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Artigo

As Fomes

16 de Agosto de 2021 as 09h 54min

Já sabemos que a fome no Brasil e no mundo não é uma catástrofe inevitável. Há tempos sabemos que a miséria de tantas pessoas não se deve à escassez de recursos, nem a causas naturais, muito menos ao destino ou aos desígnios misteriosos de Deus.

E sabemos disso, também, graças a muitos que ousaram – ousar* no sentido pleno dessa palavra: os romancistas da fome como Rachel de Queiroz (OQuinze) e José Américo de Almeida (A Bagaceira); os sociólogos da fome no Brasil, Euclides da Cunha (“Os Sertões”) e Rodolfo Teófilo (A Fome). Josué de Castro, nas obras Geografia e Geopolítica da Fome,derrubou mitos.

Um amigo de infância (com fome) me disse que não quer ler ou ouvir romances. Ele cansou da sociologia. A geografia não o encontrou.E a poesia é para quem quer as nuvens, mas ele só tem o chão duro, batido, de terra.

Herbert de Souza, o Betinho, já dizia isso:“Quem tem fome tem pressa”.

Fomos produzindo, ao longo da nossa história, a pobreza. Fomos aprendendo como natural, quase como se não tivesse outro jeito: que tem aqueles que têm e aqueles que não têm; os que comem carne todo dia e os que não comem; os que usam gás de cozinha e os que usam pedaços de madeira entre os tijolos de oito furos; os que têm mansões e os que nem barraco têm; os que compram calças de R$ 1.000 (mil reais) e os que não enchem nem metade do carrinho do mercado…

A indiferença “cômoda, fria e globalizada” é parte da fome e da pobreza, das pessoas e do mundo.

Essa indiferença (in) comum está a caracterizar o “aqui”, o agora e nos leva a nos afastarmos e ignorarmos “o outro” (o outro é tudo que é vivo: a planta, a árvore, os pássaros, os bichos todos… as pessoas… nós)

Eu digo nada deste mundo nos é indiferente, queiramos ou não.E quando eu decido o meu destino não é só ele que decido.

Um amigo atual (faminto) me disse que não é possível alguém sofrer de fome no Brasil. Alguém sentir uma sensação desconfortável ou dolorosa causada por energia insuficiente advinda da alimentação; pessoas privadas de alimentos, num estado de incerteza sobre a capacidade de obter alimentos; o risco de pular refeições ou ver a comida acabar, de ficar sem comida. A fome experimentada, ficar sem comer por um dia ou mais…

Já marquei um encontro entre meus amigos, não serei mediador de nada. A vida é a arte do encontro embora haja tando desencontro pela vida. (Vinícius)

Amigo leitor, desperta para a fome! Perceba a miséria que vivemos. Há a fome e ela vem de várias maneiras.

"Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se. (Kierkegaard)".

 

*Emanuel Filartiga é Promotor de Justiça em Mato Grosso.

Emanuel Filartiga

*Emanuel Filartiga é promotor de Justiça em Mato Grosso.