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Sinop

A fábrica de craques virou ponto de crack

O “legado” das Olímpiadas do Rio em Sinop é uma obra inacabada que abriga usuários de drogas

Geral | 11 de Março de 2019 as 17h 01min
Fonte: Jamerson Miléski

Foto: GC Notícias

O projeto idealizado para combater a delinquência juvenil com esporte, em Sinop, fracassou miseravelmente. O Centro de Iniciação Esportiva erguido na periferia do município não chegou nem perto de ser concluído, está há mais de um ano com as obras paradas e se tornou um local para consumo de drogas – algo diametralmente oposto do propósito original.

Os Centros de Iniciação Esportiva foram apresentados pelo Ministério dos Esportes, no ano de 2014, como o “maior legado de infraestrutura esportiva dos Jogos Olímpicos Rio 2016”. O programa previa a construção de 218 Centros de Iniciação esportiva em 208 cidades brasileiras. Sinop era uma dessas cidades.

O convênio para construção do Centro de Iniciação ao Esporte em Sinop foi firmado em junho de 2014 – dois anos antes das Olímpiadas do Rio. Em uma corrida lenta, a ordem de serviço, para execução da obra foi dada somente em dezembro de 2016. O complexo deveria estar pronto até dezembro de 2017. O que não ocorreu.

Em outubro de 2017, depois de solicitar aditivos no contrato, a empresa contratada pediu a paralisação da execução. Em janeiro de 2018 a prefeitura publicou uma dilatação no contrato, estendendo o prazo de execução para agosto de 2018 e a vigência do contrato até 2020. “Foi uma forma que encontramos para não perder o recurso federal”, explicou a prefeita Rosana Martinelli (PR).

Nesse intervalo de pouco mais de um ano, a empresa que havia vencido a licitação entrou em recuperação judicial. O município também não encontrou uma fórmula de retomar a obra. “Nós entramos com um processo no Ministério dos Esportes pedindo a dilatação do prazo do convênio, apontando também a necessidade de rever os valores, que são insuficientes para concluir a obra dentro do projeto exigido pelo Ministério. Até o momento não tivemos uma resposta”, declarou Rosana.

Segundo a prefeita, caso o governo federal não sinalize a liberação de mais recursos para concluir a estrutura, o município irá tentar fazer um centro esportivo “mais simples”. “Nós vamos pedir para não precisar devolver os recursos aplicados em troca de concluirmos a construção com recursos próprios. Mas não será no padrão que o projeto previa. Será algo mais simples, mais prático”, antecipou a prefeita.

A gestora espera desenrolar esse assunto junto ao governo federal ainda no primeiro semestre desse ano.

 

Como está?

Cerca de 17% da obra foi executada. O GC Notícias esteve no local da construção, na Estrada Sabrina, próximo ao Conjunto Habitacional Sebastião de Matos. O canteiro de obras foi desmanchado e até os tapumes foram removidos. A parte construída se resume a fundação e parte da alvenaria do que deveriam ser os vestiários, sanitários e parte administrativa – além de uma laje que possivelmente suportaria arquibancadas. Pelo que já foi executado, a construtora recebeu R$ 697 mil.

Todo o local está tomando pelo mato. O abandono só não é completo porque há sinais de que pessoas frequentam o local com certa assiduidade. Em pelo menos 4 locais encontramos latas de alumínio amassadas e perfuradas – comumente utilizadas como cachimbo para fumar crack. Também haviam restos de embalagens de bebidas alcóolicas, preservativos e algumas peças de roupa.

O valor total do empreendimento era de R$ 4,1 milhões, sendo R$ 3,4 mil do Governo Federal e o restante em contrapartida do município.

 

Como deveria ser

Os Centros de Iniciação ao Esporte (CIE) foram concebidos para serem equipamentos públicos qualificados, afim de incentivar a iniciação esportiva em territórios de alta vulnerabilidade social das grandes cidades brasileiras. O projeto integra, em um só espaço físico, atividades e a prática de esportes voltados ao alto rendimento, estimulando a formação de atletas entre crianças e adolescentes.

O projeto do CIE de Sinop conta com uma estrutura total de 7 mil metros quadrados, sendo 3,7 mil metros quadrados de área construída. O projeto traz um ginásio poliesportivo, área de apoio, chuveiros e vestiários, enfermaria, depósito e complexo de atletismo. A estrutura foi projetada para atender a 21 modalidades olímpicas, 6 paraolímpicas, além do futebol de salão.

Além de construir o complexo esportivo em si, cabe ao município operá-lo, através de escolinhas de formação esportiva, com as diferentes modalidades, promoção de torneios e competições para a comunidade. “Hoje teríamos dificuldade em contratar material humano para isso”, reconhece a prefeita.

Sem recurso suficiente, com embaraços burocráticos, o Centro de Iniciação Esportiva é um amontoado de concreto em uma das regiões mais carentes de Sinop, com a promessa de ser mais uma estrutura pública que ficará muito tempo na condição de abandono. Onde nasceriam os craques do esporte, agora, fuma-se crack.

Vejam as fotos feitas pela nossa reportagem.