Vivendo como Cristo
O padre dos pobres, presos e prostitutas
Conheça a história do monge das ruas que aos 62 anos aceitou ser padre para comungar com presos
Geral | 09 de Outubro de 2020 as 17h 10min
Fonte: Jamerson Miléski

Um Santo ou talvez um profeta dos dias de hoje. É assim que professores, líderes religiosos e quem o conhece há mais tempo, descreve Fernando de Góis. Esse homem é dono de uma história de vida totalmente fora dos padrões, desconcertante e ao mesmo tempo provocativa. Louco ou iluminado? Talvez os dois. O fato é que agora, depois de anos dedicando sua vida para levar a palavra de Cristo aos mais desvalidos de nossa sociedade, Fernando, aos 62 anos de idade, decidiu se tornar um padre. O título, que ele recusou quando ainda era jovem, agora será usado para levar os sacramentos da Igreja Católica até os presos.
Fernando vem de uma família de 7 irmãos, filhos de sergipanos. A influência religiosa da mãe fez ele escolher pelo ordenamento. Ainda jovem foi para o seminário dos frades Carmelitas em Curitiba (PR). Quando recebeu a roupa de frade, de tecido bem costurado e novo, percebeu que embora estivesse estudando sobre Jesus, não estava se parecendo com Ele. “Resolvi abraçar uma vida mais radical”, comenta Fernando.
Ele saiu do seminário para se dedicar as crianças e adolescentes moradoras de rua na fria Curitiba. “A Congregação não concordava com o meu trabalho nas ruas. Então eu falei que se não fizesse isso estava negando o evangelho. Para ser fiel ao evangelho eu deveria estar no meio do povo. No meio de desavenças. Entre a Ordem dos Carmelitas e os pobres, eu fiquei com os pobres”, conta.
Quando saiu da Congregação, Fernando foi morar em uma vila na periferia de Curitiba, na comunidade Profeta Elias. O barraco na favela era apenas uma referência. A maior parte do tempo Fernando vivia com as crianças nas ruas e dessa convivência nasceu um projeto que se tornou uma referência no trabalho com crianças e adolescentes: a Chácara Meninos de Quatro Pinheiros. A Chácara servia como um abrigo para crianças e adolescentes de rua, onde são oferecidas atividades pedagógicas e de formação profissional.
Após 22 anos coordenando esse trabalho, Fernando se sentiu desafiado para novas missões e pôs o pé na estrada – literalmente! A vida inteira Fernando calçou sandálias, aquelas de borracha, tipo havaianas. Ainda jovem, no rigoroso inverno curitibano, lá estava o evangelizador com suas sandálias. Chegou inclusive a ser “rotulado” por um ex-governador como ‘o monge pé-de-chinelo’ – um termo depreciativo, já que Fernando incomodava os poderosos com suas denúncias.
Andarilho e trecheiro
Quando colocou o pé na estrada, Fernando caminhou 600 km entre trecheiros, andarilhos, moradores nas estradas e prostitutas. Nessa caminhada que posteriormente se estendeu de São Paulo até o Nordeste levou pouca coisa. “A bagagem mede o tamanho da vaidade do viajante e eu só tenho um corpo, pra que carregar um monte de coisa desnecessária (...) Fui rezando, refletindo e me ‘alimentava’ com a história de vida dos trecheiros e andarilhos”, conta Fernando. “Quando encontrava alguém na estrada me perguntava, quanto tempo faz que esse cidadão não recebe um abraço, dava um abraço, rezava um salmo e fazia a escuta (...) Eu sempre fui evangelizado pela população de rua pela escuta pedagógica e amorosa”, explicou o evangelizador.
Na Cracolândia
Por quase dois anos o monge conviveu com os moradores da Cracolândia em São Paulo. “Quando me deparei com a Cracolândia foi o momento mais difícil da minha vida, foi a experiência que mais me desafiou. Como vou rezar com um povo tão desumanizado, desvalido e judiado?”, se questionou Fernando, que respondeu para si mesmo: “Se você não consegue viver com eles, você não tem o direito de rezar o Pai Nosso e receber a comunhão”. Continua Fernando: “O que eu podia fazer era escutar, fazer silêncio e ficar vendo eles”.
Nessa caminhada desenvolveu a pedagogia dos sonhos que define como “uma forma de motivar as pessoas... se você tem sonho, tem esperança... e sonhar pequeno ou sonhar grande dá o mesmo trabalho, então vamos sonhar grande, enquanto se tem vida, tem esperança e o nosso Deus é o Deus da vida não quer ver ninguém sendo maltratado”.
Depois de um tempo nas ruas de São Paulo pôs o pé na estrada novamente e foi para o Nordeste. Chegou a Barra (BA) para visitar e escutar Dom Luis Cappio (bispo profundamente místico e que ficou conhecido pela greve de fome contra a transposição do rio São Francisco). Na sombra de um profeta, Fernando amadureceu a sua ida à Prelazia de São Félix do Araguaia. Incentivada por uma amiga, pôs o pé na estrada de novo.
“Quando cheguei a São Félix, o meu coração acelerou”, diz ele. Em São Félix conheceu dom Pedro Casaldáliga e chegou a conviver com ele por quase 4 anos. “Você sente quando uma pessoa é profeta... Só de ver ele mexer os lábios, a força de seu testemunho, só de estar perto sentia a sua luz e a sua esperança. Ele pegava a mão das pessoas e demorava para soltar”, conta Fernando.
“O meu altar será a rua”
Segundo Fernando, a ideia de buscar a ordenação veio depois das visitas aos presídios. “Ninguém queria ir para os presídios”, diz Fernando. Ao entrar nas cadeias e prisões, os humanos lá guardados pediam o perdão e os sacramentos ao monge pé-de-chinelo. “Então me senti no dever de levar o sacramento para essas pessoas”, declarou.
Essa foi a motivação para buscar a ordenação. “Mas eu não vou ser um padre de paróquia. O meu altar será nas ruas, nos prostíbulos, no lixão, nos presídios. Quero ser um padre das causas sociais, ligado as populações marginalizadas. Celebrar a vida, levar o sacramento, lutar pela justiça”, diz ele. “Não quero me tornar um ministro ordenado, mas um servo ordenado para servir melhor essa população desumanizada e desfigurada. Levar vida, esperança e dar gás para que eles possam se unir, buscar caminhos alternativos de inclusão”, completou.
Atualmente Fernando está em Confresa (MT), na diocese de São Felix do Araguaia. Lugar muito pobre. Foi para lá porque ninguém queria ir em meio a pandemia. “Deus me mandou nessa época... os caminhoneiros sem frete, as mulheres da prostituição sem programa pra fazer e em depressão, os presos em crise porque não podiam receber visitas, os hospitais abandonados pelos padres e pastores porque ficaram com medo da pandemia... Me chamaram e eu disse: eu vou, se eu morrer já tenho 62 anos e já vivi bastante e se Deus não me levar vou continuar trabalhando para Ele”.
Em Confresa Fernando passou a cuidar dos mais pobres, sobretudo, indo atrás de comida. Segundo ele, ninguém pode passar fome e quando a gente partilha, Deus multiplica.
A ordenação, que acontecerá no dia 1 de novembro, será no meio dos pobres, que Fernando qualifica como “as pessoas preferidas de Jesus Cristo”. “Vai ser uma festa com o povo pobre e os pobres vão se sentar numa mesa farta. Os ricos já tem muitos padres se dedicando a eles”, comentou.
Fernando de Góis será ordenado padre aos 62 anos, no dia 1 em novembro, na Prelazia de São Félix do Araguaia.
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