Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Notícias dos Poderes | 30 de Maio de 2018 as 18h 54min
Fonte: Jamerson Miléski
Na terça-feira (29), o deputado federal por Mato Grosso, Nilson Leitão (PSDB), que tem a sua base em Sinop, concedeu uma coletiva de imprensa para vários veículos de comunicação de alcance nacional. Leitão falou em nome da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), que é a agremiação de deputados da chamada bancada ruralista.
O assunto da fala é óleo diesel. Leitão diz que o combustível é um insumo importante para o Brasil, que compõe toda a cadeia produtiva e, portanto, não pode ser tributado. Essa, segundo ele, será a cruzada da FPA. Mas não apenas.
Leitão disse que a conta da isenção de impostos do diesel não pode ser paga pelo “brasileiro comum”. Em suma, não adianta zerar o PIS/COFINS do diesel e subir o imposto do arroz, do feijão ou mesmo da gasolina. Então, para fechar o seu raciocínio, o tucano “chuta de trivela”, apontando como solução a redução da inchada máquina pública brasileira. Ele sugeriu, de forma superficial, que sejam reduzidos os custos da Câmara Federal, do Senado, do Judiciário e revistas pensões “altíssimas” concedidas há décadas para algumas categorias do funcionalismo público.
Tudo na fala de Nilson Leitão é audível, agradável aos ouvidos do esfolado contribuinte. Dá até vontade de aplaudir no final da fala. O deputado resumiu com meia dúzia de palavras a principal pauta do brasileiro médio hoje: “Nós não queremos mais bancar a mordomia dos políticos”.
O GC Notícias resolveu dar uma olhada nas despesas do deputado autor desse discurso para saber se, além de falar bonito, ele também dá exemplo. Conforme os dados do portal da Transparência da Câmara Federal, desde que assumiu o cargo de deputado, em julho de 2011, até maio de 2018, Nilson Leitão consumiu dos cofres públicos exatos R$ 2.617.786,99. Isso somente da chamada “cota parlamentar” – antiga verba de gabinete da Câmara Federal. Não está incluso o salário do deputado, dos 25 assessores que ele tem direito a ter mesmo fora de Brasília, nem dos demais penduricalhos. R$ 2,6 milhões em 7 anos. Mas afinal, com o que Leitão gasta tanto?
Vejamos. O GC Notícias agrupou as despesas de Nilson Leitão com a tal Cota Parlamentar, por CNPJ. Assim, dá para saber com qual empresa o deputado está gastando. A maior despesa desses 7 anos foi com uma empresa de táxi aéreo, que freta voos particulares. Só com essa empresa, Nilson gastou R$ 428 mil. Não daria para ter “economizado” com isso?
A segunda maior despesa de Nilson por CNPJ é com uma gráfica aqui de Sinop: R$ 339 mil utilizados para “divulgação da atividade parlamentar”. A relação de despesas do deputado segue com 3 companhias aéreas: TAM, Azul e Passaredo – nessa ordem de gastos. Somando as 3, Leitão consumiu R$ 875 mil em bilhetes aéreos para “ir trabalhar” e voltar para casa.
A próxima despesa é com um posto de combustível aqui de Sinop: R$ 213.446,12 mil. O Top 7 da lista de gastos de Leitão por CNPJ tem R$ 155,5 mil com um jornal de classificados. Em 8º lugar, mais bilhete aéreo: R$ 146,9 mil para GOL.
A relação continua com R$ 94,9 mil de gastos agrupados sem CNPJ (a maioria serviços de postagem). Quase a mesma despesa que Nilson teve com hospedagem em Cuiabá: R$ 93 mil em um conhecido Hotel da capital.
Leitão gastou ainda R$ 83,2 mil com uma locadora de veículos de Sinop, R$ 72,4 mil com outra empresa de taxi aéreo e R$ 67 mil com uma empresa de pesquisa, também de Sinop.
Esse é o tipo de postura “econômica” que Nilson Leitão fala? Ou ele só vai concordar em torrar menos dinheiro público se essa economia for revertida para o preço do óleo diesel?
Existe um abismo entre aquilo que Leitão disse e o que o deputado faz. Uma lacuna tão grande quanto aquilo que a população quer ouvir e aquilo que precisa ouvir.
Abaixo, veja o vídeo e a relação de gastos de Nilson Leitão com a cota parlamentar entre julho de 2011 e maio de 2018, agrupado por CNPJ.