Tarifaço
Saiba como o tarifaço de Trump pode beneficiar o agronegócio brasileiro
Embora seja cedo para determinar o impacto no setor, é certo que os consumidores americanos arcarão com a conta final
Rural | 04 de Abril de 2025 as 11h 03min
Fonte: Noticias R7

Após o tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump, que taxou alguns produtos de todo o mundo, o Mundo Agro foi descobrir o que pode afetar ou beneficiar o agronegócio brasileiro.
Para o professor da FGVAgro, Felippe Serigati, ainda é cedo para saber quais serão os impactos no segmento. Os EUA importam do Brasil café, carne bovina, suco de laranja e etanol.
“Vamos pensar então nos produtos que a gente exporta para os Estados Unidos. A tarifa é de 10%, mas a gente não tem grandes concorrentes nem mesmo dentro dos Estados Unidos”, ponderou Serigati.
Os EUA não têm grandes cafezais. Se eles não comprarem do Brasil com a taxa de 10%, será que irão comprar do Vietnã, que teve a taxa maior? Ou da Colômbia com a mesma taxa? “A gente está na tarifa mínima. Então, o resultado disso é que o consumidor americano vai pagar mais caro para ter acesso ao mesmo café”, explicou Serigati.
O mesmo acontece com o suco de laranja. O professor comentou que o Brasil e os EUA já foram grandes concorrentes. “Mas os pomares da Flórida reduziram muito de tamanho e de dimensão. Então, hoje, a produção dos Estados Unidos de laranja é bem limitada. Eles dependem do suco de laranja brasileiro para abastecer seu mercado interno”, disse Serigati.
O cenário de importação americana de carne bovina é o mesmo. “Exportamos bastante carne bovina para os Estados Unidos, nosso segundo maior e principal destino, depois da China. Isso ocorre porque o rebanho dos Estados Unidos está numa situação muito limitada, com o menor rebanho bovino desde os anos 1970”, comentou o professor.
No etanol, há mais uma concorrência entre Brasil e EUA. “A gente exporta etanol para a Califórnia. E é o etanol que tem uma maior redução de emissão de carbono equivalente. E essa redução o milho não consegue atingir. Tem que ser o etanol de cana. Mas nem todo etanol de cana consegue fazer isso. São algumas usinas aqui no Brasil que estão certificadas. Então, o resultado é que esse etanol vai chegar mais caro lá na Califórnia. Não tem para onde fugir”, explicou Serigati.
Ele reafirma que o impacto principal será sobre o consumidor americano, que vai pagar mais caro. “Brasil e os EUA são competidores por produtos agropecuários no mercado internacional. Então, é a verdadeira retaliação. A China vai retaliar. A Europa vai retaliar. O universo agro dos EUA é uma base de apoio do Trump”, disse Serigati.
O professor acredita que essa situação pode abrir oportunidades para o Brasil. Para ele, quem deve sentir os impactos das medidas de Trump é a indústria brasileira.
“Porque a China, principalmente, e as economias do Leste Asiático precisam do mercado americano. E os produtos deles vão chegar mais caros para o consumidor americano. E aí sim, essas economias podem sentir esse impacto. Vender menos manufatura para os Estados Unidos. Só que eles precisam desovar a sua manufatura. E podem vir para outros mercados de maneira mais agressiva. Entre esses mercados, certamente, está o Brasil. Isso tem acontecido, por exemplo, com os carros elétricos. Estamos vendo as ruas brasileiras sendo inundadas por carros elétricos de origem chinesa. E por quê? Porque há uma produção importante da China, uma indústria que precisa de demanda. Uma demanda que estaria nos Estados Unidos e na União Europeia, mas está encontrando dificuldades”, disse Serigati.
E, para finalizar, perguntamos ao professor o que esperar então. “A gente tem que esperar para ver como essas peças vão se estabilizar nesse tabuleiro. Mas o que devemos estar mais preocupados é justamente com a indústria. Não tanto pelos Estados Unidos, mas pelos seus efeitos de segunda ordem. Qual será a reação da China, dos produtores de aço asiático, com relação a essa tarifa mais cara para acessar o maior mercado do planeta, que é o mercado consumidor norte-americano?”, finalizou Serigati.
Depois do bate-papo com um dos professores renomados da FGVAgro, com quem tive o prazer de ter algumas aulas, conversei com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles.
Ele reiterou que o Brasil precisa tomar decisões certas e ter planejamento a médio e longo prazos. Enfatizou que não o fazemos e que precisamos usar as jazidas minerais do país para os fertilizantes.
“Hoje, nós importamos 90% desses produtos e, se conseguirmos produzir aqui, vamos reduzir o custo da produção dos alimentos, tornando-os mais acessíveis no mercado internacional e, inclusive, abaixando os preços da alimentação internamente”, ressaltou Tirso.
Na opinião dele, o governo americano deveria dialogar antes de tomar decisões como essas, que mexem com toda a balança comercial. “Sabemos que os Estados Unidos têm uma dívida interna muito grande, como muitos outros países, e é um problema que não pode ser resolvido da noite para o dia, com uma mudança tão radical. Se não houver diálogo, haverá um estrangulamento da economia global”, reiterou Tirso.
Sobre a situação do agronegócio brasileiro, Tirso avalia que temos uma vantagem neste momento. “Temos safras recordes, o estoque de alimentos no mundo está reduzido e as pessoas precisam se alimentar. No nosso caso, 50% do Produto Interno Bruto (PIB) vem do agro e haverá a abertura de novos mercados para os nossos produtos”, explicou ele.
Um problema americano diante da situação, que foi criado por Trump, é o seguinte: “Se eles também não conseguem exportar, terão dificuldades em comprar a quantidade que vinham comprando, criando insegurança alimentar”, comentou Tirso.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reafirmou, em nota, que, apesar do acréscimo, o Brasil estará em uma posição melhor se comparado a outros casos, como os dos EUA, que importam produtos de mercados que terão taxas maiores, como é o caso dos bens da União Europeia, que receberão sobretaxas de 20%.
A CNA destacou ainda que é precipitado avaliar eventuais perdas ou ganhos para o Brasil com o anúncio das tarifas recíprocas pelos EUA, visto que a alteração tarifária afeta todos os países do mundo, incluindo grandes exportadores de produtos agropecuários. Por fim, a CNA defende o livre comércio por meio de acordos que diversifiquem mercados, aumentem a renda dos produtores e ampliem o acesso de produtos agropecuários ao consumidor.
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