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Artigo

Revolta dos pardais

30 de Outubro de 2018 as 19h 32min

Os vereadores de Sinop costumam dizer que a Câmara é a caixa de ressonância da população. Preciosismos a parte, nessa segunda-feira (29), a tribuna reverberou alto o descontentamento que parte dos cidadãos de Sinop demonstraram com a licitação da prefeitura para gastar R$ 9,9 milhões em equipamentos de monitoramento do trânsito – os chamados “pardais”.

A gritaria começou com o vereador, que pelo volume da caixa torácica deveria ter o menor aparelho fonador. Hedvaldo Costa encheu os pulmões para criticar a iniciativa da secretaria de trânsito. “A população de Sinop vai pagar R$ 10 milhões para ser multada? É isso que a prefeitura quer?”, inflou Hedvaldo.

A locação dos equipamentos que vão monitorar eletronicamente a velocidade do trânsito nas vias de Sinop foi classificado pelos vereadores como “indústria da multa”. Luciano Chitolina chegou a lembrar o fato de que mandato não é um cheque em branco e que, antes de gastar R$ 10 milhões com qualquer coisa que fosse, a prefeita deveria consultar a população. Houveram também os “especialistas” em trânsito, como Ícaro Severo, dizendo que era preferível a prefeitura gastar essa grana com faixas elevadas, semáforos, lombadas e fechamento de cruzamentos, ao invés de radares. Esse não é uma sugestão baseada em estudo ou análise, apenas um eco da tal “caixa de ressonância” do povo.

Para resumir o ato, Leonardo Visera pediu para que a Câmara tranque a pauta, suspendendo todas as votações, até que a prefeita revogue a licitação e desista da compra. Há 12 anos um vereador de Sinop não propõe fechar a pauta de votação para forçar uma ação do executivo municipal. A última vez foi quando um certo prefeito saiu carregando um casaco em um passeio com o pessoal da Federal.

A proposta de instalar radares e utilizar da fiscalização eletrônica para reduzir os acidentes nasceu na secretaria de Trânsito, que tem como titular um ex-vereador que também gritava alto. Mauro Garcia estava lá da última vez que os vereadores propuseram trancar a pauta. Seu projeto como secretário de trânsito causou descontentamento na população e, na câmara, um ódio visceral. Todos os discursos foram mais passionais do que racionais. O engraçado é que os tais radares funcionam justamente ao contrário.

Não há como convencer um radar de que você não estava andando errado. Não tem como explicar para o equipamento que você é amigo de um vereador ou da prefeita. Um radar não vai anular a sua multa se você pagar um café. Mesmo assim, nesse grito alto de combate a corrupção, o sinopense não quer que suas ações no trânsito sejam medidas de forma técnica, impessoal e precisa.

Compreensível. Afinal, o errado é sempre o outro.

Jamerson Miléski

O Observador