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Amazônia

Manejo florestal por espécies é mais rentável e sustentável

Afirmação é de um estudo realizado pela Embrapa em diferentes regiões

Geral | 23 de Setembro de 2020 as 17h 08min
Fonte: Assessoria

Assessoria

Estudos realizados por unidades de pesquisa da Embrapa em diferentes regiões brasileiras comprovam que o manejo florestal por espécie é uma inovação com potencial de agregar renda e sustentabilidade à região amazônica. Adequar a intensidade de exploração, diâmetros e os ciclos de corte às peculiaridades de cada espécie, e não ao volume total de árvores nas áreas manejadas, garante retorno econômico mais rápido ao produtor e mantém o equilíbrio da diversidade da floresta. Os índices técnicos, que levam em conta as características de crescimento e a taxa de recuperação das espécies florestais, podem ser implementados para a modernização dos protocolos vigentes na legislação brasileira.  

Resultados positivos com espécies amazônicas de interesse comercial em diferentes regiões do bioma, como a maçaranduba (Manilkara elata Allemão ex Miq. Monach), a cupiúba (Goupia glabra Aubl) e o cumarú (Dipteryx odorata), entre outras, corroboram a pesquisa. Paralelamente, pavimentam o caminho para o fortalecimento da bioeconomia na Amazônia, área com enorme potencial de agregação de renda a produtores florestais pela capacidade de atrair indústrias de base biológica.

A legislação federal atual, regida pela Instrução Normativa nº 05/2006, do Ministério do Meio Ambiente, recomenda que a taxa de corte para toda a Amazônia, na falta de índices técnicos por espécie, seja de 30 metros cúbicos por hectare a cada 35 anos (ciclo de corte), e diâmetro mínimo de corte (DCM) de 50 centímetros. Isso significa uma exploração desigual entre as espécies. "A legislação enxerga a floresta de forma geral, sem levar em conta as características das diferentes espécies, nem as especificidades de cada região", afirma o pesquisador Evaldo Braz, da Embrapa Florestas (PR).

Na lógica atual, a exploração é pautada pela recuperação do volume total de árvores de uma determinada área. “Com isso, acabamos retirando as espécies mais abundantes sem levar em conta a recuperação do estoque dessas espécies, e também sem considerar a disponibilidade de estoque de outras espécies ao longo dos anos”, explica Lucas Mazzei, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (PA).

No estudo com a maçaranduba, que é uma das principais espécies de interesse do mercado madeireiro nacional, verificou-se que o ciclo de corte de 35 anos, combinado com uma intensidade alta de exploração, não é suficiente para a recuperação dessa espécie. Isso porque, segundo Mazzei, a maçaranduba é abundante, mas tem um crescimento lento.

Os indivíduos jovens dessa espécie podem levar mais de uma centena de anos para atingirem o diâmetro mínimo de corte (DMC) de 50 cm.  “Então a exploração contínua dessa espécie em ciclos consecutivos de 35 anos não garante o mesmo retorno financeiro e compromete a recuperação do estoque nas áreas exploradas, já que os indivíduos jovens levam muito mais tempo para se recuperarem”, afirma o cientista.

 

Extrair o que a floresta é capaz de recuperar

Na Fazenda Rio Capim, município de Paragominas, região nordeste do Pará, a Embrapa Amazônia Oriental em parceria com a empresa Cikel avaliou a taxa de recuperação dos estoques de árvores para diferentes espécies. Essa taxa é o volume de árvores que em 35 anos alcança o diâmetro mínimo de corte. “Esse cálculo é simples: quanto menor a taxa de recuperação, menor o crescimento das espécies”, alerta Mazzei.

Além da maçaranduba, as espécies avaliadas foram a timborana (Pseudopiptadenia psilostachya [DC.] G. P. Lewis & M. P. Lima), breu vermelho (Protium altsonii Sandwith) e o piquiá (Caryocar villosum [Aubl.] Pers). Todas são espécies exploradas comercialmente. Entre elas, considerando uma intensidade de exploração de cerca de 90%, ou seja, quase a totalidade das árvores aptas ao corte, o breu vermelho apresentou a maior taxa de reconstituição, de 65%, e a maçaranduba a menor taxa: 2%. Já a timborana e o piquiá obtiveram taxas de recuperação de 12% e 6%, respectivamente.

Para o engenheiro florestal Josué Evandro Ferreira, que é o responsável técnico pelos planos de manejo da empresa Cikel, atualmente a exploração legal é a mesma para espécies de rápido e de longo crescimento. “Sabemos que têm espécies que se recuperam em 20 anos, mas outras precisam de 100 anos”, complementa.

Ele acrescenta que a pesquisa vem cada vez mais dando subsídios para que o manejo funcione bem e mantenha a floresta em pé. “O manejo florestal por espécie é plenamente viável, mas precisa de divulgação, principalmente nos órgãos de fiscalização, pois a lei já indica que é possível customizar o manejo de acordo com índices técnico-científicos”, afirma.

A atividade deve caminhar na direção da sustentabilidade, ou seja, “entrar na floresta e extrair o que ela oferece no momento, respeitando o ciclo de recuperação de cada espécie, seja de 15, 20, 30 ou 100 anos”, conclui.