Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Boa tarde, Terça Feira 16 de Abril de 2024

Menu

Artigo

O quilo do peixe morto

14 de Fevereiro de 2019 as 10h 13min

Quem compra pintado, tambaqui, Matrinchã ou piau no mercado, aqui em Sinop, paga entre R$ 11,00 e R$ 29,00 o quilo. Algumas espécies são mais baratas e outras mais nobres. Outras, raramente são encontradas, seja porque não tem procura do consumidor ou porque a oferta é realmente baixa.

A Quaresma ainda está longe e já temos o quilo do peixe mais caro do ano – e que provavelmente não será batido. Estamos falando do peixe morto. Pode ser de qualquer espécie, desde que tenha sido sufocado pela Usina Hidrelétrica de Sinop.

Muitos internautas do GC Notícias se manifestaram nos comentários das notícias sobre a mortandade de peixes no Rio Teles Pires. Uma fatia considerável do nosso público achou que a Sema iria “passar pano” para usina. A fala mais comum era: “se o pescador pega um peixe fora da medida ele é multado e perde o barco; a usina mata tudo no rio e nada acontece”.

Não foi assim. A Sema não aliviou. Primeiro, peitou o Ministério Público. Os engravatados, de dentro dos seus gabinetes, no ar condicionado, em Cuiabá, apareceram com a solução para o desastre. Em uma ação cheia de ordens, mandaram abrir as comportas, parar com o enchimento do lago e disseram que a mortandade estava sendo provocada pelas plantas em decomposição no reservatório.

Erraram TUDO! A avaliação do MP sobre o ocorrido vale tanto quanto os peixes boiando no rio. Seu destino deve ser a lata do lixo. Engoli-la é tentativa de suicídio.

Indo a campo, andando pelo rio com pesquisadores e não com desembargadores, a Sema identificou os riscos, tomou as medidas corretas – sessando o despejo de sedimentos – salvaguardou a vida que acabou sendo artificialmente selecionada e avaliou, de forma científica, os danos provocados.

Exatos 9 dias depois, sem euforia mas ainda assim de forma dinâmica, o órgão deu o seu veredicto: multa máxima para usina. R$ 50 milhões para começar a conversa.

O órgão contabilizou pelo menos 13 toneladas de peixes mortos. Com isso, temos o peixe mais caro do Estado. Cada quilo de animal “pescado” nesse método da usina vai custar R$ 3.846,00. Nada mal.

Obviamente a multa não diz respeito apenas aos pescados mortos. No entanto, como a razão da mortandade foi a liberação de sedimentos, o impacto além da ictiofauna foi minúsculo e passageiro. Para quem ainda não conseguiu entender os termos técnicos do laudo da Sema, o que ocorreu no Rio Teles Pires foi que o material (terra, areia, pedrinhas, lama) que se acumulou no fundo do lago, próximo a barragem, foi liberado de uma vez só, em grande quantidade. A água ficou tão turva que, literalmente, sufocou os peixes. É como se uma grande erosão estivesse estourado em um rio pequeno.

Depois de matar os peixes, esses sedimentos foram para o fundo do rio e as condições de vida já voltaram ao normal no 4º dia. Por essa “pescaria” criminosa, a UHE Sinop pagará o justo preço.

Essa história termina com os vilões punidos como se fossem um cidadão comum. E é isso que se espera. Como também se espera que a multa seja de fato paga e que a gente veja os R$ 50 milhões sendo investidos na prevenção de futuros crimes ambientais.

Estava ruim, mas no final, melhorou. Vai um peixinho?

Jamerson Miléski

O Observador