi mandada para casa.

Uma tomografia de crânio foi realizada ainda na sexta-feira. O exame apontou um possível AVC (Acidente Vascular Cerebral), com hemorragia dentro do crânio. O diagnóstico foi inicialmente apontado pela médica Juliana Denardim, no sábado (24) e referendado pelo médico José E.S. Neto no dia 25. Os médicos, agora, afirmavam que Maria Eunice precisava urgentemente ser internada em um leito de UTI e passar por uma neurocirurgia, com eminente risco de morte e de sequelas permanentes.

A família é informada pela central de regulação que não existem vagas de UTI disponíveis. Desesperados, os filhos recorrem a Defensoria Pública. Baseado nos laudos médicos que apontavam urgência com risco de morte, a Defensoria ingressou com o pedido no Fórum da Comarca de Sinop à meia noite de sábado (24), para uma UTI, fosse na rede pública ou privada.

Por volta das 10h de domingo (25), o juiz de plantão Mário Augusto Machado negou o pedido, afirmando que Maria Eunice já se encontrava em um leito de observação na UPA 24h, que já havia passado por um exame de tomografia e, portanto, a paciente estava sendo devidamente atendida. O juiz deu ainda prazo de 72 horas – ou seja, 3 dias – para o Estado e a prefeitura prestarem informação sobre o caso.

A Defensoria recorreu e a decisão foi revertida pelo Tribunal de Justiça. Ainda no domingo, por volta das 16h, uma liminar expedida em segunda instância dava prazo de 24 horas para transferir Maria Eunice para um leito de UTI. Apenas na segunda-feira (26), as 20h14, a paciente deu entrada no Hospital Regional de Sinop – ou seja, 4 dias e 11 horas depois de entrar na UPA com um AVC.