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O robusto crescimento de Mato Grosso
17 de Novembro de 2025 as 07h 25min
O IBGE divulgou, na última sexta feira (14), o relatório do Sistema de Contas Nacionais com os dados do desempenho da economia dos estados brasileiros no ano de 2023, representado pelo indicador do Produto Interno Bruto (PIB). Todos os 27 estados do país apresentaram elevação do PIB em 2023, comparado com 2022, ano em que as economias regionais ainda se ressentiam da ressaca causada pelas retrações forçadas pela pandemia (2020-2021).
O estudo de contas regionais do IBGE traz dados sobre a composição e evolução do PIB de cada estado, calculados com base no valor anual da produção, consumo intermediário e valor adicionado de cada atividade econômica, expressos em valores de mercado.
Mais uma vez a economia de Mato Grosso se destaca no estudo publicado pela instituição de pesquisas. Em 2023 a economia de Mato Grosso cresceu 12,9%, terceiro maior desempenho do país, atrás apenas do Acre (14,7%) e Mato Grosso do Sul (13,4%). Mas à frente de gigantes como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. No mesmo ano (2023) o PIB do país cresceu 3,2%.
“Mesmo diante de dados macro e microeconômicos tão positivos, Mato Grosso ainda convive com constrangedoras desigualdades sociais e bolsões de pobreza”
As três economias que mais cresceram (AC, MS, MT) foram impulsionadas pela forte expansão da agropecuária, que, por sua vez, foi puxada pelo crescimento da produção de grãos, especialmente o cultivo da soja.
No caso de Mato Grosso, além da soja e do milho, a forte expansão da fabricação de etanol de milho e da indústria de alimentos também tiveram alto impacto. Em Mato Grosso do Sul, o acelerado crescimento da indústria de celulose foi importante para o expressivo desempenho da economia daquele estado. No Acre, o avanço do cultivo da soja e a indústria extrativista foram os protagonistas do bom desempenho econômico.
No comparativo levantado pelo estudo no período de 2002 a 2023 a economia de Mato Grosso teve o melhor desempenho entre os estados.
Com PIB em valores correntes de R$ 273 bilhões, o crescimento real da economia mato-grossense no período foi de 187,5%, média anual de 5,2%. No mesmo período o Brasil cresceu a uma média de 2,2%.
O estado aumentou sua participação relativa no PIB nacional de 1,2% (2002) para 2,5% (2023).
Mesmo a agropecuária ocupando o protagonismo do excepcional desempenho econômico de Mato Grosso, os setores de serviços (serviços públicos, comércio e serviços em geral) e a indústria de transformação também apresentaram robusta performance, contribuindo de forma decisiva para o excepcional aumento do PIB estadual nas últimas duas décadas.
As estatísticas das contas regionais do IBGE mostram que o PIB per capita (PIB dividido pela população) de Mato Grosso é de R$ 74.620,05, o terceiro maior do país, atrás apenas do Distrito Federal (R$ 129.790,44) e São Paulo (R$ 77.566,27).
No mesmo dia (14) o IBGE também divulgou dados do desemprego no país no terceiro trimestre, por meio da PNAD-C (Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua), mostrando que o desemprego em Mato Grosso é de 2,3%, o menor do país, ao lado de Santa Catarina. O mercado de trabalho aquecido confirma que a economia do estado continua em ritmo de crescimento forte em 2025, após uma leve freada no ano de 2024, segundo dados preliminares.
Mesmo diante de dados macro e microeconômicos tão positivos, Mato Grosso ainda convive com constrangedoras desigualdades sociais e bolsões de pobreza. No estado, 265 mil famílias continuam dependendo das transferências de renda dos programas sociais das administrações federal e estadual como Bolsa Família e SER Família para se alimentarem e sobreviverem.
Diante de tanta riqueza gerada de forma continuada, trata-se de situação de difícil explicação. Cabe a reflexão sobre o que todas as forças vivas da sociedade, lideranças políticas, empresariais, religiosas, ativistas sociais e estudiosos da academia ainda precisam fazer para superar o desafio de reduzir e extinguir as desigualdades sociais, regionais e a pobreza que ainda perduram em todas as regiões do estado. Chaga social que, caso não tenha uma boa solução, continuará constrangendo Mato Grosso em sua empreitada para se tornar um estado desenvolvido econômica e socialmente.
Vivaldo Lopes
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*Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP . E-mail: vivaldo@uol.com