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Métodos de barreiras biológicas - quem não pagará a conta?
28 de Abril de 2020 as 08h 36min
"A partir de hoje, 15 de maio de 1847, todo estudante ou médico, é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos, com uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem exceção".
Após muitos estudos sobre o problema da mortalidade por febre puerperal das mulheres na clínica obstétrica do Allgemeine Krankenhaus, em Viena (Áustria), todas por infecção, Ignaz Philipp Semmelweis estava convencido que as infecções estavam se disseminando pelas mãos dos médicos e enfermeiros que mantinham contato as mulheres em trabalho de parto após as dissecações de cadáveres da mesmas puérperas falecidas. A propagação das infecções pela matéria cadavérica, acontecia nas áreas que eram expostas por laceração no mesmo trabalho de parto, o que não ocorria com as mulheres que eram submetidas aos partos por parteiras que laboravam na sala ao lado dos médicos e que somente, realizavam essa tarefa. Semmelweis recém havia perdido um colega vítima de uma lesão por corte de bisturi do qual lhe permitiu a entrada de partículas cadavéricas. Não estariam as mulheres se infectando pelas mesmas partículas inoculadas na manipulação em trabalho de parto? Pensou ele. Imediatamente, o médico afixa na porta da unidade as recomendações de lavagem de mãos e resolutivamente, a mortalidade, que chegou aos 18,27% em abril, caiu a partir de junho daquele ano, para a média de 3,04%. Por ironia do destino, Semmelweis morre em 1865, vítima de septicemia por uma infecção através de uma ferida aberta, muito parecida com as lesões que serviram de base para seus estudos e luta pela assepsia.
No final do século XIX, com o advento dos estudiosos sobre infecção e microrganismos, a tendência de higienização das mãos tornou-se uma prática corriqueira. Devido a quantidade de repetições de higienizações para procedimentos diários, as mãos tornavam-se irritadas pelos produtos químicos e assim, com a necessidade, a invenção da luva de borracha foi inevitável. Em seguida, notou-se que o uso de máscara também era um importante método para evitar a contaminação em centros cirúrgicos. Em 1897 um cirurgião polaco-austríaco conhecido como Mikulicz introduziu o uso, tendo sucesso na redução de infecções.
Comparando aos dias atuais, diante da preocupação das autoridades de saúde a respeito da expansão do Covid-19 no Brasil e no mundo, houve o resgate de medidas que foram avançadas em anos de nossa história . Normas que, antes eram apenas práticas dos profissionais da saúde, como a higienização constante das mãos e o uso de máscaras. Atualmente, com a Pandemia mundial,os especialistas, depois de grandes estudos, concluíram que tais medidas sejam aplicadas a população em geral, no intuito da não dispersão desregrada dos vírus e, um bloqueio de contaminação entre as pessoas mesmo assintomáticas, evitando transmissão a um maior número de pessoas ao mesmo tempo, o que poderia gerar um colapso do sistema de saúde local com a falta de atenção e recursos a todos os indivíduos que possivelmente o necessitar. Como em toda as epidemias ocorridas em nossa história, a maioria da população nunca acreditou ou valorizou a agressividade dos patógenos até, comprovarem ativa ou passivamente as mazelas que os inoficiosos parasitas possam causar a sua saúde e, aos seus mas, é certo banalização de medidas orientativas sempre foram corriqueiras nas epidemias.
Anos passados pela nossa história e, ainda seguimos com as mesmas clássicas medidas. Diante dos dados remotos, vemos a importância do rigor as orientações de higiene, desde o simples hábito de lavagem das mãos frequente até o uso de máscara para evitar contaminar o outro e também se contaminar. Talvez este hábito cause incômodo ou desconfiança naqueles que não enxergam com grandes olhos esse mal que nos rodeia. Talvez em um futuro próximo veremos as consequências, ficando marcado na história somente aqueles que saíram de seu comodismo e contribuíram para vencer mais um inimigo desconhecido e assim, concluiremos quem realmente pagará ou não a conta.
Referencias::
Callegari,Desiré Carlos. A assepsia das mãos na prática médica. CREMESP. Edição 51 - Abril// de 2010. Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=480
Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Higienização das mãos: histórico e aspectos científicos.Publicado em 05/05/16. Disponível em: https://www.amib.org.br/noticia/nid/higienizacao-das-maos-historico-e-aspectos-cientificos/
Fontana, Rosane Teresinha. As infecções hospitalares e a evolução histórica das infecções. Rev. bras. enferm. vol.59 no.5 Brasília Sept./Oct. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672006000500021. Acesso em 26 Abril. 2020.
*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico de Familia e Comunidade pela SMS- Sinop/MT. Professor de medicina de pela UFMT campus Sinop. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica.
Texto escrito com a participação da Dra Larissa Hernandes Guerzoni, médica residente de Medicina de Família e Comunidade SMS Sinop - MT.
Júlio Casé
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*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico psiquiatra pelo Hospital Municipal do Campo Limpo - SMS - São Paulo- SP. Médico de Família e Comunidade pela SMS- Sinop - MT. Professor de medicina pela UFMT campus Sinop - MT. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica. Titular da cadeira número 35 da Academia Sinopense de Ciências e Letras cujo o patrono é o médico e escritor Moacyr Scliar. Contato: email: juliocasemed@gmail.com.