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Caso Zampieri

Empresas 'fantasmas' e R$ 900 mil em espécie: juiz acusado de vender sentenças teria usado esposa e ex

As firmas, que sequer tinham funcionários, estavam registradas em nome da atual esposa, Mara Lúcia Amarante, e da ex-companheira

Educação | 29 de Maio de 2025 as 14h 27min
Fonte: Olhar Direto

Foto: Divulgação

Empresas de fachada, dinheiro vivo e um rastro de depósitos suspeitos. Este é o retrato do suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o juiz afastado Ivan Lucio Amarante, da 2ª Vara de Vila Rica, que, segundo investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Polícia Federal, usava a própria esposa e a ex-mulher para ocultar recursos de origem ilícita.

O magistrado, que já estava sob suspeita de negociar decisões judiciais em parceria com o advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em 2023, teria criado duas empresas fantasmas no ramo de logística e transporte para movimentar os valores recebidos como propina. As firmas, que sequer tinham funcionários, estavam registradas em nome da atual esposa, Mara Lúcia Amarante, e da ex-companheira.

A denúncia foi detalhada durante sessão do CNJ na última terça-feira (27), quando os conselheiros decidiram abrir um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz, mantendo seu afastamento e encaminhando o caso para investigação criminal.

De acordo com o relatório apresentado pelo ministro relator, Campbell Marques, só entre setembro de 2023 e julho de 2024, a esposa do magistrado teria repassado a ele mais de R$ 750 mil em dinheiro vivo, por meio de 43 operações bancárias, sem que houvesse qualquer justificativa financeira compatível. Em janeiro de 2020, antes mesmo do casamento, ela havia aberto um salão de beleza em Várzea Grande, atividade que não condiz com os negócios de transporte que, supostamente, ela teria iniciado em 2023.

O próprio CNJ apontou que Mara, formada em biomedicina, não tem qualquer histórico profissional no setor de logística. A empresa MP Santos Logística e Transportes, registrada em seu nome, nunca teve empregados nem apresentou movimentações típicas do ramo. Para os investigadores, trata-se de uma fachada para lavar dinheiro.

Os depósitos levantaram suspeitas não só pelo volume, mas também pelo padrão: valores altos, frequentes e, muitas vezes, fracionados — indícios clássicos de tentativa de mascarar a origem ilícita dos recursos. Somente em outubro de 2023, por exemplo, foram sete depósitos de R$ 20 mil cada, totalizando R$ 140 mil no mesmo mês.

Ex-mulher também fazia parte do esquema
O mesmo modelo foi adotado com a ex-esposa de Ivan Lucio, que também abriu uma empresa no setor de transportes, a JSA Logística, em 2021. Assim como no caso anterior, a empresa não possuía funcionários nem renda compatível. Ainda assim, ela repassou ao juiz, entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023, cerca de R$ 208 mil em espécie, valores igualmente considerados incompatíveis com sua capacidade financeira.

Operação Sisamnes
Os novos desdobramentos fazem parte da 8ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (29). A ofensiva busca aprofundar as investigações sobre corrupção no Judiciário e lavagem de dinheiro.

O ponto de partida das investigações foi o conteúdo do celular de Roberto Zampieri, apelidado de “iPhone bomba” pelos investigadores, que revelou uma teia de conversas e negociações para venda de sentenças judiciais, com ramificações em diversos tribunais do país.

Desde então, três magistrados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) estão afastados: além de Ivan Lúcio, também os desembargadores Sebastião de Moraes e João Ferreira Filho. A decisão foi tomada pelo CNJ e referendada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Rastro de crimes e desdobramentos
O relatório do ministro Campbell Marques escancara um esquema que envolvia não só venda de sentenças, mas também ocultação e dissimulação de patrimônio. Além das empresas de fachada, os investigadores encontraram indícios de que o juiz mantinha um "patrimônio invisível", com aquisições de joias, imóveis e armas pagas em dinheiro vivo.

As apurações ganharam mais força após a morte de Zampieri, executado em meio a uma disputa por terras avaliadas em R$ 100 milhões.

A 7ª fase da operação, deflagrada na quarta-feira (28), também cumpriu ordens de prisão contra outros investigados, entre eles um coronel do Exército e empresários que fariam parte do mesmo esquema.