'RG' Bovino
Como o Brasil tenta destravar rastreabilidade de bovinos após duas décadas de atraso
Plano prevê que todo o rebanho nacional esteja identificado até o final de 2032
Rural | 12 de Dezembro de 2025 as 11h 34min
Fonte: Globo Rural

Passadas mais de duas décadas desde o anúncio do Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (Sisbov), o Brasil ainda não conseguiu implementar a rastreabilidade bovina de forma ampla e funcional. Pressionado por mercados exigentes, o país tenta agora colocar em prática o que já deveria estar consolidado.
O Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (Pnib), lançado em dezembro do ano passado pelo governo federal, prevê que a totalidade do rebanho brasileiro - calculada em 238 milhões de cabeças - esteja identificada até o dia 31 de dezembro de 2032. Na prática, será como se cada bovino ou búfalo tivesse o seu próprio "RG". Atualmente, a rastreabilidade dos animais no Brasil se dá por lotes.
Qualquer bovino ou bubalino nascido no Brasil deverá ter todas as fases de sua vida registradas em brincos de identificação individual. Desde o nascimento, passando por eventuais tratamentos de saúde, movimentações, até o envio para o abate, tudo estará identificado por meio de um código único, formado por 15 dígitos.
As duas primeiras etapas são dedicadas ao desenvolvimento do sistema informatizado. A rastreabilidade propriamente dita está prevista para começar de 1º de janeiro de 2027 a 31 de dezembro de 2029, com a identificação de bovinos e búfalos que passarem por manejo sanitário (vacina contra brucelose) e forem incluídos em protocolos privados.
Na quarta e última etapa, que se encerra no dia 31 de dezembro de 2032, deverão ser obrigatoriamente identificados todos os animais que, independente do motivo, transitem em território nacional.
Os principais argumentos do governo federal para a implementação do programa estão relacionados à capacidade de resposta a surtos epidemiológicos e à tentativa de ampliar as exportações para mercados exigentes.
Caso os animais não estejam identificados no dia 1º de janeiro de 2033, antes da primeira movimentação, será configurada infração de trânsito de animais.
"As normas gerais, de alcance nacional, serão elaboradas por este Ministério (da Agricultura). No entanto, as regras específicas de trânsito, incluindo eventuais penalidades, são de competência de cada Estado", informou a Pasta, por meio de sua assessoria.
Estados se antecipam
Antes mesmo do lançamento do plano nacional, alguns Estados se anteciparam e deram os primeiros passos para rastrear o gado.
No Rio Grande do Sul, o tema já havia sido discutido na década passada. Desde 2017, o Estado contava com um sistema de rastreabilidade individual em propriedades leiteiras, visando principalmente abrir mercados para a exportação de leite em pó.
Em 2023, uma iniciativa começou a ser colocada em prática em cerca de 400 animais de corte em uma propriedade pertencente ao governo do Estado, em Hulha Negra, na Campanha.
Em novembro deste ano, a Secretaria da Agricultura (Seapi-RS) disponibilizou um formulário para a adesão voluntária de produtores. O objetivo é trabalhar com 50 propriedades para, então, verificar a necessidade de melhorias visando a implantação do plano estadual.
Segundo o diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal, Francisco Nunes Lopes, a ideia é finalizar o estudo em maio do ano que vem, para então dar início ao ingresso de propriedades voluntárias de forma ampla.
"As ferramentas e a curva de aprendizado na execução prática têm sido muito positivas para a gente, já de imediato, verificar necessidades de melhorias no sistema", explica.
O modelo de rastreabilidade segue as diretrizes do programa nacional. Em uma das orelhas, está localizado o brinco com um número visual impresso; na outra, o bottom com um chip com a tecnologia de radiofrequência (RFID). O chip é "lido" por um bastão de leitura, o que facilita o manejo.
Abates em andamento
Adiantado em relação a outros Estados, o Pará efetuou em agosto deste ano o primeiro abate de animais identificados pelo sistema de rastreabilidade bovídea - no caso, um lote de 20 machos oriundos de uma fazenda de Marabá, destinado ao frigorífico JBS/Friboi.
Até meados de novembro, o Estado contava com 304 mil animais identificados em um rebanho de 26 milhões de cabeças. O prazo para a entrada em vigor da obrigatoriedade, porém, foi prorrogado na última semana por um decreto do governador Helder Barbalho, que atendeu a uma demanda do setor produtivo. A identificação dos animais poderá ser feita até 31 de dezembro de 2030. Na versão inicial, a data limite era janeiro de 2027.
A política de rastreabilidade no Pará foi implementada por meio de um decreto de 2023.
"Somos o segundo maior rebanho, mas temos índices zootécnicos que estão muito abaixo da média nacional", resume a veterinária Barbra Lopes, coordenadora de Rastreabilidade e Cadastro Agropecuário da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará).
O percentual de abate de animais até 24 meses, por exemplo, é inferior ao índice do Brasil.
Uma das diretrizes da política pública é apoiar os pequenos produtores. Para aqueles com até 100 animais, os brincos e bottons serão doados pelo Estado. No caso dos demais, o custo por animal está estimado entre R$ 8,50 e R$ 11,50.
O exemplo que vem do Centro-Oeste
Mesmo antes de a rastreabilidade obrigatória entrar em vigor, um grupo de pecuaristas do Centro-Oeste se uniu para difundir informações sobre boas práticas no campo.
Hoje, cerca de 70 produtores fazem parte da iniciativa denominada Carne do Futuro - a maioria deles localizada nas regiões norte, sul e noroeste de Mato Grosso.
Uma vez que o principal objetivo do grupo é trabalhar a comunicação com o público consumidor de carne, a identificação individual do rebanho surge como um ponto fundamental.
"Para podermos passar a informação para a população, precisamos ter como fazer a validação dessas informações. E uma das formas para fazer isso é tendo a rastreabilidade", afirma Luciano Resende, um dos idealizadores do grupo, proprietário de um rebanho de mil cabeças no município de Pedra Preta, no sul do Mato Grosso.
O rebanho dos produtores associados soma cerca de 700 mil cabeças, das quais Resende calcula que 75% já estejam rastreadas. Os abates já estão em andamento. A raça predominante é o Nelore, seguida pelo Angus, que tem ganhado espaço na região. Cerca de 90% da produção é direcionada à exportação.
O mercado, porém, oferece um diferencial pequeno para compensar a rastreabilidade, o que faz com que a conta fique "muito apertada" para o produtor, segundo Resende.
Em novembro, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou a lei que cria um sistema estadual de rastreabilidade socioambiental para todo o rebanho bovino e bubalino.
O modelo, será implantado de forma escalonada a partir de janeiro de 2026, com suporte técnico para propriedades de diferentes portes, com foco na inclusão gradual dos produtores no sistema.
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