Jornal Nacional
Rede Globo anuncia saída de William Bonner do ‘Jornal Nacional’; César Tralli assumirá a bancada
A notícia vai ao ar hoje, no fim do mais famoso telejornal da emissora; apresentador negociava a mudança havia cinco anos e deve ir para o ‘Globo Repórter’
Economia | 01 de Setembro de 2025 as 18h 49min
Fonte: Estadão

A notícia mais importante do Jornal Nacional desta segunda-feira, 1º, não estará na escalada, as manchetes no começo do telejornal. Ela será apenas uma nota, lida pelo apresentador William Bonner no último bloco do mais importante e influente jornalístico do País: a cara do jornalismo da Rede Globo vai mudar. Após 29 anos na bancada do JN, o jornalista, de 61 anos, decidiu deixar o posto. Ele será substituído por César Tralli, de 54 anos. A data para o anúncio foi escolhida a dedo: a atração completa hoje 56 anos no ar.
A mudança não será imediata. Ela só deve acontecer em novembro, provavelmente no dia 3, quando Tralli assumirá seu lugar no telejornal ao lado de Renata Vasconcellos. Bonner permanecerá na emissora até 31 de outubro apresentando o JN e só deve voltar à tela em fevereiro, quando passará a trabalhar como repórter e apresentador do Globo Repórter, ao lado de Sandra Annenberg. Roberto Kovalick deixará o telejornal Hora 1 e assumirá o Jornal Hoje.
O anúncio da Globo deve despertar um terremoto na internet. Bonner guarda o texto que será lido hoje em seu celular – já o revisou duas vezes. Mas o que faz alguém deixar essa vitrine, o mais valioso lugar ocupado por um jornalista no País? Afinal, o que teria motivado Bonner ou a Rede Globo a tomar a decisão que vai despertar uma enxurrada de especulações, manifestações e análises?
A resposta é simples, mas, para alguns, será difícil de acreditar: Bonner está cansado. Quer ficar longe do celular, abrir um livro e não precisar interromper sua leitura por causa de um push, de uma nova mensagem ou notícia. A digitalização da vida moderna acabou com o deadline, o momento do fechamento de um jornal, o rien ne va plus do jornalismo, quando o editor, finalmente, podia descansar. Ou cuidar da próxima edição.
Vive-se em um fechamento contínuo, constante, sem refresco; ao menos é assim a vida atual dos jornalistas comprometidos com seu trabalho. Não há folga. Contudo, a velha piada da caserna – quem faz o que gosta está sempre de férias – um dia perde a graça. Ainda mais em um mundo polarizado, onde a legitimidade do jornalista para lidar com os fatos é cada vez mais posta à prova.
“A especulação é assim, pode surgir a toda hora; ainda que não houvesse nenhuma coincidência, um calendário, coisa alguma, haveria especulação. Porque, se há uma coisa que eu aprendi há muitos anos já no exercício da função, é que não importa mais a verdade. No universo regido pelas redes sociais, o que vale é a versão. E as versões mais absurdas florescem”, afirmou Bonner nesta tarde. E conclui: “Eu tenho casca. Não se chega a um número desses – 29 anos de JN, 26 de chefia – sem isso”.
O momento do anúncio embute também um cuidado do jornalista e da emissora. Seria impossível fazê-lo em 2026 sem que todas as pessoas do País vissem na saída do âncora razões políticas esconsas, conspirações palacianas ou a entrega de uma cabeça aos que à esquerda ou à direita se acostumaram a ofender a emissora com a expressão “Globo lixo”.
Bonner não estava mais disposto a enfrentar outra exaustiva campanha eleitoral, que pode ser ainda mais dura que as anteriores, com o assédio ao jornalismo profissional e aos jornalistas se tornando mais intenso. Hostilizado por extremistas por ser a “cara da Globo”, há quase uma década o jornalista evita a ponte aérea quando vai do Rio à sua terra natal, São Paulo. Pai de três filhos, ele prefere pegar a estrada e dirigir seu carro.
A mudança foi, portanto, uma decisão pessoal de Bonner. A Globo bem que tentou demovê-lo e conseguiu que tudo fosse adiado por algum tempo. Há pelo menos cinco anos o jornalista exprimiu esse desejo pela primeira vez na empresa. O então diretor de jornalismo, Ali Kamel, o convenceu na época a permanecer na bancada do JN.
“Era evidente que uma movimentação dessa natureza não podia acontecer de uma hora para outra. Era preciso maturação”, disse o jornalista. A prova desse desejo antigo de parar está na entrevista que concedeu em abril ao colega Pedro Bial, no trecho em que tratou de se lembrar do pai, o médico William Bonemer, falecido em 2016. “Quando penso no meu futuro, não é sombra e água fresca, mas com toda certeza não é a rotina que a chefia e a apresentação de um Jornal Nacional representa”. E completou: “Meu sonho é ter uma atividade bacana e relevante”.
No almoço desta segunda-feira na sede da emissora, no Jardim Botânico, no Rio, o jornalista afastou a ideia de uma ruptura. E frisou a continuidade em sua sucessão. “Eu não queria dar a este anúncio uma cerimônia que pudesse transformar a coisa no maior evento da Terra, porque realmente não é.”
E enumerou suas razões: “Ponto um: eu não estou saindo da TV Globo. Ponto dois, eu não estou saindo do jornalismo da TV Globo. O ponto 3 é que o Jornal Nacional continuará a ser exibido no mesmo horário chefiado pela pessoa que é a chefe atual. E quatro: apresentado pela Renata Vasconcellos, que estará lá ao lado de César Tralli."
O ‘Jornal Nacional’ e sua audiência
São raras as entrevistas que Bonner concedeu desde que substituiu o apresentador Cid Moreira no JN. Era abril de 1996. Três anos depois, ele acumularia a apresentação do telejornal com o cargo de editor-chefe do jornal. O programa registrava então audiência superior a 40 pontos no Ibope. Em média, mais de 60% dos televisores ligados estavam sintonizados na atração.
Hoje, o jornal criado em 1969 por Armando Nogueira conhece números mais modestos. Na última sexta-feira, registrou 26,8 pontos de audiência na Grande São Paulo, mantendo a atenção de pouco menos de 40% dos televisores ligados, o chamado share. A audiência média do jornal em 2025 é de 22 pontos, com 37% de share em São Paulo.
Pode parecer uma queda. E é. Esse número inclui toda a audiência, inclusive a das plataformas de streaming, como o Globoplay, onde hoje é possível assistir ao telejornal. Ainda assim, o produto mantém sua relevância. O jornal é visto por cerca de 30 milhões de brasileiros todos os dias. “É o mais importante jornal do mundo democrático. Não há nada semelhante nos outros países”, disse o diretor de Jornalismo da Rede Globo, Ricardo Villela.
E o que Bonner pretende fazer agora? Ele quer ver os filhos, ter tempo para visitar dois deles que vivem e trabalham na França e que ele não vê desde março. “Esse é um dos maiores motivos, o fato de que eu tenho dois filhos hoje morando e trabalhando fora do Brasil. E vê-los é muito difícil para mim. É muito de ligação, de celular.”
Bonner quer voltar ao Morumbi e ver o São Paulo jogar, o que não faz há mais de 15 anos, quer ainda cuidar de seus carros, enfim, aproveitar um pouco a vida enquanto ainda tem saúde. “Eu morro de medo de quando eu realmente parar de ter saúde para aproveitar.” Deixa só a bancada do JN, mas não a emissora, como afirmou. Não será, pois, um novo Galvão Bueno ou Fausto Silva.
Deve ainda participar de coberturas especiais, além de apresentar o Globo Repórter, um dos poucos jornalísticos da emissora no qual ele ainda não trabalhou desde que chegou à Globo, em 1986. Na primeira década, apresentou praticamente todos os programas jornalísticos da empresa – até o Globo Rural – antes de chegar à mais importante das bancadas.
Ali conviveu com as transformações do programa, desde a decisão de dedicar quase a metade do noticiário à morte do cantor Renato Russo, em 1996 – decisão tomada depois de ele convencer sua colega de bancada, a jornalista Lillian Witte Fibe, sobre a importância do personagem cantando um trecho de Faroeste Caboclo - passando pelo ataque às torres gêmeas, eleições presidenciais, conclaves e a pandemia de covid-19.
Com ele, pela primeira vez, o telejornal teve uma mulher como titular da bancada: Lillian Witte Fibe. Depois, ele dividiria a bancada com outras três: Fátima Bernardes, Patrícia Poeta e Renata Vasconcellos. Também quebrou o imobilismo do apresentador sentado, em plano fechado, durante a leitura das notícias. Levantou dela e passou a se mover pelo estúdio. A linguagem ficou mais coloquial.
‘Momento mais dramático’
Mas foi preciso que o Sars-Cov-2 ameaçasse as vidas de milhões de pessoas mundo afora para que Bonner, pela primeira vez, falasse de improviso, sem script, ao vivo, ao dizer que ali estava “esgrimando com loucos e irresponsáveis”. “E tem gente que faz isso com cargo público”, desabafou, antes de concluir: “Nós não vamos desistir”.
O “nós” de Bonner incluía os jornalistas, em um momento em que os principais jornais do País, inclusive o Estadão, uniram-se para garantir aos leitores números confiáveis sobre os casos e mortes na pandemia. O que antes se resumia a apurar, depurar e organizar as notícias do dia se tornou um exercício de desmentir o que circula diariamente em redes sociais.
Na tarde desta segunda-feira, Bonner afirmou: “Sim, esse foi o momento mais dramático da minha carreira”. Bonner pediu desculpas à direção da empresa pelo desabafo no jornal. E o episódio nunca mais se repetiu. “O Jornal Nacional é muito maior do que o que eu penso ou defendo. Ele não me pertence. Eu digo isso para os acionistas. O jornal não pertence aos acionistas da Globo. Ele é um patrimônio nacional. Ele é muito maior do que qualquer indivíduo. Então, o que eu penso, ou deixo de pensar, não é assunto de JN.”
Foi na pandemia que o processo de exaustão de Bonner atingiu o limite que o fez pensar: era preciso parar. “Ela afetou o planeta inteiro, mas, particularmente para quem é jornalista, foi algo especialmente difícil de ler hoje, porque, no caso, nós não tínhamos como não estar aqui (no estúdio). Só que aquilo se deu particularmente para mim num momento em que eu já vinha de muitos anos acumulando essas funções, com uma exaustão louca.”
Bonner viveu os tempos em que os jornalistas, com o término da ditadura militar, não eram mais presos, espancados ou até mortos. Tinha-se legitimidade para entrar em uma comunidade carente sem o risco de ser assassinado como Tim Lopes.
Era um tempo que o Jornal Nacional podia ser apresentado ao vivo, como em 2010, durante o projeto Caravana JN. O apresentador podia ficar em meio ao público sem que ninguém o xingasse ou o cobrasse por alguma notícia ou entrevista. Tudo isso ficou no passado.
“A novidade dos tempos de hoje é que o jornalismo vem sendo atacado”, disse Ricardo Villela. “Grupos políticos visam desacreditá-lo para instalar no lugar realidades paralelas. Ficou muito importante que veículos como os nossos, profissionais, demonstrem cotidianamente quais são os nossos processos, como a gente toma decisões, o que é uma checagem, quando se usa fonte em off, por que você deixa de dar determinada notícia, que você só publica o que estiver devidamente apurado e checado, coisas que muita gente não faz na internet“.
Para Bonner, a certeza de que tudo mudara veio ainda com um drama pessoal: falsários usaram o nome de um de seus filhos para tentar receber o auxílio emergencial em 2020, em uma armação feita para atingir o apresentador e, por extensão, a própria Rede Globo. Durante outra entrevista a Bial, concedida em maio de 2020, no começo da pandemia, Bonner, ainda sem barba, confessava que sua quarentena começara antes de todos.
Na última cobertura ao vivo, na rua, direto da Praça de São Pedro, no Vaticano, experimentou o apoio de brasileiros. Ouviu gritos de “Brasil” de centenas de peregrinos que esperavam a eleição do papa Leão XIV. Uma cena muito diferente da que se acostumou por aqui.
A polarização fizera sua presença em lugares públicos se transformar em um convite a constrangimentos, hostilidade e humilhações. “Eu sou o jornalismo da Globo, eu sou a Globo, eu sou a mídia, eu simbolizo muitas coisas”, desabafou então ao colega. E, mesmo assim, nesses anos todos, Bonner nunca deixou de buscar o tom exato para apresentar uma notícia. Passou a fazer pausas. E permitiu-se respirar.
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