Boi 'fisiculturista': conheça o gado mais musculoso do mundo, que pode pesar mais de uma tonelada

Raça Belgian Blue impressiona pela musculatura dupla, resultado de mutação genética, e produz carne magra e valorizada no mercado gourmet

Originária da Bélgica, a raça surgiu do cruzamento de gado nativo belga com raças inglesas, especialmente a Shorthorn, e mais tarde com a Charolesa, de origem francesa. Inicialmente criada para dupla aptidão — leite e carne —, ao longo das décadas passou a ser voltada exclusivamente para a produção de carne.

O aspecto físico do Belgian Blue é resultado de uma mutação genética que desativa o gene da miostatina, proteína que atua como um “freio” natural para o crescimento dos músculos. Sem essa limitação, as fibras musculares se multiplicam em excesso, processo chamado hiperplasia, resultando na chamada “dupla musculatura”. Na prática, os animais não possuem músculos extras, mas os já existentes atingem proporções extremas — cerca de 20% a mais de massa muscular em comparação com outras raças.

Esse desenvolvimento é fruto de mais de meio século de cruzamento seletivo. Hoje, exemplares da raça chegam a pesar mais de uma tonelada, mantendo como característica marcante a aparência atlética que rendeu ao Belgian Blue apelidos como “boi fisiculturista”.

A carne dessa raça é considerada de alta qualidade. Além de macia, tem baixo teor de gordura e sabor delicado, atributos que a tornam bastante valorizada pelo mercado gourmet. Os cortes nobres apresentam ainda ótimo rendimento, o que aumenta a procura pelo gado entre pecuaristas e consumidores.

A genética que dá origem à musculatura exagerada também traz dificuldades e riscos. A massa muscular elevada dos bezerros torna o parto natural extremamente perigoso: estima-se que mais de 90% dos nascimentos em linhagens puras precisem ser feitos por cesariana.

Além disso, os animais podem apresentar questões esqueléticas e cardíacas relacionadas ao peso excessivo dos músculos. Alguns bezerros também nascem com macroglossia, condição em que a língua é aumentada, o que dificulta a amamentação.

Outro ponto de preocupação é a redução da diversidade genética. A seleção intensiva de características ligadas à musculatura pode diminuir a variabilidade da raça, tornando-a mais vulnerável a doenças no futuro.