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O horizonte de juros e inflação
10 de Novembro de 2025 as 07h 43min
Em sua última reunião, concluída na quarta feira passada (05), o Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado que reúne o presidente e diretores do Banco Central, anunciou o que já era amplamente esperado por economistas, analistas de mercado, investidores e agentes econômicos: manutenção da Selic no elevado patamar de 15% ao ano.
Havia dúvidas entre os agentes econômicos e analistas dos sinais que o Copom emitiria sobre quando vai dar início ao ciclo de redução da taxa básica de juros. No conciso e impreciso comunicado feito ao mercado após a reunião a autoridade monetária deixa claro que o fim do ciclo contracionista e início do afrouxamento monetário começará, provavelmente a partir de março de 2026.
A indicação aparece no trecho do comunicado no qual afirma que os juros permanecerão altos por período prolongado, suficiente para conter movimentos resilientes de alta da inflação, mesmo reconhecendo sinais de arrefecimento inflacionário nos últimos meses.
Os principais argumentos econômicos do Copom são a persistência da inflação de serviços, a insegurança da política fiscal da administração federal e um ambiente internacional hostil, ainda recheado de tensões geopolíticas e a trajetória errática da política comercial dos Estados Unidos de elevação de tarifas alfandegárias que impactam mais fortemente os países de economias emergentes, caso do Brasil.
No cenário doméstico, o Copom destaca o aquecido mercado de trabalho, com taxa de desemprego de 5,6%, a menor da série histórica, aumento da massa salarial e a elevação da renda média do trabalho. Naturalmente, se as pessoas estão empregadas, de maneira formal, autônoma ou informal, as famílias vão às compras, pressionando a inflação.
“Com a proximidade das eleições gerais, vários riscos relevantes que se apresentavam no início de 2025 foram dissipados”
A despeito do ambiente econômico interno continuar um tanto conturbado, com a proximidade das eleições gerais, vários riscos relevantes que se apresentavam no início de 2025 foram dissipados.
Um dos riscos afastados foi o climático. O setor agrícola entregou safra recorde em 2025, assegurando queda nos preços dos alimentos. O câmbio estável e levemente depreciado também colaborou para a redução da pressão inflacionária. No período de maio a setembro o IBGE registrou quedas sucessivas na alimentação no domicílio, fato que não estava nos modelos da maioria dos analistas que afirmavam no início de 2025 que os preços dos alimentos teriam aumento em todos os meses do ano.
A política monetária contracionista implementada pelo Banco Central teve desempenho decisivo, ao desaquecer a atividade econômica com a imposição de juros nominais de 15% ao ano e reais de 9,74%, um dos maiores do mundo.
O comércio internacional, de forma transversal, teve papel importante. As tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos forçaram o redirecionamento da produção nacional voltada à exportação o que acabou aumentando a oferta doméstica, ajudando a reduzir preços de alguns produtos, especialmente dos alimentos. A estabilidade e leve redução dos preços internacionais do petróleo também colaboraram para a redução da inflação, já que a gasolina, seu principal derivado, representa 5% da formação do IPCA.
Com a indicação de começo do ciclo de redução de juros em março próximo e a expectativa de inflação próxima de 4% ao longo de 2026, a mediana das expectativas dos analistas é que a Selic caia para 11,75% até dezembro do próximo ano.
Assim, o horizonte de inflação na meta de 3% e juros de um dígito fica alongado para o ano fiscal de 2027, caso fatores políticos, geoeconômicos inesperados ou disruptivos não surpreendam e afetem os cenários doméstico e internacional.
Vivaldo Lopes
Artigo
*Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP . E-mail: vivaldo@uol.com