Cambiando
O que Sinop mostrou para os argentinos?
Delegação com produtores rurais do país vizinho veio conhecer o agronegócio de Mato Grosso
Geral | 12 de Novembro de 2025 as 16h 30min
Fonte: Jamerson Miléski

Um grupo formado por 30 produtores rurais e empresários do agronegócio da Argentina foi recepcionado pela gestão municipal de Sinop nesta quarta-feira (12). A “excursão de negócios” foi organizada pela divisão argentina da Bayer Crop Science. Já a recepção dos “hermanos” foi promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Sinop, na Câmara de vereadores, com a presença de outros secretários municipais, vereadores e até o prefeito.
Apesar da atenção dedicada pelas autoridades oficiais do município, o que os produtores argentinos esperavam era uma “charla” - ou em bom português, um bate-papo sobre a dinâmica do agronegócio no Norte de Mato Grosso.
A recepção feita pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, José Pedro Serafini. Aquele tradicional vídeo institucional de Sinop, com dados socioeconômicos e imagens da cidade, foi apresentado aos argentinos - e aplaudido. Na sequência o microfone foi entregue ao economista e professor universitário Feliciano Azuaga e o diretor da Coaasin (Cooperativa Agrícola de Sinop), Gilberto Leal, dando o Norte do assunto da “charla”.
Azuaga fez uma explanação sintática sobre o Norte de Mato Grosso, usando duas ou três imagens antigas para passar a mensagem que há 40 anos nada havia nessa região em termos de infraestrutura ou produção agrícola. O economista apontou a revolução provocada pelos fertilizantes nitrogenados, pela pesquisa agrícola no desenvolvimento de sementes, o avanço logístico e o despertar industrial, descrevendo um cenário de oportunidades. “É uma cidade que cresce 5% ao ano, em que 11 mil pessoas chegam para morar a cada ano e que a renda per capita aumentou em 3 vezes nos últimos 20 anos. Isso acontece porque é uma cidade de 200 mil habitantes, mas que tem sua economia ligada ao Mundo”, discursou Azuaga.
O economista lembrou que Sinop é o 43º maior exportador do Brasil, com negócios internacionais que somam R$ 1,1 bilhão. De cada 3 dólares que entram em Sinop, lembra Azuaga, um vem da China, um vem da Ásia e o outro dólar restante vem de negócios feitos com o resto do mundo. “Mato Grosso cresce suas exportações avançando em mercados que nunca mirou. O Estado tem voltado negócios para a Ásia e o Oriente Médio, que são o futuro. Estados Unidos e Europa são o passado”, instruiu o economista.
A logística também foi apresentada aos produtores argentinos. Além da BR-163, corredor rodoviário que liga a região aos portos do Sul e do Norte do Brasil, Azuaga e Gilberto também apresentaram os 4 projetos ferroviários em curso, que quando concretizados “impactarão” a região. Isso no futuro, porque pontuou Gilberto, atualmente cerca de 80% do milho e da soja produzidos na região vão para o Pará, desembocando em um dos portos operados por 20 tradings que fazem a exportação de grãos.
Sobre os projetos ferroviários, Azuaga lembrou que a Fico-Fiol está em execução e a previsão é de que os trilhos cheguem a Lucas do Rio Verde em 6 anos, ligando Mato Grosso à Bahia. No mesmo status está a ferrovia estadual, que puxará um ramal de Lucas do Rio Verde a Rondonópolis, conectando o Norte de Mato Grosso aos trilhos que vão para Santos (SP). Os argentinos também conheceram o entusiasmo regional com o projeto do governo da China, popularmente chamado de nova Rota da Seda, com uma linha de trilhos que parte da Bahia, passa por Lucas do Rio Verde, segue para Rondônia, Acre e chega ao porto de Chancay, no Peru, que foi construído pelos chineses. “Com essa ferrovia o grão de Mato Grosso é exportado pelo Oceano Pacífico, o que reduz o frete marítimo em 11 dias”, apontou.
A Ferrogrão, ferrovia que parte de Sinop até Miritituba no Pará, também foi apresentado. Não há muita novidade sobre esse projeto que modorra há mais de 6 anos entre o judiciário federal e o Tribunal de Contas da União. Nessa conversa com os argentinos, o prefeito Roberto Dorner chegou a dizer que a implantação da Ferrogrão iniciaria em 2026, e que só não foi anunciada na COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), “por causa dos ambientalistas que iriam nos engolir se o anúncio da ferrovia fosse feito”. O mais provável é que essa fala seja apenas uma “charla”.
Economia que voa!
Boa parte da conversa com os hermanos foi dedicada ao milho. O cereal ancestral, nativo das Américas, foi apontado por Gilberto como sendo o grande produto do agronegócio - não apenas da região, mas do país. O diretor da cooperativa lembrou que há duas décadas o grão era secundário, tido como opção de safrinha, negociado a R$ 6 à R$ 7 por saca. Esse produto sem valor no passado atualmente vale 7 vezes mais. “A Inpasa e a FSbio [usinas de etanol] deram um ‘boom’ na cadeia do milho. Hoje o grão é negociado a R$ 53 a saca e seus subprodutos de valor agregado vão para o mercado internacional”, discursou Gilberto.
Segundo ele, cerca de 80% do DDG - farelo que resulta da destilação do milho em etanol - vai para China. O álcool anidro e hidratado fica no mercado interno. A novidade trazida por Gilberto é relativa ao SAF (Combustível Sustentável de Aviação, em inglês), também chamada de “querosene de avião”. O diretor da cooperativa informou que a Inpasa já está certificando sua produção de SAF para abastecer o mercado europeu - que se comprometeu a utilizar o combustível verde em seus aviões a partir de 2026, como forma de mitigar a emissão de carbono. “O milho hoje é a principal cultura porque tem margem. A soja tem margem menor. O produtor tem antecipado o ciclo da soja para fazer uma boa safra de milho. É a cultura do momento no Brasil”, opinou Gilberto.
Para justificar o tal “boom” do milho, Gilberto citou a evolução da tecnologia do “etanol crush”, o que cederia as margens de operação das indústrias, valorizando o preço do grão. Ele comparou com o mercado dos Estados Unidos, onde existem 188 usinas de etanol de milho, com o Brasil, com 22 plantas e projetos para dobrar esse número. Inclusive, uma das “joias” mostradas aos argentinos foi um mapa do Mato Grosso apontando 321 agroindústrias, instaladas, em fase de instalação ou projetadas.
Para além do combustível de avião, Azuaga mira na sobra das usinas de etanol de milho para apontar as oportunidades latentes da região. O economista lembrou que a carne produzida no Estado não tem participação em mercados relevantes - usou como base o fato de que é recente o reconhecimento de rebanho livre de Febre Aftosa sem vacinação. Mas também lembrou que a Associação de Produtores de Carne de Mato Grosso abriu, também recentemente, um escritório na China; e que o Governo de Mato Grosso implantou uma agência, com propósito similar, no território chinês. “Mato Grosso tem grandes áreas de pastagens degradadas. É preciso investimento para transformar essas áreas em lavouras. O Estado já está recendo dinheiro do governo japonês, através de programas, para fazer essa conversão. O Japão, inclusive, é um importante mercado a ser aberto para carne de Mato Grosso”, avaliou Azuaga.
O que os argentinos querem?
Segundo Fernando Sciliar, produtor que integrou a comitiva, o grupo é formado por agricultores de diferentes regiões da Argentina, que juntos cultivam mais de 30 mil hectares. Impressionado com o crescimento registrado pelo agronegócio brasileiro, Sciliar disse que os produtores argentinos tem muitas coisas a aprender com o Brasil e talvez até “imitar”.
Fernando Negri, outro produtor da comitiva disse estar surpreso com o crescimento regional. Em 2004 ele esteve no Estado, visitando Primavera do Leste e Cuiabá. “Naquela época, eu já percebia o potencial que víamos em Mato Grosso. E agora, 20 anos depois, estou ainda mais impressionado.
A BR-163 hoje é outra coisa - cheia de plantas industriais, produção por toda parte. Realmente fiquei impressionado. Fiquei surpreso e até um pouco incomodado ao ver o quanto o Brasil conseguiu fazer. O potencial que vocês têm - e estão aproveitando - é notável, reconhecido até por diferentes governos”, declarou Negri. “Resumindo, é isso: muita mudança em duas décadas. E duas décadas significam muito. Para nós, é como se fossem duzentos anos - tamanha a transformação na forma de produzir, de pensar diferente, de abrir a mente e melhorar como empresários”, completou o produtor argentino.
Negri disse que gostaria que seu município visse a integração entre o campo, indústria e o setor público que ele viu em Sinop.
E as terras? Os hermanos também estão de olho?
Segundo Negri, a comitiva também olha o preço das áreas, que apesar dos “tempos de crise”, não estão baixos. “Os preços da terra aqui são altos. Conversei com produtores brasileiros, chineses e argentinos que migraram para o Brasil para produzir. Muitos produtores vieram. E sim, é uma possibilidade vir para cá - mas não é fácil competir com vocês, porque vocês são muito bons”, afirmou Negri.
No final da “charla” produtores da comitiva fizeram algumas indagações. Entre as perguntas, a questão sobre quem são os novos investidores do agronegócio local, se são geracionais, filhos e netos de produtores locais e de outros Estados ou se as terras já estão sendo aradas por estrangeiros. A pergunta acabou não sendo bem respondida, talvez pelo obstáculo do idioma.
Os argentinos também se surpreenderam quando tomaram conhecimento da legislação ambiental, que determina que apenas 20% das áreas devem servir a lavoura e pecuária e que os 80% restante são reserva legal. A primeira compreensão dos produtores da comitiva é de que era ao contrário - apenas 20% de reserva.
Os impostos também foram um ponto questionado. Os agricultores argentinos queriam saber quais eram os tributos que incidiam sobre a produção. Os brasileiros presentes tentaram explicar a nossa confusão tributária, passando pelo Fethab, pela isenção de impostos para exportação e o Imposto de Renda. Eles ficaram surpresos por não ter um imposto municipal sobre a produção agrícola. “O regime tributário no Brasil é muito diferente do resto do mundo”, sintetizou Azuaga.
Nessa quinta-feira (13), a comitiva argentina segue em Sinop. O grupo vai visitar a usina de etanol da Evermat - empreendimento implantado a partir da associação de produtores locais.
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