Especial Aniversário de Sinop
O início de tudo e a primeira década de Sinop
Nesse primeiro texto da série vamos abordar o passado antigo da região e os primeiros anos da nova cidade
Política | 13 de Setembro de 2025 as 00h 11min
Fonte: Jamerson Miléski

Muito antes da Colonização, já havia vida humana no Norte de Mato Grosso. A região, à margem direita do Rio Teles Pires, onde foi estabelecida a cidade de Sinop, é ocupada por seres humanos há mais de 9 mil anos. Escavações em sítios arqueológicos, realizadas durante a implantação de duas usinas hidrelétricas na região (em Sinop e Colíder), encontraram vestígios de civilizações primitivas datados como sendo do ano de 7.180 a.C (antes de Cristo). Os artefatos catalogados apontam a presença dos povos originários na margem direita do Rio Teles Pires, entre os rios Caiabi e Tartaruga até o ano de 1830.
Mas a colonização e ocupação do território como conhecemos é o resultado de 3 planos de expansão e exploração implantados pelo Governo Federal. Em 1940, o presidente Getúlio Vargas, durante o regime que ficou conhecido como Estado Novo, lança a Marcha para o Oeste – política pública que tinha como objetivo integrar a região Centro-Oeste, ocupando os vazios demográficos como medida para diluir os adensamentos na região litorânea brasileira e ocupar o território nacional de forma mais distribuída.
Através da Marcha para o Oeste iniciou-se a ocupação com projetos de colonização de territórios que posteriormente viriam a ser oficializados como Amapá, Roraima e Rondônia. O movimento também arrastou colonizadores para o Oeste do Paraná, formando cidades como Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama.
Motivados pelo movimento de ocupação, os amigos Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho fundam em 1948 a Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná, de onde deriva a sigla Sinop. Nesse período Ênio foi prefeito nomeado do município de Presidente Venceslau e posteriormente presidente da Câmara do município.
Junto com João Pedro Moreira, eles compram glebas no Noroeste do Paraná e iniciam com a fundação de cidades, atraindo pessoas de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná para ocupar os territórios abertos. A empresa Sinop fundou as cidades de Terra Rica, Formosa do Oeste, Iporã, Ubiratã e Jesuítas, entre 1954 e 1961.
Enquanto a Colonizadora Sinop acumulava experiência e capital com os projetos no Paraná, os irmãos Villas Bôas percorriam o Norte do Mato Grosso com a Expedição Roncador-Xingu. A missão de exploração do território foi sugerida à Vargas pelo primeiro-ministro da França, Paul Reynaud, como forma de descobrir regiões desconhecidas do Brasil Central e da Amazônia que poderiam ser ocupadas por populações excedentes da Europa.
Os irmãos Villas Bôas acabam pervertendo a missão, cunhada para demarcar áreas para possíveis novos povoados, convertendo em um apurado trabalho de identificação e contato pacífico com os povos indígenas que ocupavam o território. Conta no relatório da expedição que em 1945 os irmãos entram em contato com duas tribos, Kayabi e o Panará, estabelecidos na margem direita do Rio Teles Pires, entre o Rio Verde e o Rio do Peixe – onde está parte do território que posteriormente a Colonizadora Sinop estabeleceria seu projeto de colonização.
Em 1961 é estabelecido o Parque Nacional do Xingu, para onde os irmãos Villas Bôas provocam a migração de diversas nações indígenas que ocupavam o Norte de Mato Grosso, demovendo os Kayabis e Panarás sem resistência. O argumento que convenceu os indígenas foi o da preservação dos povos originários, afim de evitar conflitos com o “homem branco”.
Em junho de 1970 o então presidente do Brasil, o general Emílio Garrastazu Médici, estabelece o PIN (Programa de Integração Nacional), sendo a terceira política pública do Governo Federal que viabiliza os projetos de colonização do Norte de Mato Grosso. No bojo do PIN estava estabelecido a construção de duas grandes rodovias: a Transamazônica e a Rodovia da Integração Nacional.
A Rodovia da Integração Nacional ligaria Cuiabá (MT) a Santarém (PA), com um batalhão conduzindo a execução em cada ponta e a previsão das frentes de trabalho se encontrarem na Serra do Cachimbo, na divisa dos dois Estados.
Ainda em 1970, o membro da Colonizadora Sinop, Ullrich Grabert, viajou para Cuiabá com o propósito de adquirir uma fazenda para Ênio Pipino. “Uli” como era conhecido, havia trabalhado no processo e implantação das cidades no Paraná. Em Mato Grosso, ele percebe a dificuldade logística que seria trazer o rebanho e declina da compra. Nesse período ele conhece Martin Jorge Phillip, também vindo do Paraná, que oferece terras no Norte do Estado. Uli faz o reconhecimento da área com um avião e retorna para Maringá, onde ficava a sede da Colonizadora Sinop, falando do possível negócio com Ênio e João Pedro. Uli retorna com os colonizadores para o Norte de Mato Grosso, fazendo um novo voo de reconhecimento. Ênio vai a Brasília se informar sobre os projetos de colonização para a região e decide adquirir as terras.
A primeira área comprada pela Colonizadora Sinop no Norte do Estado media 199.064,89 hectares, fracionados em 214 matrículas. Até então, as terras faziam parte do Distrito de Chapada dos Guimarães. A compra foi efetuada no dia 22 de outubro de 1970. Essas terras foram primeiramente vendidas pelo Estado de Mato Grosso em 1960, para Otamiro Garcia do Nascimento e Frigorífico Piracicaba S/A, que posteriormente venderam para Mozarth Garcia do Nascimento, que mais tarde vendeu para Elias Fernandes, que por sua vez vendeu para Jorge Phillip.
As obras de abertura da BR-163, de Cuiabá a Santarém, iniciam do lado mato-grossense em janeiro de 1971, com equipes de militares e civis contratados pelo 9º BEC (Batalhão de Engenharia Civil), sob o comando do Coronel José Meirelles. Do lado do Pará, a execução era conduzida pelo 8º BEC. Mais de 1.500 homens, entre civis e militares, trabalharam na abertura do traçado da estrada em meio à Floresta Amazônica. Entre ataques de onça e malária, 32 homens morreram durante a construção da rodovia entre 1971 e 1975.
No dia 12 de fevereiro de 1971, a Colonizadora Sinop faz seu registro junto ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), como empresa privada de colonização, recebendo o certificado do órgão no dia 17 de abril do mesmo ano.
Os marcos para a identificação da terra a ser convertida em projeto de colonização era a margem direita do Rio Teles Pires, entre os Rios Caiabi e Tartaruga. Ainda em 1971, Ulrich lidera uma equipe com 13 homens que parte do Paraná com tratores e maquinários afim de demarcar a área, construir balsas e pontes que garantissem o acesso. Nesse momento, as obras de abertura da BR-163 estavam na região de Lucas do Rio Verde – cerca de 150 quilômetros de distância. Os desbravadores utilizam estradas já existentes que levavam a Fazenda Ubiratã e delas vão fazendo picadas na mata, abrindo trilhas e cruzando rios com tratores. Estima-se que 82 quilômetros de estrada foram abertos para chegar ao núcleo de Vera.
A porção de terra a ser colonizada foi batizada de Gleba Celeste. Com novas aquisições e unificações, a área total do projeto de colonização alcançou 645 mil hectares – três vezes maior do que a primeira leva adquirida. Após 40 dias de trabalho a equipe liderada por Uli instala o primeiro núcleo colonial da Gleba Celeste, a cidade de Vera.
Toda a expectativa dos colonizadores era de que a BR-163 cortasse a cidade de Vera ao meio, bem como a cidade de Santa Carmem, projetada para ser a segunda, mais ao Norte. Os militares, no entanto, mudam o traçado, inclinando o eixo da rodovia para Oeste, a partir de Lucas do Rio Verde.
No dia 27 de julho de 1972 a cidade de Vera é oficialmente fundada. No mesmo ano a Colonizadora começa a abrir a cidade de Sinop, posicionando o novo núcleo colonial sobre o traçado da BR-163. A mesma equipe de desbravou o caminho até Vera abriu a trilha de 65 quilômetros até Sinop, vencendo em média 2 quilômetros de floresta por dia. Foram necessários 30 dias de trabalho para chegar ao local que seria Sinop.
Quem elaborou o projeto para a abertura de Sinop foi o engenheiro civil Roberto Brandão, natural de Campo Grande (MS) que também projetou Vera e Santa Carmem, além de outras cidades no Paraná, como Jesuítas, Formosa do Oeste e Missal. O projeto desenhava Sinop em forma de um trapézio, com sua área central retilínea formada por 42 quadras, onde se imaginava ser a área comercial da cidade, dispostas no espaço atualmente compreendido entre a Avenida das Figueiras e a Avenida das Embaúbas. Brandão fez o desenho urbano de Sinop sem ter colocado os pés na cidade. Seu projeto não tinha as largas avenidas e canteiros centrais, marcas da Sinop moderna. Outra curiosidade sobre o projeto de Brandão é de que ele foi implantado “virado”, invertendo a posição Norte e Sul entre o que foi desenhado e o que foi executado.
Enquanto os mateiros, tratoristas e topógrafos abriam Sinop, corretores percorriam o Sul e o Sudeste do Brasil vendendo as terras no Norte de Mato Grosso. A promessa de áreas extensas para abrigar grandes famílias, o discurso de que “em se plantando, tudo dá” e a ausência de intempéries climáticas, como geadas, convenceram e motivaram muitos colonos a trocar suas terras e migrar para o projeto de ocupação da Colonizadora Sinop.
Ainda em 1972, começavam a chegar as primeiras famílias à cidade. Na primeira leva de pioneiros a se estabelecer na pequena clareira aberta no meio da floresta estavam a família Olímpio João Pissinati Guerra, família Braz Claro dos Anjos, família Mauri Weirich, família Osvaldo Paula, família Plínio Calegaro, família Dirceu de Césaro, família Stanislau Belgrovicz, família Antônio Sechi, família Osmar Jordan, família Aleixo Schenatto, família Lindolfo Trierweiler, família Alcides Shimidel, família Arlindo Joanucci, família Adelço José dos Santos e a família David de Marchi.
Esses migrantes chegavam embaixo de caminhões com a carroceria coberta de lona, com ferramentas e mantimentos para iniciar a construção da sua morada. Não havia rede de energia ou água encanada. Barracas de lona eram montadas enquanto a madeira abundante da região era serrada para a fabricação das casas. Entre 1972 e 1973, cerca de 70% dos migrantes estabelecidos em Sinop eram do Paraná. Estes tentaram formar lavouras de café, mas sofreram com a acidez do solo.
Como forma de organizar e fomentar os pequenos produtores, inclusive viabilizando acesso a recursos do Governo Federal, a Colonizadora implantou em 1973 a Comicel (Cooperativa Agrícola Mista Celeste).
Em 1974 as obras da BR-163 conduzidas pelo Exército chegam a Sinop. No dia 14 de setembro de 1974 Sinop foi oficialmente fundada. A solenidade contou com a presença do então governador de Mato Grosso, José Fragelli e do Ministro do Interior, Rangel Reis, além dos pais fundadores. As autoridades chegaram à cidade de avião. Sinop foi inteira decorada com faixas, que narravam o entusiasmo da população local. Na fachada de um comércio estava estampada a mensagem: “Estamos gelando os pessimistas – Bar e Sorveteria Pinguim”.
A 1ª missa de Sinop foi ministrada pelo bispo de Diamantino, Don Henrique Fröenlich e o Padre João Salarini. Depois, mais de 2 mil pessoas presenciaram o descerramento da placa inaugural e o hasteamento da bandeira nacional. Um desfile cívico foi realizado com a participação da banda da Polícia Militar de Mato Grosso. Estudantes e esportistas também desfilaram. Naquela data já havia uma sala de alunos no que viria a ser o Colégio Nilza Pipino e a primeira equipe do Sinop Futebol Clube. As indústrias madeireiras passaram pela avenida com caminhões carregados com enormes toras. Tratores puxavam carroças exibindo a produção agrícola local.
Após o desfile, a Colonizadora ofereceu um almoço para todos. A confraternização foi realizada em um bosque, na esquina da Avenida das Figueiras com Avenida dos Jacarandás, onde anos depois seria construído o Restaurante O Colonial. À sombra das árvores, em mesas improvisadas com tábuas, os presentes apreciaram um churrasco e muitas frutas. Na parte da tarde foi realizado um torneio de futebol para inaugurar o Estádio Pipinão – com arquibancadas de madeira construído onde atualmente é o Sesi.
Na fundação de Sinop também foi inaugurada a Agência dos Correios e Telégrafos. Também foi fundada a cidade vizinha, de Santa Carmem. Nessa época foi implantada a primeira linha de ônibus da Expresso Maringá, fazendo o trajeto Sinop-Cuiabá.
Em 1975 Ênio trouxe para Sinop o então ministro da Agricultura, Alisson Paulimelli, que lançou o Programa do Calcário, para a correção do solo. Café, guaraná, pimenta do reino e arroz começaram a ser produzidos a partir de então. No mesmo momento, é inaugurado o mercado da Cobal (Companhia Brasileira de Alimentos), que seria a principal estrutura de abastecimento da população local por mais de uma década. Nos períodos em que o acesso pela BR-163 ficava impossível, em razão das chuvas, o abastecimento de Sinop era feito com mantimentos trazidos por aviões Buffalos, do Exército Nacional, distribuídos de forma controlada na Cobal. No mesmo ano é inaugurada a primeira agência bancária da cidade, o Bradesco.
É em 1976 que as salas de aula se tornam oficialmente a Escola Nilza de Oliveira Pipino. No mesmo ano é implantada a paróquia Santo Antônio em Sinop, com a nomeação do Padre João Salarini, figura importante na história da cidade.
No dia 29 de julho de 1976, o governador de Mato Grosso José Garcia Neto assina a lei que torna Sinop distrito de Chapada dos Guimarães. É também em 76 que a cidade elege seu primeiro líder político, Plínio Callegaro, vereador por Chapada dos Guimarães. Em outubro do mesmo ano o Exército conclui a abertura da BR-163 Cuiabá-Santarém, que só se tornaria um corredor de escoamento da produção 3 décadas depois.
No final de 1977, o arquiteto e urbanista Alfredo Clodoaldo e o topógrafo Sadao Watanabe demarcam as nascentes existentes dentro de Sinop. O levantamento serve de base para que Alfredo readéque o projeto urbano de Sinop, conferindo as largas avenidas e bolsões verdes que são uma marca da cidade.
Em 1978 a estatal Sanemat implanta o primeiro sistema de abastecimento de água potável em Sinop, atendendo aproximadamente 400 famílias. No final desse ano, a Cemat (Centrais Elétricas de Mato Grosso) traz para cidade 6 motores adquiridos no Vietnã para ligar a primeira rede de energia. Em um ano, 1.021 ligações residenciais e comerciais foram realizadas. A Colonizadora funda a sua 4ª e última cidade no Norte de Mato Grosso: Cláudia.
Sinop chega ao final da década de 70 como um município de fato. Com a divisão do Estado, formando Mato Grosso do Sul, e a necessidade de implantar novos municípios, em 17 de dezembro de 1979, o governador Frederico Campos assina a emancipação política e administrativa de Sinop. Nesse momento a cidade já contava com uma agência do Banco do Brasil e com o Cineteatro Amazonas, que na inauguração exibiu o filme King-Kong.
O ano de 1979 termina com a realização do projeto e a obtenção de um financiamento junto ao Governo Federal para a construção de uma usina para produção de etanol, colocando Sinop no eixo da indústria de combustíveis. A Sinop Agroquímica, empresa que pertencia a Colonizadora Sinop, foi projetada com capacidade de produzir 150 mil litros por dia de álcool, mas ao invés de cana-de-açúcar, a matéria prima escolhida foi a mandioca, que era vista como cultura mais voltada a agricultura familiar, o que ajudaria Sinop ter um futuro mais “doce”.
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