Fluxo comercial
Quase metade das exportações do agro aos EUA segue taxada
Novas salvaguardas europeias não integram acordo nem se sustentam, diz CNA
Rural | 10 de Dezembro de 2025 as 12h 17min
Fonte: Globo Rural

Quase metade da pauta exportadora de produtos agropecuários do Brasil para os Estados Unidos continua sobretaxada em 40% mesmo com recuos de Donald Trump em novembro. São itens como pescados, mel, sebo bovino, uvas frescas e álcool etílico. Se a lista de exceções às tarifas não for ampliada, o impacto no fluxo comercial em 2026 pode chegar a US$ 2,7 bilhões, de acordo com estimativas apresentadas nesta terça-feira (9/12) pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O impacto da manutenção das sobretaxas ainda é expressivo porque a cesta de produtos sob o tarifaço tem uma dependência maior do mercado americano e não é possível redirecionar as exportações a outros mercados. No caso da venda de tilápias do Brasil, por exemplo, 97,4% do valor exportado em 2024 foram para os EUA.
“Cerca de 45% da pauta agropecuária para os EUA, em termos de valores exportados em 2024, ainda segue com tarifas adicionais. Se não mudar, projetamos impacto negativo de US$ 2,7 bilhões em 2026”, disse a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, em coletiva virtual de imprensa.
Também está no radar da CNA o potencial impacto dos acordos negociados pelos EUA com demais parceiros comerciais, como Japão, Reino Unido, Indonésia e Vietnã. Os americanos seguem em conversas com a China na mesma linha. Essas medidas podem afetar o mercado agrícola em geral e atingir as exportações do Brasil em alguma medida, disse Mori.
“Os acordos firmados preveem redução tarifária, compromissos de investimentos e de compras de produtos americanos, na maioria agropecuários. Isso tem muita relevância para nós”, afirmou.
O Japão, por exemplo, se comprometeu a ampliar em 75% a compra de arroz dos EUA. O Reino Unido firmou compromisso de comprar US$ 700 milhões em etanol e criou cota específica para a carne bovina americana. A Indonésia eliminou tarifas de 99% dos produtos agropecuários dos Estados Unidos e se comprometeu a comprar US$ 4,5 bilhões. No Vietnã, o acordo prevê aquisição de US$ 2,9 bilhões de produtos agrícolas americanos.
“Isso impacta o mercado agrícola como um todo. Como exportamos para esses países, sempre que os EUA fazem acordo e aquele país faz compromisso, ele deixa de comprar de algum mercado. É importante acompanhar o impacto na nossa pauta exportadora”, completou Mori.
A diretora ressaltou que as exportações do agronegócio brasileiro cresceram 1,7%, para mais de US$ 155 bilhões no acumulado de janeiro a novembro de 2025 em comparação com igual período do ano passado, mesmo com as restrições impostas no comércio internacional. A pauta exportadora brasileira é puxada pelos embarques de soja em grão, carne bovina, café verde, açúcar e celulose.
As principais altas nas exportações são de carne bovina e café, dois produtos afetados pelo tarifaço dos EUA entre agosto e novembro. “Houve antecipação grande de embarques até agosto e isso compensou o tarifaço que aconteceu de agosto a novembro”, disse Mori. No acumulado do ano, o comércio com os americanos teve redução de 4%, saindo de R$ 10,9 bilhões para R$ 10,5 bilhões.
A China ampliou em quase US$ 5 bilhões as compras e continua como principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro, com 33,5% de participação nesse mercado. Na sequência estão a União Europeia (14,7%), EUA (6,7%), Vietnã (2%) e Índia (1,9%).
União Europeia
A diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, afirmou que as salvaguardas agrícolas aprovadas pelo Comitê de Comércio Internacionais da União Europeia ontem estão fora do escopo negociado no acordo do bloco europeu com o Mercosul, que deverá ser assinado no próximo dia 20, não respeitam as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e não se “sustentam”.
A medida aprovada pelos europeus, vista como sinal favorável para a concretização do acordo por negociadores envolvidos no processo, define que poderá haver suspensão temporária de preferências tarifárias sobre as importações agrícolas dos países do Mercosul caso essas importações prejudiquem os produtores da UE.
“O acordo contempla salvaguardas segundo o que rege a OMC, que não é o que a UE fez agora. O acordo também prevê o reequilíbrio de concessões, que foi algo levado pela CNA ao governo”, disse Mori.
Mesmo assim, ela disse que o movimento preocupa. “Temos preocupação com os mecanismos de salvaguarda propostos. Ontem teve essa mudança, para que o mecanismo seja ainda mais restrito e danoso para as exportações do bloco [sul-americano], como as exportações do Brasil. Precisamos acompanhar”, indicou. “Nossa preocupação é que o acordo realmente se transforme em maior acesso dos produtos ao mercado. As salvaguardas geram preocupação”, destacou.
Segundo ela, a medida aprovada é “absolutamente interna, não respeita as normas da OMC e não é negociada no âmbito do acordo” entre Mercosul e UE. “O que será assinado, provavelmente, no dia 20 é o que foi negociado. Eles não vieram perguntar se poderia ou não [aplicar novas salvaguardas]. É algo interno deles [europeus] que ainda tem algumas instâncias, no formato aprovado ontem preliminarmente, e que não se sustenta baseado no que está no capítulo de salvaguardas do acordo negociado”, garantiu Mori.
A dirigente explicou que a proposta aprovada tem “gatilhos e medidas de salvaguardas” diferentes do que está previsto no acordo de livre comércio. “Não vieram perguntar para o Brasil, Paraguai, Uruguai, se concordamos ou não. O texto do acordo finalizado no ano passado não contempla nada disso. O que existe no acordo é o que está lá”, disse.
Segundo ela, a aprovação é uma resposta aos agricultores europeus mais resistentes ao acordo. “A questão que estão colocando agora é para garantir que seja assinado no dia 20 e justificam por conta de resistência maior, o medo de aumento de importações de produtos agropecuários sensíveis aos europeus”, completou.
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