Sinop
Após 8 dias na UTI do Hospital Regional, morre Maria Eugênia
Família da paciente teve que recorrer à Justiça, por duas vezes, para conseguir um leito de UTI
Saúde | 05 de Julho de 2023 as 12h 21min
Fonte: Jamerson Miléski
Faleceu as 9h40 min desta quarta-feira Maria Eugênia da Silva Souza, de 64 anos de idade. Moradora de Sinop há 42 anos, ela deu entrada na UPA 24h do município no dia 22 de junho com fortes dores de cabeça e pressão alta. Após 12h de observação ela teve a alta decretada pela médica responsável e, no dia seguinte, retornou a unidade quando foi diagnosticada com um AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico. Cientes da gravidade, os médicos relataram que Maria precisava ser encaminhada para um leito de UTI, com especialização em neurologia. Sem vagas disponibilizadas pelo Estado a família recorreu à justiça, mas o pedido foi negado pelo juiz plantonista Mário Machado, que considerou que a paciente já estava sendo atendida. Após um recurso junto ao Tribunal de Justiça, a família conseguiu a vaga. No dia 26 de junho ela foi transferida para o Hospital Regional de Sinop.
O quadro parecia estável até à tarde desta terça-feira (4), conforme reportagem do GCNoticias - clique aqui para ler.
Mas por volta das 09h40min, Maria veio a óbito. A morte foi informada pela família, que está em luto. Maria tinha 6 filhos.
Caso Maria Eunice
Os primeiros sintomas de Maria Eunice apareceram por volta das 7h da manhã de quinta-feira (22), em sua casa localizada um sítio na Gleba Mercedes, há 100 km do centro de Sinop. Sozinha, ela caminhou até um vizinho onde pediu ajuda para chegar até a UPA 24h. Deu entrada na unidade por volta das 9h30 - estava consciente, andando e falando, mas com a pressão bastante alta. Recebeu atendimento médico, sendo encaminhada para soroterapia. Já havia passado da meia noite quando a médica Maria de Fátima de Melo Mendes avaliou novamente a paciente e decidiu dar alta. Foi nessa hora que a médica disse para Ezequiel levar sua mãe para casa e dar “uma sopinha”.
A médica prescreveu apenas HCTZ 25 (Hidroclorotiazida 25mg), medicamento com efeito diurético, comumente utilizado no tratamento de pressão alta. Maria Eunice foi levada para a casa da filha, no Bairro Boa Esperança. Na manhã de sexta-feira (23), Maria já estava respondendo menos, os sintomas haviam se agravado e ela foi levada novamente para a UPA, por volta das 9h da manhã. Outra médica avaliou os exames da mãe e se assustou em saber que a paciente foi mandada para casa.
Uma tomografia de crânio foi realizada ainda na sexta-feira. O exame apontou um possível AVC (Acidente Vascular Cerebral), com hemorragia dentro do crânio. O diagnóstico foi inicialmente apontado pela médica Juliana Denardim, no sábado (24) e referendado pelo médico José E.S. Neto no dia 25. Os médicos, agora, afirmavam que Maria Eunice precisava urgentemente ser internada em um leito de UTI e passar por uma neurocirurgia, com eminente risco de morte e de sequelas permanentes.
A família é informada pela central de regulação que não existem vagas de UTI disponíveis. Desesperados, os filhos recorrem a Defensoria Pública. Baseado nos laudos médicos que apontavam urgência com risco de morte, a Defensoria ingressou com o pedido no Fórum da Comarca de Sinop à meia noite de sábado (24), para uma UTI, fosse na rede pública ou privada.
Por volta das 10h de domingo (25), o juiz de plantão Mário Augusto Machado negou o pedido, afirmando que Maria Eunice já se encontrava em um leito de observação na UPA 24h, que já havia passado por um exame de tomografia e, portanto, a paciente estava sendo devidamente atendida. O juiz deu ainda prazo de 72 horas – ou seja, 3 dias – para o Estado e a prefeitura prestarem informação sobre o caso.
A Defensoria recorreu e a decisão foi revertida pelo Tribunal de Justiça. Ainda no domingo, por volta das 16h, uma liminar expedida em segunda instância dava prazo de 24 horas para transferir Maria Eunice para um leito de UTI. Apenas na segunda-feira (26), as 20h14, a paciente deu entrada no Hospital Regional de Sinop – ou seja, 4 dias e 11 horas depois de entrar na UPA com um AVC.
O médico Responsável Técnico da UPA relatou à secretaria de Saúde que desconsidera a alegação de erro no diagnóstico médico na primeira entrada da paciente na unidade, afirmando que não houve “nenhuma irregularidade de protocolo ou de conduta médica dos profissionais que atenderam a paciente”.
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