Sinop
‘‘Não basta identificar o paciente com câncer, tem que tratar’’
A fala é do diretor do Hospital Santo Antônio, que pediu ajuda financeira para instituição
Geral | 20 de Junho de 2022 as 18h 09min
Fonte: Jamerson Miléski
“Nos ajudem a ajudar”. Esse foi o teor da fala do diretor do Hospital Filantrópico Santo Antônio, Wellington Randal, na tribuna da Câmara de vereadores de Sinop, durante a sessão desta segunda-feira (20). Randal foi convidado para usar o dispositivo afim de apresentar as ações da unidade hospitalar, uma das mais tradicionais da cidade, operada por uma fundação filantrópica e que mescla atendimentos pelo SUS e privados.
Randal começou relembrando os percalços financeiros vividos pela Fundação nos últimos 5 anos em decorrência do Hospital Regional de Sinop. A entidade foi contratada, no ano de 2012, para abrir e colocar em funcionamento o Hospital Estadual. Em 2014 o Estado decretou intervenção no contrato e continuou gerindo a unidade com o CNPJ do Santo Antônio. Em dezembro de 2017 uma nova OSS foi contratada para tocar o Hospital e em 2019 o Governo do Estado assumiu a gestão sem uma organização intermediando.
Na tribuna, Randal afirmou que dessa relação como Estado a Fundação absorveu um prejuízo superior a R$ 100 milhões, que estão sendo cobrados através de ações judiciais. A maioria, trabalhistas. São pelo menos 700 ações de funcionários do Hospital contratados e demitidos com o CNPJ da Fundação. “De 2017 para cá, cerca de R$ 24 milhões foram tirados do caixa do Hospital Santo Antônio para pagar contas do Hospital Regional”, afirmou Randal.
Expor a fragilidade financeira do Hospital Santo Antônio foi uma justificativa prévia do pedido que viria a seguir. Em sua fala, Randal pediu para Câmara e para sociedade ajuda para manter e ampliar os atendimentos na unidade – em especial nos tratamentos de pacientes com câncer. “O Hospital do Câncer existe há 17 anos em Sinop e vem trabalhando desde então e salvando vidas”, pontuou, referindo-se a ala de oncologia que opera em anexo ao Santo Antônio.
O diretor afirmou que a Ala de Oncologia do Santo Antônio realiza em média 500 consultas por mês e que até esse momento de 2022 já realizou mais de 5 mil atendimentos, com quimioterapia e hormonioterapia. Embora tenha convênio com o Governo do Estado para prestar os atendimentos aos pacientes do SUS, Randal demonstrou que os repasses do Estado são incompatíveis com o volume de atendimento. Ele citou o balanço de 2021, quando a unidade realizou mais de 5 mil consultas ao longo do ano, enquanto o contrato com o Estado previa 400 consultas. “Quem bancou a diferença foi o Santo Antônio”, declarou.
O contrato para 2022 via SUS estabeleceu 6 mil atendimentos – já foi praticamente superado. Em valores, o Santo Antônio recebe por ano pouco menos de R$ 400 mil do Governo do Estado para tratar os pacientes com Câncer. “É importante identificar os pacientes com câncer, mas isso não basta. É preciso fazer o tratamento. Não adianta diagnosticar e não conseguir tratar”, provou Randal.
A fala foi uma direta ao Hospital do Amor de Barretos, que nos últimos anos iniciou uma pesada campanha de arrecadação em Sinop para construção de uma unidade local. Uma comissão de médicos e entusiastas montou na cidade um centro de atendimento, além de duas unidades móveis, que buscam detectar pacientes com câncer, propiciando um diagnóstico precoce. Como bem argumentou Randal, o trabalho do Hospital de Amor é importante, mas ele não trata os pacientes. Quando um caso de câncer é detectado pelas frentes volantes do Hospital de Amor, o paciente é encaminhado para a central de regulação do Estado, que busca uma unidade que possa conduzir o tratamento desse paciente. “Sinop precisa do Hospital do Amor e de outras estruturas de saúde. Tem espaço para todos e a cidade cresce muito, precisa ter mais pessoas empenhadas a atender. O que pedimos é que se lembrem também do Hospital Santo Antônio”, declarou Randal.
Aos vereadores, o diretor do Hospital direcionou o pedido para que incluam a Fundação em suas destinações de recursos via emendas indicativas.
Referência contra o Câncer
Além da homonioterapia e da quimioterapia, o Hospital Santo Antônio já deveria esta fazendo tratamento de Radioterapia. Um convênio firmado com o Ministério da Saúde no final de 2018 previa a construção de uma unidade de radioterapia e braquiterapia, integrando o Hospital do Câncer de Sinop. A obra iniciou, o pesado da fundação foi feito, mas a obra parou.
Segundo Randal, a empresa contratada, Engetec Construções “quebrou”. Os 9 contratos que a construtora tinha com o Ministério da Saúde em todo país foram paralisados. Depois de 3 anos de inércia burocrática, a previsão é relançar a licitação em agosto desse ano, retomando assim a obra.
Dor no coração
Outro ponto abordado pelo diretor do Hospital Santo Antônio foi o credenciamento da unidade junto ao SUS para prestar atendimentos de alta complexidade, em especial da sua ala de hemodinâmica, especializada em cardiologia. O pedido foi apresentado pela Fundação em 2013 – quase 9 anos. Não há nenhuma unidade de saúde que preste serviço similar na cidade de Sinop. Com esse credenciamento o Santo Antônio passaria a oferecer esse serviço para pacientes do SUS. Ou seja, um infartado não precisaria ser deslocado para Cuiabá para receber tratamento.
Conforme o diretor, esse assunto parece estar próximo da solução. A atual gestão do Governo do Estado teria sinalizado o interesse em finalmente credenciar a unidade.
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