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Metal tóxico

Como frascos de xampu escondem mercúrio ilegal usado em garimpos de ouro

Não há produção de mercúrio no Brasil. Por isso, a substância é importada ou reciclada

Geral | 13 de Novembro de 2023 as 07h 15min
Fonte: Marina Rossi - Repórter BR

Foto: Lilo Clareto/Repórter Brasil

Empresas de fachada, documentos falsos e contrabando são parte de um esquema de comércio ilegal de mercúrio, substância fundamental para o garimpo ilegal de ouro no Brasil. Altamente tóxico, o metal é usado como uma espécie de ímã que atrai as partículas de ouro e as separa de impurezas.

Ação conjunta da Polícia Federal e do Ibama desbaratou nesta semana um esquema de comércio ilegal do metal altamente tóxico . A operação, que recebeu o nome de Hermes II, é desdobramento de uma primeira fase, deflagrada em dezembro do ano passado. Nesta segunda fase, foram bloqueados R$ 2,9 bilhões de bens dos investigados e apreendidos 6,5 kg da substância.

"A partir da investigação conjunta do Ibama com a PF, podemos dizer que há fortes evidências de que não há mais disponível mercúrio de origem lícita para ser utilizado na exploração do ouro", afirma Jair Schmitt, diretor de proteção ambiental do Ibama, em entrevista à Repórter Brasil.

Não há produção de mercúrio no Brasil. Por isso, a substância é importada ou reciclada, obtida normalmente de lâmpadas fluorescentes. Para comercializá-lo, é preciso pedir uma licença ao Ibama e declarar sua finalidade, que pode ser a fabricação de cloro, o uso em laboratórios de pesquisas, em consultórios odontológicos ou no garimpo. E neste ano, de acordo com Schmitt, não houve nenhuma emissão de licença para importação de mercúrio para a mineração.

Como o sistema é autodeclaratório, a investigação encontrou ao menos uma empresa de reciclagem que declarou obter uma quantidade superior àquela realmente obtida. Essa quantidade declarada a mais gera um crédito para acobertar o mercúrio que entra no Brasil ilegalmente, como mostra o modus operandi do comércio ilegal da substância revelado pela PF e Ibama.

A investigação identificou uma empresa de fachada, que não tinha nem mesmo os equipamentos necessários para realizar o volume de obtenção de mercúrio que era declarado.

O diretor de proteção ambiental do Ibama explica que o mercúrio ilegal pode entrar no Brasil de várias maneiras, acondicionado em frascos de xampu, e sendo declarado como tal, ou como outro produto, como ferramentas ou halteres de ginástica. Nesse caso, a vantagem -- como a de todo produto ilegal -- é o preço: custa cerca de R$ 800 o quilo, enquanto o valor da substância legal gira em torno de R$ 1.500 o quilo.

"Quando o mercúrio entra no Brasil ilegalmente, vai parar nessa rede de contrabando que se utiliza desses créditos virtuais da reciclagem de resíduos para esquentar o produto clandestino", diz Schmitt. Ele explica que a substância é utilizada tanto no garimpo ilegal quanto no legal. E que, muito provavelmente, mesmo nos garimpos legais de ouro, o mercúrio utilizado hoje é contrabandeado.

 

Mercúrio e a nossa saúde

A exposição ao mercúrio pode causar vários problemas de saúde, dependendo da forma do mercúrio (elementar, inorgânico ou orgânico) e da via de exposição.

O mercúrio elementar e inorgânico, apesar de serem tóxicos, são menos perigosos do que o metilmercúrio, que é facilmente absorvido pelo corpo humano e pode atravessar a barreira hematoencefálica e a placenta, acumulando-se nos tecidos do sistema nervoso.

Em adultos, a exposição  pode causar problemas neurológicos, como tremores, insônia, perda de memória, disfunção neuromuscular, dores de cabeça e alterações de humor. Estudos epidemiológicos também têm ligado a exposição ao mercúrio ao aumento do risco de doenças cardiovasculares.

Crianças e fetos são especialmente vulneráveis à toxicidade do mercúrio. A exposição ao mercúrio durante a gravidez, mesmo em níveis baixos, pode levar a atrasos no desenvolvimento, déficits cognitivos e problemas motores.