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Bom dia, Quinta Feira 04 de Dezembro de 2025

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Segundo estudo

Epidemia silenciosa: doença renal crônica é a 9ª causa de morte no mundo

É o que mostra estudo publicado na revista científica The Lancet, que analisou dados de 204 países, incluindo o Brasil

Saúde | 04 de Dezembro de 2025 as 10h 58min
Fonte: Isto é

Foto: Reprodução

A doença renal crônica (DRC) atinge cerca de 14% da população adulta e já é a nona maior causa de morte no mundo, segundo um estudo publicado na revista científica The Lancet. Somente em 2023, mais de 1,48 milhão de pessoas morreram por consequência da doença globalmente, segundo o levantamento.

O estudo analisou dados de 204 países, incluindo o Brasil, entre os anos de 1990 e 2023, sendo conduzido pelo hospital americano NYU Langone Health, em parceria com a Universidade de Glasgow e o Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 10% da população sofre com o problema, mas boa parte não descobre tão cedo. “É uma doença silenciosa, muitos pacientes podem não perceber sinais e sintomas até as fases avançadas”, alerta o nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), José Andrade Moura Neto.

Em geral, a DRC acontece quando os rins perdem a capacidade de fazer suas funções essenciais, de maneira progressiva e irreversível, como filtrar toxinas, eliminar o excesso de água, equilibrar minerais essenciais e controlar a pressão arterial. Quando não identificada e tratada, ela pode evoluir para a falência dos rins, exigindo diálise ou transplante renal, aumentando as chances de doenças cardiovasculares e o risco de morte.

DRC: uma doença em ascensão

A doença renal crônica está crescendo no mundo e no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de atendimentos na Atenção Primária à Saúde por DRC aumentaram cerca de 152% entre 2019 e 2023. Em 2024, mais de 42 mil pessoas estavam na fila para o transplante de rim, um procedimento que pode ser necessário nos estágios mais avançados da doença.

Esse cenário de aumento da DRC pode estar relacionado à melhoria do acesso à saúde e consequentemente, no diagnóstico da doença, mas também ao aumento dos fatores de risco, como explica José Osmar Medina Pestana, superintendente do Hospital do Rim da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Está crescendo porque a população está envelhecendo, assim há mais pessoas com sedentarismo, diabetes, obesidade e hipertensão, condições que favorecem a chance de desenvolver a doença renal crônica”, diz o especialista.

Causas e fatores de risco

A doença renal crônica não tem uma causa específica, mas está altamente associada à obesidade e às doenças cardiovasculares, como explica o presidente da SBN, José Andrade Moura Neto: “A obesidade aumenta a pressão arterial, a resistência à insulina e a inflamação, todos fatores que sobrecarregam os rins. Já as doenças cardiovasculares reduzem a perfusão renal (fluxo sanguíneo dos rins) e aceleram a perda de função de tais órgãos. Na prática, quem tem um desses problemas têm alto risco de desenvolver a doença renal crônica”.

A pressão alta também é um fator de risco importante. De acordo com o Censo de Diálise da SBN, uma em cada três pessoas com doença renal crônica em diálise tem a elevação da pressão arterial como causadora da doença. Isso acontece porque, assim como já dito em relação a outros problemas cardiovasculares, a hipertensão deixa os vasos sanguíneos dos rins mais espessos e rígidos, causando a redução da irrigação sanguínea e a perda progressiva da função renal.

Além disso, a doença renal crônica também está relacionada à presença de:

  • Diabetes

  • Tabagismo

  • Uso frequente de anti-inflamatórios

  • Infecções urinárias de repetição

  • Idade acima de 60 anos

  • Doenças genéticas

Primeiros sintomas podem levar anos para aparecer

Por ser uma doença de progressão lenta, pode demorar para que o organismo manifeste algum tipo de sintoma. “Até a função renal chegar na capacidade de 30%, a pessoa não vai ter sintomas. E o tempo para chegar nesse estágio pode variar entre 10 e 15 anos ou até mais”, ressalta Pestana, da Unifesp.

Segundo o especialista, entre os primeiros sinais estão a pressão alta, que pode causar dor de cabeça, e a vontade de urinar várias vezes à noite. À medida que a função renal piora, com o tempo, os pacientes podem sentir fadiga, fraqueza, náuseas e incômodo ao urinar.

E como identificar a doença sendo assim? O diagnóstico da doença renal crônica pode ser feito por meio de dois exames: o de urina, para detectar a presença de albumina na urina, e o exame de creatinina, feito pela coleta de sangue. Os testes podem ser incluídos em check-ups de rotina, especialmente para quem tem algum fator de risco.

Como é o tratamento da DRC?

Por se tratar de uma doença crônica, de progressão lenta, a DRC exige um cuidado contínuo e acompanhamento médico ao longo da vida. No geral, o tratamento inclui:

  • Controle da pressão arterial e do diabetes

  • Uso de medicamentos para proteger os rins

  • Redução de proteína da urina

  • Estilo de vida saudável

  • Evitar anti-inflamatórios e outros medicamentos que possam prejudicar os rins (nefrotóxicos)

  • Acompanhamento com nefrologista

Em estágios mais avançados, pode ser necessário a realização de tratamentos que substituam a função dos rins, como hemodiálise, diálise peritoneal, hemodiafiltração e até mesmo o transplante renal.

Desafios no tratamento

Apesar do serviço de diálise estar disponível no SUS, o acesso é ainda um obstáculo, na opinião do presidente da SBN, José Andrade Moura Neto: “um dos principais desafios no tratamento da doença renal crônica no Brasil é a fila crescente por diálise em alguns estados, reflexo de subfinanciamento do serviço no SUS”, afirma o especialista.

Segundo um levantamento recente da SBN, o Brasil tem cerca de 172 mil pacientes em diálise, sendo 79% deles atendidos pelo SUS, e ao menos outros 1.095 pacientes aguardando vagas em clínicas públicas para realizar o tratamento em todo o país.

O estudo aponta que a principal causa das filas é a defasagem de 38% no custeio da diálise. Considerando os gastos com materiais, estrutura, utilidades e impostos, o custo operacional de uma sessão de hemodiálise no Brasil é de R$ 393. O investimento do SUS para cada sessão é, no entanto, de R$ 240, 97, gerando mais filas e espera para o tratamento.

Além das filas para a diálise, o presidente da SBN destaca também a própria falta de conhecimento da população sobre a DRC e o diagnóstico tardio como obstáculos para o combate à doença.

A prevenção inclui ter um estilo de vida mais saudável

A prevenção da doença renal crônica é feita pelo controle dos fatores de risco: “é essencial controlar a pressão alta e a diabetes, que são responsáveis por cerca de 60% dos casos”, alerta o presidente da SBN. Ter um estilo de vida saudável, portanto, o que inclui evitar o tabagismo, manter o peso adequado e praticar atividade física, é uma das maneiras mais eficazes de prevenir a DRC.

Além disso, é importante realizar anualmente os exames que detectam a doença renal crônica. Em um cenário de crescimento constante da doença, o diagnóstico precoce e a prevenção continuam sendo as principais ferramentas para mudar essa trajetória.