Mortalidade de 93%
Estado vai investigar mortes nas UTI’s de Sinop
Comissão foi designada para apurar atendimentos feitos no Hospital Regional de Sinop
Geral | 24 de Setembro de 2020 as 18h 35min
Fonte: Jamerson Miléski
Com uma taxa de mortalidade 3 vezes superior a média nacional, os leitos de UTI do Hospital Regional de Sinop passaram por uma investigação. A Secretaria Estadual de Saúde, através da portaria 330/2020, implantou uma comissão para apurar os índices de mortalidade hospitalar nas UTI’s. A comissão também irá monitorar e acompanhar os indicadores internos de qualidade nos atendimentos à pacientes internados.
A portaria data do dia 18 de setembro, mas só foi publicada em Diário Oficial nesta semana. A comissão terá 30 dias para formular seu relatório – prazo que é prorrogável por mais 30.
O processo de apuração será conduzido pelo presidente Vagner Marcondes da Cunha Lopes, o vice-presidente Stefano Dalpasqual e Jofman Amorim Leite da Silva, membro. Todos são servidores do Estado.
Os membros da comissão estão autorizados a solicitar informações referentes ao hospital e a empresa terceirizada que presta serviço de gerenciamento de UTI no regional de Sinop. Os servidores poderão analisar prontuários clínicos e demais documentos médicos.
Os leitos de UTI’s Covid-19, do Hospital Regional de Sinop, são administrados por uma empresa terceirizada a OGTI (Organização Goiana de Terapia Intensiva). O contrato que o Estado firmou é de R$ 3,2 milhões – até o dia 16 de setembro de 2020. O Estado gastou com essa empresa mais de R$ 1 milhão por mês para manter 20 leitos de UTI em operação – e como resultado finalístico, cerca de 86,1% dos pacientes internados no mês de junho vieram a óbito.
UTI da morte
A alerta sobre os altos índices de mortalidade nas UTIs do Hospital de Sinop foi disparado pelo Observatório Social de Mato Grosso – uma organização plural com diferentes entidades da sociedade civil, que pretendem contribuir para a melhoria da gestão pública, atuando em favor da transparência e da qualidade na aplicação dos recursos públicos. O OSMT se organiza para virar uma Oscip.
Em setembro desse ano o Observatório trouxe a público um relatório referente a 4 processos de pagamento feito para a empresa que administra as UTIs do Hospital de Sinop. Os processos referem-se aos atendimentos dos meses de junho e julho. Ao elencar o número de pacientes que deram entrada nas UTIs’, quantos continuavam internados e quantos morreram, o Observatório revelou um alto índice de mortalidade.
O topo foi no mês de julho. Pelo contrato 044/2020 (que é a chamada UTI “1” da ala Covid), foram 38 pacientes. Destes, 10 permaneceram internados e 26 vieram a óbito. Apenas 2 passaram pela UTI e voltaram para casa com vida – taxa de mortalidade de 93%.
O desempenho se repetiu no contrato 137/2020 (que é a UTI 2 da ala Covid). Foram 34 pacientes, 9 permaneciam internados e 23 morreram – taxa de óbito de 92% e apenas 3 pessoas “salvas”.
Conforme o relatório do Observatório, entre junho e julho, 145 pacientes passaram pelas UTI’s montadas pela OGTI. Destes, 37 permaneciam internados e 93 morreram. Uma taxa de mortalidade média de 86,1%. Apenas 15 saíram vivos da Unidade.
Plantões de 90 horas
O relatório do Observatório aponta uma “manobra” para fechar as contas do contrato, simulando a existência de uma equipe médica compatível com o volume de atendimentos. O caso mais flagrante foi de um médico que realizou, em um único mês, 36 plantões na ala de UTI, totalizando 432 horas trabalhadas. Nesse período existe plantão com 96 horas seguidas, dois plantões de 84 horas seguidas e mais dois plantões de 60 horas consecutivas – resistência de dar inveja a qualquer ultramaratonista.
Essas informações estão nos relatórios que a empresa utilizou para prestar contas do serviço pago pelo Estado. Conforme o Observatório, além de faltar médico, os que tinham não eram especialistas. No mês de junho, em um dos contratos, dos 5 médicos contratados apenas 2 tinha especialização em medicina intensiva. Os outros 3 não tinham a especialização para operar em UTI. Em junho, 98% dos plantões foi de médicos sem especialidade registrada.
O relatório também cita a falta de equipamentos básicos. Haviam menos respiradores instalados do que o necessário para manter todos os leitos de UTI contratados. Também faltavam materiais básicos de segurança e higiene.
Outro ponto abordado foi a demora no recebimento de pacientes já regulados e a lotação parcial dos leitos. Mesmo não chegando aos 100% de lotação, o Estado repassou o valor integral do contrato.
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