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Maior comprador

China diz que soja brasileira tem pouca qualidade e quer exigir mais

País asiático protocolou documento na OMC requerendo três mudanças no grão

Rural | 27 de Julho de 2022 as 09h 05min
Fonte: Victor Faverin - Canal Rural

Foto: Pixabay/Montagem: Canal Rural

A China é a maior compradora da soja brasileira, mas parece não estar satisfeita com o grão que recebe. Especialistas consideram a commodity agrícola nacional como a melhor do mundo, com atributos superiores à produzida em seu principal concorrente, os Estados Unidos.

Mesmo assim, documento formulado pela Administração Estatal de Regulamentação do Mercado e a Administração de Padronização da República Popular da China e protocolado na Organização Mundial do Comércio (OMC), estabelece que a soja importada pelo país asiático tenha maiores teores de óleo e de proteína e menor de umidade.

Se a proposta comercial for firmada entre o país asiático e seus fornecedores – o que ainda não tem prazo para acontecer – processos de toda a cadeia da soja serão fortemente impactados e o produtor terá de se desdobrar para atendê-los.

Antes de tudo, vale ressaltar que os requisitos da China tendem a substituir o padrão vigente (GB 1352/2009), que versa a respeito da integridade física dos grãos. A nova proposta ainda está em discussão, capitaneada, no Brasil, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com participação técnica da Embrapa e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

Como mostra a Tabela 1 (abaixo), a proposta é que os grãos sejam enquadrados em cinco tipos, de acordo com o percentual de perfeição. Assim, começa-se no grupo 1, com 95% ou mais de exemplares ideais, até o grupo 5, com 75% ou mais de amostras impecáveis. O documento também estabelece a categoria “fora de tipo”, onde encaixam-se espécimes inferiores à quinta categoria.

Teor de óleo e proteína

Além do aspecto físico do grão, os requerimentos chineses abrangem, também, a qualidade. Desta forma, a exigência é que a soja seja enquadrada em três grupos de teor de óleo e de proteína. Quanto ao primeiro atributo, variam entre 22% a 20%. A respeito da proteína, diferem de 44% ou mais a 40% ou mais. Veja mais detalhes nas tabelas abaixo.

O problema é que, a depender de testes feitos no estudo “Análise de aspectos econômicos sobre a qualidade de grãos de soja no Brasil”, de 2018, da Embrapa, atingir tais índices será um grande desafio.

Nas safras brasileiras analisadas na pesquisa (2014/15 a 2016/17), o teor médio de proteína foi de 36,69%. A pesquisa foi feita em dez estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Tocantins, que, juntos, são responsáveis por cerca de 93% da produção nacional.

O estudo também fez levantamento sobre os grãos avariados, notando que grande parcela da soja colhida nas temporadas estudadas excedeu a tolerância de 8% de exemplares defeituosos permitida por lei. Algumas regiões apresentaram amostras de até 30% com avarias, que representam a soma dos mofados, ardidos, queimados, fermentados, imaturos, chochos, germinados e danificados por percevejo.

 

Superioridade brasileira

Ainda que atingir os patamares requisitados pela China pareça longínquo, o Brasil leva clara vantagem em relação ao seu principal concorrente, os Estados Unidos. Enquanto o teor médio de proteína da soja nacional nas três safras analisadas beirou os 37%, o da soja norte-americana foi de 34,7%, entre 2006 e 2015, caindo para 34,1% na temporada 2017, segundo a United States Soybean Export Council.

Desta forma, o estudo chegou à conclusão que cada tonelada brasileira de soja exportada tem 2% a mais de proteína se comparada ao grão norte-americano. Por aqui, nas 903 amostras analisadas, a porcentagem média da substância variou de 32,03% a 41,35%. O estado que apresentou a maior média no teor foi a Bahia, com 38,16%, e o Paraná foi o com a menor taxa média: 36,74%.

Atendimento aos pedidos

Para o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Ricardo Arioli, baixar o índice de umidade do grão de 14% para 13% é a primeira dificuldade, mas pode acabar trazendo benefícios ao produtor.

“Essa questão não é de todo ruim porque gera uma economia no frete, já que se envia menos água e mais produto. Outra vantagem é no armazenamento: quanto mais seco estiver o grão, mais dificuldade os insetos e as pragas têm para fazer o ataque”, considera.

No entanto, Arioli ressalta que seria necessário um acordo entre as tradings e os produtores. “Atualmente, o padrão é 14% de umidade. Se o produtor entrega acima desse índice, sofre desconto, mas não recebe nada além se a umidade for menor do que este padrão. A soja perde 1,15% de peso para cada ponto percentual abaixo dos 14% de umidade. Se formos baixar o percentual de umidade para 13%, teria de haver uma compensação de preço para o produtor”.

Outro ponto central das demandas chinesas é quanto ao teor de óleo. O presidente da Comissão da CNA salienta que o Brasil tem plena capacidade de atender ao requerimento, inclusive se enquadrando no grupo 1. “Não há problemas nesse ponto porque já temos este padrão. Na safra 2017/18 de Mato Grosso, por exemplo, o grão teve 22,6% de óleo em média”, detalha.

 

Maior desafio da soja

Teor médio de proteína da soja brasileira fica em torno de 37%

Para Arioli, o desafio maior reside no índice de proteína. “Ninguém no mundo tem os níveis que estão sendo requeridos”, afirma. “Já estive na China algumas vezes em reuniões no ministério da agricultura chinês com outros países produtores de soja, como Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá, e os chineses sempre reclamaram da qualidade da soja”, declara.

No entanto, conforme ele, as queixas eram mais voltadas às questões de impurezas que, geralmente, eram provenientes do próprio navio e não da produção da soja em si. “Apesar disso, também diziam que o teor de proteína do grão estava cada vez mais baixo. A tendência, ao que parece, é que quando aumenta-se a produtividade da variedade, a proteína é diminuída”, considera.

A respeito deste assunto, fontes do setor ouvidas pela reportagem endossam a opinião de Arioli de que nos últimos 40 anos, empresas de melhoramento genético têm priorizado a produtividade, característica que tem uma relação inversa com o teor de proteínas.

Por isso, quanto mais soja se produz por hectare, menor o teor de proteínas que estará presente no grão. Conciliar essas duas importantes características é um desafio em nível mundial para os pesquisadores que desenvolvem variedades de soja.

Desta forma, é importante que se diga, também, que além da questão genética, os fatores ambientais merecem atenção, como a disponibilidade de nitrogênio. Esse elemento, acumulado durante o ciclo da soja, é utilizado no período de enchimento de grãos. Entre as fontes de nitrogênio que a planta utiliza, a principal é o da fixação biológica, que é dependente de água. Portanto, as condições climáticas durante o cultivo da soja interferem na concentração de proteína nos grãos.