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Artigo

O embargo americano

28 de Julho de 2025 as 09h 46min

Tudo indica que o insano embargo imposto pelo governo americano às exportações brasileiras comece a funcionar a partir da próxima sexta-feira (01/agosto). Sim, embargo, pois aumentar em 50% tarifas alfandegárias sem nenhum fundamento econômico ou comercial é uma sanção e não medida para equilibrar relações comerciais com um país em que os Estados Unidos sempre tiveram superávit na balança comercial.  Isto é, os Estados Unidos vendem mais do que compram do Brasil.

Repentinamente o Brasil se tornou alvo preferencial do governo americano. Aparentemente, apenas por ter um governo de centro-esquerda.

Diante desse cenário de perdas iminentes à economia e o ataque gratuito à soberania do Brasil, é estarrecedor constatar que parcela expressiva de empresários e políticos nacionais apoiem ostensivamente as sanções do governo americano ao país

O embargo, sob a ótica econômica, é um jogo em que todos perdem. Perde o Brasil, a nona maior economia do mundo, com um PIB de U$ 2,2 trilhões, que sofrerá com a queda das suas exportações, desaceleração da atividade econômica e desemprego nas cadeias produtivas mais afetadas.

Mas perde também a economia americana que imporá um imposto extraordinário às suas empresas que necessitam dos insumos importados do Brasil e seus consumidores que sofrerão com aumento de preços de produtos do seu cotidiano como suco de laranja, hamburguer, café, móveis domésticos, entre outros.

Perdem as empresas americanas que atuam no Brasil e exportam para o mercado americano, como as montadoras de automóveis e as farmacêuticas, para citar apenas dois exemplos.

Nos Estados Unidos, grandes empresas fizeram chegar à Casa Branca que precisam de bens de consumo e insumos indisponíveis naquele país e que precisam importar do Brasil para manter suas operações. A poderosa Associação das Marcas de Bens de Consumo ( Consumer Brands Association ) que representa empresas como Nestlé, Coca-Cola, Pepsi-Cola, Kellog comunicou ao governo americano que a taxa de 50% pode penalizar o consumidor americano, pois não possuem substitutos imediatos para o fornecimento dos produtos e insumos brasileiros.

Os denominados recursos naturais indisponíveis representam apenas 10% da cadeia de suprimentos, mas como não podem crescer e não estão disponíveis nos Estados Unidos, precisam ser importados do Brasil, como café, suco de laranja processado, carne bovina para hamburguer. A associação elencou alguns desses insumos: café, suco de laranja, goiaba, manga, gengibre, mel, carne bovina, cacau, polpa de eucalipto, polpa kraft branca de madeira, madeira para móveis.

Na última quinta-feira (04) a sóbria e respeitada revista britânica de negócios The Economist publicou longa reportagem (“A chocante agressão de Trump ao Brasil”) na qual afirma que as medidas do governo americano contra o Brasil “... são chocante agressão” e a maior intervenção em um país latino-americano desde a Guerra Fria, na década de 1960.  Ao final da reportagem a revista analisa que “... se a intenção de Trump era fortalecer a direita nas eleições gerais do ano que vem, o tiro está saindo pela culatra”, “...pois a popularidade do presidente Lula que estava em queda subiu” e “...brasileiros de todos os tipos apoiam o presidente” na defesa da soberania nacional.

O embargo econômico atingirá de forma mais intensa algumas cadeias produtivas e alguns estados. A Confederação Nacional da Agropecuária, a maior representação da agropecuária nacional, publicou levantamento afirmando que o impacto negativo sobre o agronegócio poderá atingir quase U$ 6 bilhões.  O CEO da Embraer já afirmou que o aumento das tarifas sobre aviões e componentes aumentará em U$ 50 milhões o preço final de cada unidade vendida para os clientes americanos.

Em palestra no último sábado (26), em evento promovido por um grande banco digital, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que o embargo vai reduzir 2,7 pontos percentuais no crescimento do PIB do estado em 2025.  Estimativas preliminares indicam que as sanções podem reduzir em até 0,4 ponto percentual o crescimento do Brasil neste ano, cujo crescimento está estimado em 2,5%.  

Diante desse cenário de perdas iminentes à economia e o ataque gratuito à soberania do Brasil, é estarrecedor constatar que parcela expressiva de empresários e políticos nacionais apoiem ostensivamente as sanções do governo americano ao país.

O Brasil pode fazer pouco, além do que já faz, para evitar a entrada em vigor das sanções. A sensatez indica que o país deve continuar dialogando e procurando canais diplomáticos e empresariais em busca de uma solução negociada, ter um plano emergencial para apoiar com linhas de crédito as cadeias produtivas mais prejudicadas e persistir na defesa da soberania do país. E somente em última instância, utilizar a Lei de Reciprocidade seletivamente para retaliar produtos americanos e não se submeter aos humores e rumores despóticos do presidente Trump.

Vivaldo Lopes

Artigo

*Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP . E-mail: vivaldo@uol.com