Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Boa noite, Segunda Feira 01 de Dezembro de 2025

Menu

Artigo

Pesquisa aponta depressão e ansiedade como causas de Síndrome da Ardência Bucal

01 de Dezembro de 2025 as 11h 16min

Uma ardência que toma a boca - principalmente a língua - como se estivesse em brasa e insiste em permanecer mesmo sem qualquer ferida visível. Para milhares de pessoas — especialmente mulheres entre 50 e 70 anos — esse sintoma é parte da rotina diária. Trata-se da Síndrome da Ardência Bucal (SAB), uma condição ainda pouco compreendida e frequentemente subdiagnosticada. Agora, um novo estudo internacional publicado este mês reforça algo que a prática clínica vem indicando há anos: a SAB não é apenas um problema na boca, mas uma condição multifatorial que envolve mente, sono e sistema nervoso.

A pesquisa, divulgada na revista inglesa Oral Diseases e conduzida por grupos do Brasil, Estados Unidos e Espanha, analisou 22 estudos com 2.786 pacientes. Os números chamam atenção: 71% apresentam distúrbios do sono, 65% sofrem de ansiedade e 60% convivem com depressão. Ou seja, em boa parte dos casos, a queixa de ardência é apenas a face mais visível de um quadro amplo que muitas vezes passa despercebido pelos próprios pacientes.

Essa falta de compreensão faz com que muitas pessoas enfrentem uma verdadeira peregrinação. Trocam pastas de dente, evitam determinados alimentos, fazem diversos exames e continuam sem respostas. A Síndrome da Ardência Bucal não deixa marcas na mucosa, mas impacta profundamente a qualidade de vida, a autoestima e a estabilidade emocional. A predominância em mulheres no período pós-menopausa não é coincidência: alterações hormonais afetam a sensibilidade oral e o limiar de dor, o que contribui para o surgimento ou agravamento da condição.

O ponto central que o novo estudo confirma é que avaliar apenas a cavidade oral é insuficiente. A ardência bucal é real e persistente. E mais: ela pode ser consequência de um desequilíbrio maior relacionado ao sono, à ansiedade, à depressão ou a mecanismos neurológicos ainda pouco compreendidos. Quando esses fatores não são investigados, o tratamento fica incompleto.
Se a condição é multifatorial, a abordagem terapêutica também precisa ser. Não existe uma solução única, mas há caminhos eficazes quando o plano é individualizado. Laserterapia para modulação da dor, hidratação profunda da mucosa com vitamina E, moduladores neurais tópicos, intervenções nutricionais quando há deficiências e acompanhamento psicológico direcionado formam um conjunto de estratégias que, combinadas, oferecem alívio real e consistente.

O maior equívoco no manejo da Síndrome da Ardência Bucal é tratar apenas o sintoma. É como tentar apagar o fogo sem olhar para o que mantém a chama acesa. Se o paciente dorme mal, vive em estado de ansiedade ou enfrenta depressão, nenhuma medicação ou laser terá efeito duradouro. Por isso, a mensagem que a pesquisa deixa é clara e urgente: a ardência bucal exige uma abordagem multidisciplinar, investigação ampla e sensibilidade clínica.

A condição não é uma doença da língua. É uma doença que se manifesta na língua. Compreender essa diferença é fundamental para que profissionais e pacientes caminhem juntos rumo a tratamentos mais efetivos e à recuperação da qualidade de vida de quem convive com essa queimação persistente.

Arlindo Aburad

*Arlindo Aburad é dentista, doutor em Patologia Bucal pela USP