Artigo
Pior que perder a eleição é perder a identidade
10 de Abril de 2025 as 13h 47min
Fonte: Jamerson Miléski
“Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. A frase do livro Alice no País das Maravilhas, do britânico Lewis Carroll, parece resumir o momento político do deputado federal e ex-prefeito de Sinop, Juarez Costa. Assim como a protagonista da fábula, Juarez está prestes a entrar em um buraco, apostando que lá a vida será melhor.
Enquanto Alice vivia suas incertezas familiares e achou que tudo melhoraria saindo de casa e seguindo o Coelho, o empate de Juarez é com o MDB. Desde o final de 2024 farfalham notícias de que o deputado irá trocar de partido. O especulômetro começou com o PP e mais recentemente é dada como certa a ida dele para o Republicanos – partido que no Mato Grosso tem como expoente atual o vice-governador Otaviano Pivetta, que deve ser o nome a dar sequência no projeto eleitoral do grupo de Mauro Mendes.
A migração tem uma motivação: encontrar um lugar melhor para disputar a eleição de 2026. Juarez deve ter feito suas contas e assombrado pelo fenômeno Rosa Neide (PT), que em 2022 fez mais de 124 mil votos e não foi eleita, decidiu achar um “time” mais competitivo, capaz de formar legenda para uma, duas ou quem sabe três cadeiras na Câmara Federal. No Republicanos, Juarez estaria na mesma coligação do deputado Coronel Assis, que também anunciou a mudança de partido, e provavelmente Neri Geller, que também cogita pular para sigla.
Todo político faz essa conta. É parte do jogo. A questão é se essa matemática é de fato vantajosa para Juarez.
A única vez que o ex-radialista venceu uma eleição excepcionalmente na base da amarração política foi em 2008, quando disputou a prefeitura de Sinop contra um cansado grupo político que estava há 8 anos no poder. Naquela época José Riva e Blairo Maggi ergueram o palanque e colocaram Juarez em cima. E ele não precisou sair do MDB para isso. Foi eleito prefeito de Sinop, depois reeleito e saiu como uma aprovação até então inédita. Surfou nos programas do Governo federal, inundando Sinop com recursos que deram um “boom” na infraestrutura da cidade.
O eleitor entendeu claramente quem era Juarez, como ele funciona politicamente. Sua identidade ficou bem clara. Por isso em 2018, foi eleito deputado federal. Replicou sua fórmula de “buscador de recursos” em outros municípios e assim expandiu sua base. Fez o “orçamento secreto” aparecer nas prefeituras. Até então, a biografia estava dentro da coerência.
Mas ele decide interromper o mandato de deputado federal para regredir à eleição municipal. Em 2020 Juarez entra na disputa com uma autoconfiança que só era menor que o tamanho do erro de leitura do cenário. Achando que seria carregado no colo em razão dos dois bons mandatos que fez como prefeito, Juarez faz uma campanha que beira a arrogância. O eleitor olhou e não entendeu. Resultado: perdeu para um Velho adversário que nunca o havia vencido.
Perder a eleição de 2020 foi ruim para Juarez. Mas teria sido muito pior perder sua identidade política. Ele cumpriu seu luto eleitoral em Sinop e enquanto a poeira baixava, foi exercitar sua política genuína em outros CEP’s. Se fortaleceu ainda mais nesses municípios e por consequência logrou êxito na eleição de 2022.
É mais fácil convencer alguém quando não se está fingindo. Atuando com o seu estilo, Juarez ganha a confiança eleitoral sem demora. Coleciona admiradores ao invés de bajuladores.
Dentro do MDB Juarez é um símbolo, visto como um sucessor natural do velho cacique que se prepara para deitar o cocar. Ele está no partido desde o começo da sua jornada política. São 25 anos de MDB. Sua sigla entende suas posições e demandas. Condições similares talvez não estejam aguardando Juarez na nova agremiação.
Comentando o ingresso de Juarez no Republicanos, o deputado estadual Diego Guimarães disse que para entrar no partido, o deputado precisa abraçar de vez a direita e parar de falar com o PT. Nem entrou na casa e já tomou o primeiro enquadro. Talvez para fazer parte dessa agremiação, Juarez tenha que, na Câmara Federal, agir, desde já, como um radical de extrema direita. Seu eleitorado vai entender esse pinote político? Ou a aposta é que o fanatismo daquela porção tão desejada do eleitorado de Mato Grosso substitua a base já consolidada por Juarez?
Juarez sempre foi um político de centro, moderado e com capacidade de trânsito. Sua identidade, para não dizer habilidade, está em ser capaz de conversar com quem segura a chave do cofre público. De forma objetiva, pegando o projeto que é bom e buscando as vias institucionais para viabilizá-lo.
Juarez não vai conseguir trocar esse seu perfil de fazer política pelo estereótipo de deputado barraqueiro de tribuna, cuspidor de conversa fiada e que instaura a 5ª série no plenário, cujo tal eleitorado de ultra direita adora votar.
Lembre-se deputado: o equilíbrio nunca está nas pontas. Sem o centro, a balança não mede nada. Pior que perder uma eleição é perder a identidade. Dessa toca pode nunca mais sair um coelho.
*Um adendo - No momento em que esse artigo estava sendo publicado, uma notícia de última hora chegou: Juarez vai se filiar ao Podemos. Parece que o deputado manteve a moderação e encontrou o equilíbrio, mantendo-se no centro e, portanto, capaz de preservar a sua identidade política. Boa conta deputado!
Jamerson Miléski
O Observador