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Artigo

Revisando a história de Sinop

07 de Maio de 2019 as 12h 01min

Como parece “estar na moda” fazer revisionismo histórico – editar o passado ao seu gosto ideológico – o vereador de Sinop, Dilmair Callegaro (PSDB), também se aventurou a repintar o quadro da saúde no município.

Na sessão de ontem, segunda-feira (6), enquanto se discutia os arrombos provocados pela Adesco no orçamento da saúde municipal, Dilmair foi à tribuna para falar da “história do PSDB na saúde de Sinop”. Ou como ele mesmo disse: “a história da nossa gestão”, incluindo-se no pacote.

A forma como o vereador apresentou a saúde na “sua” gestão deu vontade de pegar um Delorean e voltar para o passado. Dilmair disse que com apenas 6 meses, a gestão tucana “criou” (sim, esse foi o termo usado), o primeiro Pronto Atendimento de Mato Grosso fora da capital. Disse ainda que abriu 16 postos de saúde, contratou 100 agentes de saúde comunitária, abriu o banco de sangue e o Centro de Hemodiálise. Por fim, Dilmair disse que o município fez tudo isso com um orçamento de apenas R$ 33 milhões.

Se essa é a imagem que os tucanos de Sinop tem em sua cabeça fica claro entender porque toda gestão que veio depois parece “incompetente”. Realmente, promover tantos avanços na saúde com um orçamento tão curto é uma prova de que a gestão do PSDB priorizou “cuidar de gente” – bordão que não saia da boca do ex-prefeito Nilson Leitão (PSDB).

Mas antes que vocês saia correndo atrás de uma máquina do tempo ou maquine outra forma de voltar ao passado na eleição do ano que vem, vamos ver o que é tinta e o que é óleo nessa tela pintada por Dilmair.

Começando pelo Pronto Atendimento, também conhecido como prêmio de consolação depois de Sinop ter perdido o Hospital Regional para cidade de Sorriso. A estrutura começou a ser construída ainda na gestão do prefeito Adenir Barbosa (MDB), bem antes de Leitão se eleger. A obra contava com recursos do governo do Estado, na época gerido pelo tucano Dante de Oliveira – amigo pessoal de Nilson. Quando a candidatura tucana em Sinop pareceu viável, Dante fechou a torneira e esperou seu amigo assumir a cadeira de prefeito. Ai sim, em 2001, quando Leitão assumiu, o Estado derramou a grana para que ele então colhesse os louros de ter – como diz Dilmair – “criado” o Pronto Atendimento.

O extinto Jornal Capital tem nos seus arquivos uma foto do dia que o PA (com era chamado o Pronto Atendimento), abriu as portas. Já havia fila na inauguração e essa foi a marca da unidade até 2009, quando o PA enfim faleceu. Dizer que aquilo que se fazia no Pronto Atendimento de Sinop era “saúde modelo” ultrapassa o limite da licença poética.

Sigamos para os 16 postos de saúde. Nessa lista entra aquele galpão de madeira com janelas de ferrugem que era a unidade do Boa Esperança. Ou então o casebre adaptado do lado da igreja, no Jardim Botânico. Ou ainda o prédio caindo aos pedaços no Jardim Primaveras. O famigerado sistema de 16 fichinhas, que obriga gente doente a fazer fila às 5 da manhã na frente do posto para conseguir atendimento, nasceu na gestão Leitão. Em termos de “gestão”, piora. Nenhum desses 16 postos de saúde era cadastrado no Programa Saúde da Família. Ou seja, o município mal conseguia receber os devidos repasses do Governo Federal.

Mas Dilmair também falou com orgulho dos agentes comunitários de saúde – esses profissionais que fazem o contato corpo a corpo com a população, sendo especialmente importantes no combate de epidemias, como a dengue. Em 2007, Nilson começou a prometer uma série de avanços aos agentes, embalado pela Mobilização Nacional dos Agentes de Saúde. O prefeito do Dilmair prometeu, entre outras coisas, a elevação do piso salarial, pagamento de produtividade, insalubridade e gratificação de acesso. Mais do que isso: Leitão prometeu concursar os agentes. Esses profissionais eram contratados precariamente, em caráter temporário, por processo de seleção. Nilson discursou para uma platéia lotada de agentes, em maio de 2008, dizendo que todos esses contratos temporários seriam convertidos em concurso público. Isso nunca aconteceu.

Às vésperas do processo eleitoral de 2008 a verdade veio à tona e os agentes foram informados de que a prefeitura não poderia fazer o que Leitão disse que faria – simplesmente porque era ilegal. Esses agentes continuaram trabalhando até junho de 2009 com essa sensação de traição. O resultado foi uma das maiores epidemias de dengue que Sinop já registrou. Até a filha de Leitão pegou dengue naquele ano.

Seguindo na revisão histórica proposta por Dilmair, temos o Centro de Hemodiálise, aberto por Leitão. Alguém sabe me dizer onde está essa estrutura? O que o vereador apresentou como sendo uma conquista da “sua” gestão é na verdade uma clínica privada, que fica na frente do Hospital Santo Antônio. Aliás, a violação da legislação ambiental fez o Ministério Público embargar por diversas vezes a tal clínica.

Dizer que o centro de hemodiálise foi uma conquista de Leitão é o mesmo que falar que a nova Sinop Clínica é uma conquista de Juarez Costa. Não faz nenhum sentido.

No banco de sangue, pelo menos, ele acertou. Mas errou feio no dinheiro. Dilmair disse que “sua” gestão fez tudo isso com um orçamento de R$ 33 milhões – quase um décimo do que o atual orçamento de Sinop. Dilmair não inventou esse número, apenas distorceu.

No primeiro ano do governo Nilson, em 2001, o orçamento ficava mesmo na casa dos R$ 30 milhões. Mas já no ano seguinte saltou para R$ 40 milhões. Em 2005, na “metade” da gestão tucana a arrecadação foi de R$ 80 milhões. Quando encerrou seu governo, em 2008, Leitão teve um orçamento de R$ 127 milhões – projetando um aumento de R$ 140 milhões para o ano seguinte (o primeiro de Juarez). O que Dilmair fez foi pegar o primeiro e mais baixo orçamento da “sua” gestão e dizer que esse foi o montante de recursos que tiveram ao longo de 8 anos.

É nítido e claro que a saúde pública de Sinop está muito longe de atender a demanda. Temos uma UPA que mal funciona quando na verdade precisaríamos de duas, com um Hospital Regional devidamente operante. Temos 32 equipes de atenção básica, quando o ideal para a população atual seriam pelo menos 48 equipes. Falta, inclusive, uma policlínica para atender a demanda ambulatorial – algo que estava no Plano de Governo de Rosana Martinelli. Tem muita coisa que precisa ser feito e, com certeza, redecorar o passado não é uma delas. Mentir que a saúde foi ideal 11 anos atrás não vai fazer a saúde de amanhã melhor. Vai no máximo trazer de volta a “sua” gestão.

Jamerson Miléski

O Observador