Sem história
O que a usina de Sinop está fazendo com os peixes?
Cardumes transportados de caminhão, peixe com tag e ciência aplicada marcam intervenção da UHE na ictiofauna
Geral | 05 de Dezembro de 2025 as 18h 05min
Fonte: Jamerson Miléski

Peixes, de diferentes espécies e tamanhos, nadando em cardume, amontoados no pé da barragem. Essa foi a cena registrada pelo GC Notícias nesta terça-feira (2), durante uma visita guiada pela Usina Hidrelétrica de Sinop, no Rio Teles Pires. Do alto da plataforma de acesso, cerca de 10 metros acima do rio, era possível ver uma grande quantidade de peixes imediatamente na jusante do barramento. Um volume de exemplares tão significativo que torna nula a afirmação popular de que no Teles Pires não tem mais peixe. E essa não é uma história de pescador.
Desde fevereiro de 2019, quando a UHE Sinop abriu as comportas dos vertedouros e fechou as adufas pela primeira vez, há uma percepção coletiva de que o empreendimento energético ceifou a vida no rio. Naquele episódio a SEMA registrou a morte de 13 toneladas de peixes de diferentes espécies. Ao longo de mais de 28km de rio era possível encontrar peixes boiando, em decomposição.
Passados mais de 6 anos do ocorrido, a população no Teles Pires se mostra abundante nos arredores da barragem. A vida encontrou um caminho e a usina também.
Ramon Carvalho, diretor-presidente da Sinop Energia, empresa que opera o empreendimento, foi quem apresentou as ações relacionadas a ictiofauna (termo que se refere aos peixes de um local). Durante a visita Ramon explicou os principais programas em curso e um pouco da operação cotidiana. A UHE Sinop não possui eclusa ou escada de peixes. Ou seja, os cardumes volumosos no pé da barragem são peixes que não conseguem mais continuar subindo o rio.
Essa transposição dos peixes, explica Ramon, é feita de forma artificial. Os cardumes são atraídos para uma estrutura que fica 215 metros abaixo da barragem. Com um sistema de comportas os peixes são retidos e “pescados” com um elevador. “Os peixes são avaliados, um por um, por tamanho e espécie. A transposição é seletiva. Espécies consideradas invasoras ou fora do estágio reprodutivo não sobem a barragem”, ensina Ramon.
Os exemplares adultos e nativos da região são depositados em um caminhão pipa, adaptado para o transporte. Por uma via asfaltada eles são levados até a montante da barragem, em um pequeno porto, onde são devolvidos para o rio. Essa carona a diesel que os peixes ganham é de um quilômetro. “Pirarucu, abotoado e tambaqui não passam pela transposição, pois são considerados espécies invasoras, embora já sejam bem abundantes no Rio Teles Pires”, comentou Juliano Mafra, coordenador de Meio Físico e Biótico da Sinop Energia, responsável pelos programas que envolvem a ictiofauna.
Segundo Mafra, cerca de 300 mil peixes já foram transpostos nesse sistema. Parte deles sai da viagem carregando um suvenir. Esse é outro programa da Sinop Energia: a marcação e monitoramento dos peixes. As equipes implantam tags de identificação, algumas com um pequeno chip, em alguns exemplares capturados. Diferentes espécies e estágios de desenvolvimento distintos, recebem a marcação. Mesmo as invasoras são monitoradas. A proposta, explica Mafra, é gerar dados científicos do comportamento dessa vida aquática. “É uma ferramenta para a gestão da fauna aquática, pois permite identificar as áreas de maior importância para os peixes, os períodos de reprodução e migração, e os impactos da atividade humana sobre o ecossistema”, aponta Mafra.

Os dados são atualizados toda vez que um peixe com tag é capturado. Por isso a Sinop Energia pede que os pescadores contribuam com a pesquisa, informando o local e o momento em que encontraram um exemplar identificado. A tag, que fica sobre a nadadeira dorsal, pode ser arrancada e levada até a sede na Sinop Energia. “Tem até um brinde de pesca para quem traz a tag até nós”, complementa Ramon.
Segundo Mafra, mais de 25 mil peixes já receberam tags desde o início do programa. Essa população está nadando no Teles Pires. “O peixe mais distante que já foi localizado com a tag foi uma cachorra [Hydrolycus scomberoides], perto de Nova Canaã, há mais de 190 km da barragem. A montante, a maior distância foi também de uma cachorra, cerca de 100km rio acima. São espécies migratórias, predadoras, que viajam muito”, pontuou Mafra.
Tomando um ar
Há alguns metros da estrutura que faz a captura dos peixes para transposição tem um contêiner onde alguns exemplares entram para “tomar um ar”. O que se faz dentro da caixa metálica não é para exportação. É para consumo nacional.
O contêiner abriga um laboratório de pesquisa, desenvolvimento e inovação, implantado através de uma parceria com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), operado pela Sinop Energia e com a tutela da Universidade Federal de São João Del-Rei, Universidade Federal de Itajubá, Instituto Hidrelétrico Suíço e a Havex Engenharia. Nessa estrutura, cientistas colhem resultados referente a supersaturação gasosa e o impacto nos peixes do Rio Teles Pires. “Atualmente só há histórico científico desse tipo de pesquisa no mundo em uma espécie de salmão em uma região específica dos Estados Unidos. Esses estudos vão gerar dados científicos locais, tomando como medida os peixes de Mato Grosso”, comentou Ramon.

A supersaturação gasosa é quando há um excesso de ar dissolvido na água – o que pode ocorrer, entre outras coisas, quando os vertedouros de uma usina hidrelétrica são abertos, movimentando a água com turbulências que fazem o líquido incorporar mais gás. Nos peixes esse desequilíbrio pode provocar embolia gasosa ou doença da bolha. O animal morre afogado por ar.
Mafra, que coordena o projeto, explica que o estudo é feito com peixes de diferentes espécies e estágio. Os animais ficam em tanques cujo líquido vai sendo gradualmente saturado. A experimentação permite observar a quantidade suportada por cada indivíduo, bem como o tempo de exposição. “Os resultados compilados são avaliados e vão gerando indicativos de como operar o reservatório de maneira que impacte menos a ictiofauna”, ressaltou o coordenador.
Os ensaios são realizados em triplicata para assegurar a robustez dos resultados. Ao final da pesquisa, os dados coletados serão incorporados aos relatórios o podem inclusive servir de parâmetro para outras hidrelétricas.
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