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Artigo

O mal de Lazaro

31 de Janeiro de 2019 as 15h 36min

Num mergulho condoído na literatura sobre a idade média, encontramos breves relatos sobre um homem sem história, família ou algo que marcasse tanto as suas características, quanto suas chagas. Era um mendigo. Hoje, um indigente, que jazia à porta de um homem rico com fome, desejando saciar-se. Relatos que ignoramos com tamanha facilidade ao imaginarmos que o problema da fome que sentia, era menor que o da sua saúde, ou melhor, sua doença.

Conhecida mundialmente como mal de lazaro, ou de forma mais pejorativa, quando se designa a alguém indesejado chamado de lazarento. Muita coisa ainda nos intriga, uma doença milenar com características marcantes ainda é responsável por acometer milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Comenta-se que ela tenha origem no continente asiático e africano, migrando para o mundo e no caso das américas, através de navios escravagistas, embarcações militares e até comerciais. Não se sabe ao certo como tudo ocorreu. É possível apenas acompanhar os relatos literários e acreditar que diante de tudo isso, nos limitamos a desinformação e ao comodismo social. Ao se descobrirem chagásicas, as pessoas se tornavam desprezíveis e logo isoladas do seio da sociedade. A noção de contaminação era evidente quando lemos que o doente foi por muitas vezes expulso da sociedade e do convívio familiar e/ou social e se criavam leprosários para onde essas pessoas eram levadas.

Em seus estudos pragmáticos o cientista norueguês Gehard Amauer Hansen, por volta de 1873 descobriu a verdadeira causa desse grande mal. E, em sua homenagem, deixou de ser lepra e passou a ser hanseníase. A partir daí, sabemos hoje que é uma doença infecciosa, transmissível (passa de pessoa a pessoa), e que se torna crônica com certa facilidade. Isso porque a doença é silenciosa, aproveita da imunidade orgânica de contactantes (pessoas que vivem do no mesmo convívio e domicílio do doente), e demora anos para que de fato apareça os principais sintomas, que podem ser brandos ou mais evidentes. Por vezes com seu diagnóstico mascarado por vários fatores, visto que as evidências são muito semelhantes a outras patologias meramente costumeira, como dor nos membros superior e/ou inferiores (braços e pernas) que pode ser confundida pelo próprio paciente como reação de um esforço ocorrido por qualquer situação, e sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades (pês e mãos), e os sintomas mais avançados como manchas brancas ou avermelhadas na pele, perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato, áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor, nódulos e placas em qualquer local do corpo. Isso tudo porque a hanseníase afeta principalmente os nervos de onde origina toda a sensibilidade de determinada área do corpo.

Vale lembrar que o estado de Mato Grosso figura hoje com um dos principais estados do Brasil em casos de hanseníase. Logo, as maiores cidades como Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop, evidentemente vão estar no topo da lista. Não é incomum ruídos de surto aqui ou acolá dentro do próprio município em lugares de maiores concentração de pessoas e convívio rotineiro como escolas, unidades de saúde, lar de idosos, creches, hospitais, empresas com grande número de colaboradores e etc.

Embora a doença seja infecciosa, ela se divide em 4 grandes fases, sendo duas as formas mais brandas, conhecidas como tuberculoide e indeterminada (paucibacilar) e duas formas mais graves conhecidas como virchowiana e dimorfa (multibacilar), assim, sendo a transmissibilidade ocorre após contato íntimo prolongado (anos) e até pela gotículas e perdigotos (aquela nevoazinha que sai da boca sem perceber quando falamos), o desenvolvimento da doença é lento e pode levar anos até surgir os primeiros sintomas com já descrito aqui, é observado que portadores da doença hoje na faixa dos 30 a 50 anos, tem em seu histórico contato e suspeita de contaminação na infância, o que significa que ela sempre esteve doente mesmo sem sintomas aparente, e estando doente, contaminou também os que estão a sua volta e no mesmo convívio rotineiro familiar ou não, e assim, conforme o protocolo do MS, deve ser tratados também. Certo mesmo que o avançar silêncio da doença se deve a omissão do poder público, observado no desconhecimento e pouca importância dada pelos gestores, e essa importância se revela de várias formas, desde a falta de investimento para o diagnóstico, condições de tratamento, atrelada ao dessaber médico que pode também estar vinculada ao regionalismo. Se tudo continuar como está, ignorada pela falta de investimento, será possível prever que evoluiremos para o topo do ranking em casos de hanseníase e logo, deixarmos a história de surto visto que já é endêmica (em várias regiões do estado) e portando, epidêmica em curto espaço de tempo.

Manoelito Rodrigues

Falando de Saúde