Queda dos juros
Banco Central reduz juros em meio ponto, para 12,75%, e indica cortes na mesma intensidade nas próximas reuniões
Taxa Selic cai ao menor patamar desde maio de 2022
Economia | 20 de Setembro de 2023 as 18h 38min
Fonte: Renan Monteiro - O Globo
![]( http://www.gcnoticias.com.br/files/fotos/mega_noticias/full/36703.jpg )
O Banco Central do Brasil cortou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, conforme esperado, na noite desta quarta-feira. Com isso, a Selic caiu de 13,25% para 12,75%, na segunda queda consecutiva dos juros. Agora, a Selic está em seu menor patamar desde maio de 2022.
Para as próximas reuniões, o BC indicou em seu comunicado que deve manter o mesmo ritmo de cortes.
"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário."
Na visão do economista Luis Otávio Leal, do G5 Parters, esse trecho do comunicado praticamente "tirou do jogo" o corte de 0,75 ponto em dezembro, como alguns economistas previam. Para que isso aconteça, o BC terá que fazer uma indicação bem forte na próxima reunião.
Na visão do Banco Central, o cenário externo ficou mais complexo, com o aumento dos juros por vários bancos centrais. Outro ponto importante do texto foi o recado dado pelo BC ao governo Lula de que é preciso focar no cumprimento das metas:
"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas."
Para a economista-chefe do banco Inter, o recado fiscal acontece porque há no governo Lula quem defenda mudança para pior na meta do ano que vem.
— Esse comentário sobre a importância da execução das metas (para as contas públicas) está ligado a essa discussão sobre revisão de metas e como isso pode impactar nas expectativas (de mercado). O mercado costuma ser mais rápido nessa (re)precificações. Por outro lado, o cenário global ficou mais desafiador porque tem um surpresa de atividade econômica lá fora e inflação mais persistente — avalia.
Como a decisão foi unânime, os dois diretores indicados pelo governo Lula, Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos, votaram como os diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, incluindo Roberto Campos Neto, que preside o BC. Campos Neto já havia acompanhado Galípolo e Santos na reunião de agosto.
Nova decisão em novembro
Em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do BC, havia reduzido a taxa de 13,75% para 13,25% ao ano, após um longo período de manutenção.
No comunicado que acompanhou a decisão de hoje, o BC indicou que o ciclo de cortes vai continuar na próxima reunião, entre os dias 31 de outubro e 1º de novembro. O mercado financeiro também aguarda cortes nos próximos encontros. Este ano, ainda haverá uma última reunião nos dias 12 e 13 de dezembro.
Decisão confirma expectativa do mercado
O resultado de hoje era amplamente esperado, porque o BC já havia indicado, na última reunião, dia 2 de agosto, a manutenção do mesmo ritmo de cortes de meio ponto:
"Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse o BC em agosto.
A manutenção da meta de inflação em 3% em 2026 foi outro fator que deu segurança para o Banco Central começar o ciclo de cortes. O ex-presidente Lula chegou a questionar o número, por considerar baixo, mas a visão do BC era de que um aumento traria o efeito contrário ao esperado pelo presidente. Haveria perde de credibilidade, piora das expectativas e isso obrigaria o BC a manter os juros altos, em vez de começar a cortar a taxa.
De acordo com o IBGE, que divulga os dados mensais do IPCA, o índice oficial de inflação subiu 0,23% em agosto, ligeiramente abaixo da mediana esperada pelo mercado (0,28%). O que mais chamou atenção no dado foi a inflação de serviços, que subiram 0,08% contra expectativa de 0,15%.
A inflação de serviços é uma das maiores preocupações do BC, porque está diretamente ligada ao mercado de trabalho. O custo para a queda da inflação pode ser aumento do desemprego, com alto impacto social. Por isso, a queda desse item é uma boa notícia, mesmo com a redução da taxa de desemprego para 7,9% em agosto.
Fed mantém os juros
Outro dado que foi positivo para o corte de juros no Brasil foi a manutenção, na tarde desta quarta, dos juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed), BC americano, manteve a taxa no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano.
A decisão veio alinhada à expectativa dos investidores e analistas de mercado, mas o tom foi mais duro, sem descartar uma nota alta este ano. Se os juros subirem por lá, poderá haver fuga de dólares de países emergentes, como o Brasil, em direção a investimentos de renda fixa nos EUA.
A consequência aqui no país será o encarecimento de produtos importados, com impacto em itens trigo, diesel e gasolina. Ou seja, um cenário pior para a inflação e os juros no Brasil.
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