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Artigo

O poder escravizante das telas

“Ao passo que o homem se exalta por sua soberania sobre as máquinas, mal sabe ele que estas o tornaram escravos de seu sistema maquiavélico.” Samuel Knevitz Silveira.

02 de Abril de 2025 as 13h 08min
Fonte: Júlio Casé

Ao escrever este texto, vivenciei os lapsos de uma jovem nostalgia. Aquela dos tempos em fila nos orelhões, com pacotes de fichas para fazer as ligações, onde cada ficha durava cerca de três minutos. Os orelhões ainda existem em alguns lugares como lembrança. Apesar de funcionarem, já não são mais usados. Esses deram lugar aos moderníssimos smartphones que, com suas múltiplas funções, modificaram o padrão de vida de seus usuários. Hoje, é impossível viver sem os aplicativos e seus benefícios, mas os prejuízos também fazem parte e estão visitando as casas das famílias.

O uso abusivo de telas está associado a diversos impactos na fisiopatologia do cérebro, afetando tanto sua estrutura quanto o funcionamento cerebral. Entre as alterações observadas na estrutura cerebral, comprova-se a redução do volume de massa cinzenta, especialmente em crianças e adolescentes, o que tem impacto no controle cognitivo, na tomada de decisões e na atenção. A substância branca, que é responsável pela comunicação entre as diferentes áreas do cérebro, também é afetada pelo uso excessivo de telas, com problemas na memória, função executiva e também na atenção. No córtex cerebral, a camada externa do cérebro responsável pelo pensamento complexo tem se tornado mais fina em pessoas que usam telas em excesso, incrementando os problemas de saúde mental.

No funcionamento cerebral, a desregulação do chamado sistema de recompensa tem tornado o cérebro menos sensível e aumentado o risco de dependência de telas. Outras alterações importantes incluem a alteração nos padrões de sono, com a interferência na produção de melatonina a partir da exposição à luz azul emitida pelas telas, com a consequente dificuldade para dormir e outros distúrbios do sono. Os estudos em andamento sinalizam insistentemente que existem prejuízos ao cérebro de crianças e adolescentes entregues ao uso abusivo de telas. O alerta dá-se aos pais enquanto houver a exposição indiscriminada.

A tecnologia faz parte do nosso dia a dia, mas é importante que pais, professores e a sociedade ajudem as crianças a encontrarem um equilíbrio saudável no uso das telas. Algumas dicas valiosas incluem reduzir o tempo de tela, definir horários específicos, minimizando a exposição à noite para não prejudicar o sono, ser o exemplo, não usar as telas, mostrando outras formas de se divertir, relaxar e brincar, realizando atividades em conjunto ao ar livre. Incentivar a prática de jogos de tabuleiro e quebra-cabeças são opções. Matricular as crianças em atividades extracurriculares, como esportes e danças, e estimular a socialização valem a motivação. Lembre-se de que o objetivo não é eliminar completamente o uso de telas, mas sim encontrar um equilíbrio saudável que permita às crianças aproveitarem o melhor de seu mundo social e tecnológico. É necessário que pais e cuidadores amparem-se em conhecimento para evitar consequências futuras nas gerações que estão crescendo em meio à dependência de telas.

Quanto à nostalgia? Essa segue sendo pertinente, mas adaptativa. É inegável que as tecnologias são ferramentas importantes no cenário atual. Dispensá-las estaria fora de cogitação. Como utilizá-las de forma saudável é o desafio da atualidade para que não sigamos atrelados ao poder escravizante das telas.

 

*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico psiquiatra pelo Hospital Municipal do Campo Limpo - SMS - São Paulo- SP. Médico de Família e Comunidade pela SMS- Sinop - MT. Professor de medicina pela UFMT campus Sinop - MT. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica.  Titular da cadeira número 35 da Academia Sinopense de Ciências e Letras cujo o patrono é o médico e escritor Moacyr Scliar. Contato: email: juliocasemed@gmail.com.

Júlio Casé

Artigo

*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico psiquiatra pelo Hospital Municipal do Campo Limpo - SMS - São Paulo- SP. Médico de Família e Comunidade pela SMS- Sinop - MT. Professor de medicina pela UFMT campus Sinop - MT. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica.  Titular da cadeira número 35 da Academia Sinopense de Ciências e Letras cujo o patrono é o médico e escritor Moacyr Scliar. Contato: email: juliocasemed@gmail.com.