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Hanseníase: Desmistificando o ‘‘hansecínio ilógico’’

31 de Janeiro de 2023 as 17h 12min

"Quando alguém tiver um inchaço, uma erupção ou uma mancha brilhante na pele que possa ser sinal de lepra será levado ao sacerdote Arão ou a um dos seus filhos que seja sacerdote. Este examinará a parte afetada da pele, e, se naquela parte o pelo tiver se tornado branco e o lugar parecer mais profundo do que a pele, é sinal de lepra. Depois de examiná-lo, o sacerdote o declarará impuro.”( Levítico 13, 2-3)

Muitos anos se passaram, mas ela continua se comportando da mesma maneira. Infectando da mesma forma e, sendo tratada algo parecido como sempre. A Hanseníase, doença crônica infectocontagiosa, que ainda sequela pessoas, desestabiliza famílias, segue sendo a protagonista uma enxurrada de preconceitos e estigmas sociais. Uma doença milenar que segue na moda. Sendo o Brasil o sétimo pais mais populoso do mundo, é o segundo detentor de casos no planeta, perdendo apenas para a Índia que esta há um passo de ser o pais mais populoso da Terra.

A Hanseníase foi realmente caracterizada como doença bacteriana quando teve seu micróbio, a Mycobacterium leprae, descoberto por Gerhard Armauer Hansen em 1873. Essa foi a primeira bactéria a ser relacionada a uma doença humana. Até hoje não é possível cultivá-la em laboratório e, esse é um fator considerado como um dos principais empecilhos para a erradicação da doença. O tempo de multiplicação é lento e pode levar até 10 anos para começar a produzir sintomas, porém, alguns sinais começam a apresentar-se muito antes.

Atualmente a teoria afirma que a hanseníase seja disseminada pela transmissão de uma pessoa para outra via gotículas e secreções nasais. O contato casual e breve parecem não disseminar a doença. Cerca de metade das pessoas com hanseníase provavelmente a contraiu por ter contato próximo e prolongado com uma pessoa infectada. Nem todas as pessoas vão desenvolver a doença. Aproximadamente 95% delas, por terem um sistema imune comprometido, não apresentarão sintomas. Os profissionais de saúde podem manifestar sintomas por estarem diariamente expostos à enfermidade.

A maior preocupação está relacionada aos sintomas. As manchas podem predominar no corpo do indivíduo. Eis um detalhe. Nem sempre são manchas coloridas como as das fotos dos livros. Às vezes podem apresentar-se imperceptíveis onde se descobre a alteração com um exame de avaliação da região é sensível ao toque, calor e frio e ate mesmo a dor. A infecção dos nervos faz com que eles deixem também de mandar informações para os músculos com o enfraquecimento de extremidades de braços e pernas. Locais prediletos do bacilo. As dores podem ser intensas nessas regiões, deixando o paciente ansioso ou mesmo depressivo.

Existem também as sequelas que acometem os pacientes e que podem, sem saber, se queimar, se cortar, ou se machucarem. As lesões repetidas podem levar à perda de dígitos ou pontas de dedos. A fraqueza muscular resultando em deformidades, como no caso de 4º e 5º dedos da mão que podem formar uma garra, provocado pelo comprometimento do nervo ulnar ou a queda do pé (pé caído) causada por comprometimento do nervo fibular.

Apesar de toda dificuldade, a Hanseníase tem cura. Os antibióticos podem promover um tratamento entre seis meses a um ano. Por ser uma doença multissistêmica, requer acompanhamento de vários profissionais, incluindo psicólogos. O estigma deixado é pior que a doença. Quando pessoas desinformadas descobrem indivíduos adoecidos com Hanseníase, querem se afastar o mais breve possível com medo de infecção imediata. Pensamento fruto dos antepassados. Em tempo, a popular lepra, deixou de ser pronunciada, mas não de ser hostilizada.

Precisamos acolher as pessoas que sofrem com a doença. Vale lembrar que uma vez que se inicia o tratamento, o enfermo deixa de transmitir os bacilos. Uma busca ativa de casos, impede a multiplicação e o crescimento. É necessária a orientação não somente no Janeiro Roxo, mas em todo ano e em todo lugar. Precisamos desmistificar o “Hansecinio ilógico” e minimizar os sofrimentos de uma doença milenar que ainda insiste em prevalecer em plena era tecnológica.

Vale a dica: Procure um posto de saúde e nos encontraremos lá.

 

*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico de Família e Comunidade pela SMS- Sinop/MT. Professor de medicina de pela UFMT campus Sinop. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica.  Medico residente de Psiquiatria HMCL - SMS - São Paulo. Contato: email: juliocasemed@gmail.com

Júlio Casé

Artigo

*Julio César Marques de Aquino (Júlio Casé) é médico psiquiatra pelo Hospital Municipal do Campo Limpo - SMS - São Paulo- SP. Médico de Família e Comunidade pela SMS- Sinop - MT. Professor de medicina pela UFMT campus Sinop - MT. Autor do livro “Receitas para a vida” pela editora Oiticica.  Titular da cadeira número 35 da Academia Sinopense de Ciências e Letras cujo o patrono é o médico e escritor Moacyr Scliar. Contato: email: juliocasemed@gmail.com.