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Artigo

Tiozão do Zap na presidência da Câmara

28 de Setembro de 2021 as 18h 35min

Na sessão da Câmara de vereadores desta segunda-feira (27), o presidente Élbio Volksveis (Patriota), deixou a cadeira mais alta do legislativo municipal para ir à tribuna soltar uma bela de uma Fakenews. Seu discurso foi uma tentativa de rebater a fala do deputado estadual, Lúdio Cabral (PT), que usou o púlpito para falar de agroecologia, dando ênfase para importância do Estado de Mato Grosso superar a barreira da monocultura de commodities e começar a produzir comida de verdade.

Depois de afirmar que não tem como alimentar o mundo sem usar agrotóxicos, Élbio resolveu falar do preço da carne de boi nos Estados Unidos. Convicto, o presidente da Câmara disse que um pedaço de carne, “que não dava 5kg”, custava mais de 350 dólares nos Estados Unidos – algo na casa de 70 dólares o quilo.

Para garantir que a informação era de verdade, Élbio disse que tinha o vídeo em vários grupos de Whatsapp. Sim! Élbio pegou um vídeo disparado em grupos de Whatsapp e, sem qualquer apuração ou contexto, levou o assunto para a tribuna da Câmara, acreditando do fundo de suas vísceras que aquele mesmo era o preço da carne nos Estados Unidos.

Tivemos acesso ao tal vídeo. Nele, aparece uma peça de Rib Eye (um corte nobre retirado do contrafilé do boi). Tratava-se de uma carne “prime”. Ainda assim, longe de custar 70 dólares o quilo.

Se pelo menos Élbio tivesse assistido ao vídeo direito, perceberia que o preço da libra daquela carne custava US$ 19,90 – logo, o quilo do bifão nobre custava US$ 43,87. Mas para saber disso era preciso ler (pelo menos a etiqueta de preço que aparecia no vídeo).

Élbio não gosta muito da imprensa. Já falou por várias vezes que não vê necessidade da Câmara usar o recurso de mídia para dar publicidade aos seus atos. Também não costuma responder às demandas dos jornalistas. É o típico “Tiozão do Zap”, que se informa dentro da sua bolha nas redes sociais, multiplica fakenews e, muito provavelmente, se orgulha disso.

Mas o GC Notícias é um veículo de informação, então vamos à informação. Fizemos uma lista do preço de alguns cortes de carne, na data de hoje (28 de setembro de 2021), na cidade de Orlando, no Estado da Flórida, nos Estados Unidos, em uma grande rede de supermercados. Escolhemos Orlando porque é uma das cidades com maior número de brasileiros (isso se não for a maior).

A picanha, hoje, em Orlando, custa US$ 8,49 a libra – US$ 18,71 o quilo. É bem verdade que o corte não faz muito sucesso por lá. A Fraldinha, que ainda salva alguns churrascos no Brasil, em Orlando custa US$ 9,49 a libra – US$ 20,92 o quilo. Por lá é mais comum vender a picanha junto com a alcatra, que sai por US$ 10,11 o quilo. Um corte bastante valorizado é a costela bovina, que custa US$ 16,51 o kg.

Para fins de comparação, coxa e sobrecoxa de frango, em Orlando, tá custando US$ 1,96. Já a costelinha de porco, porcionada, na bandeja de isopor, US$ 6,59 o quilo.

Esses são preços de carnes “convencionais”. Assim como existe no Brasil a “Picanha do Bolsonaro”, a R$ 1,7 mil o quilo, por lá também é fácil de encontrar extravagâncias. Mas para o povo normal, os preços são esses aí mesmos, com algumas variações.

Para os malabaristas de argumentos furados, que vão tentar fazer a conversão do preço em dólar para Real, já aviso: multiplica também o salário mínimo de cada país. Em Orlando, o salário mínimo é de US$ 1.160,00 – em Real, R$ 6.298,80.

O verdadeiro raciocínio aqui é que o mais raso trabalhador de Orlando gasta 0,16% do seu salário para comprar um quilo de coxa e sobrecoxa de frango. Um brasileiro, com salário mínimo, gasta 0,84% do seu ganho mensal para comprar a mesma coisa. Ou seja, no país que “alimenta o mundo”, a perna do frango custa 5 vezes mais.

E ainda somos obrigados a ouvir, da boca daqueles que nos governam, que não está tão caro assim.

Sai do Zap, Tio!

Jamerson Miléski

O Observador