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Artigo

Liberais de direita uma ova!

28 de Maio de 2021 as 11h 58min

É uma covardia sem igual o que um grupo de alucinados por sua ideologia política está fazendo com Olavo Reinehr, um dos mais tradicionais e retos empresários do município de Sinop. Agindo como milícia digital, uma meia dúzia de frouxos anônimos, que se consideram os bastiões do anti-comunismo, promovem um ataque a mais tradicional gráfica da cidade escondidos nas rede sociais e tentando usar como arma a massa que de fato apoia o presidente da República Jair Bolsonaro. A tal “nota de repúdio ao Grupo Grafpel”, que roda nos grupos de Whats, é ideologicamente doentia, mas potente como um apito canino. Uma mensagem de frequência específica, apta a ressoar nos ouvidos de fanáticos com distúrbios psicológicos e propensos a violência. Se não ficou claro, resumo: cruzou muito a linha do que é democracia.

Ontem, quinta-feira (27), Sinop amanheceu estampando em suas avenidas alguns outdoors com mensagens críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Estamparia patrocinada (e assinada), por entidades acadêmicas (a maioria da Unemat, que é tida como o último reduto petista de Sinop). Quem alugou os outdoors foi a empresa de Olavo – que desde 1992 empresta suas prensas à livre comunicação da cidade, do panfleto ao outdoor. No meu caso, que trabalhei no Jornal Capital até a sua extinção, em 2014, guardo um carinho pelo senhor Reinehr pelo simples fato que sua gráfica imprimiu, por alguns anos, aquele periódico.

Olavo é um espelho de um homem da Direita. Começou do zero, como funcionário de uma gráfica e acabou como dono. Foram muitos anos voltando para casa no final do dia manchado de tinta e graxa. O papel, sua matéria prima, sofre variação de acordo com o dólar. Então, nesses 30 anos, Olavo e sua empresa tiveram que se ajustar a cada política cambial que os diferentes governos implementaram. Inclusive o atual. É o que um líder da iniciativa privada faz. Entende o mercado e se adapta. Olavo ainda é o pioneiro desse chão, está em Sinop desde 1977 e não se furta em participar de ações solidárias. Mas não vem ao caso. A ideia aqui não é beatificar o alemão.

Incapazes de lidar com o fato de que Sinop não é 100% Bolsonaro, essa meia dúzia de lunáticos entrou em colapso quando viu os outdoors. Agindo como se aquele na estampa não fosse um político eleito – e sim um mito digno de culto e total adoração – essa proto-milícia de Direita tratou de usar os métodos dos ditadores socialistas para, vejam só, “combater o socialismo”.

Uma nota de repúdio rasteira critica o fato da gráfica ter vendido os outdoors para o tal “povo da esquerda”. O argumento é de que Olavo não está passando fome e, mesmo que tivesse, jamais deveria aceitar esse serviço. Por quê? O que tem de errado com esse serviço? O problema é da mensagem ou do mensageiro?

Usar da força das massas, doutrinadas em torno de uma ideologia, para encurralar empresas privadas é (vejam só mais uma vez), coisa de comunista. É exatamente o que a nota faz. Em dado momento desse documento espúrio, cinge-se a frase: “Em Sinop petista e esquerdista não vai se criar, serão sempre escorraçados para bem longe” (escrito bem desse jeito mesmo). Sabe quem busca perseguir e aniquilar adversários políticos de ideologias diferentes? É! De novo os comunistas.

Ademais, há um problema de coerência nisso tudo que tá ai – parafraseando o Mito. Apoiadores de Bolsonaro vivem comprando outdoors para exaltar o presidente (para bajular um político). Mas a “esquerda” ou mesmo os descontentes de qualquer outra linha política, não podem usar da mesma ferramenta.

E tem ainda a questão sobre vender para esquerdistas/socialistas. Então os produtores de soja, milho e carne do “valoroso” agronegócio não podem mais vender para China? Afinal de contas, o gigante asiático que devora nossos grãos é uma República Popular Socialista, na qual existe um único partido, o PCC (Partido Comunista da China). É uma escrachada ditadura socialista e não é de hoje. Mais de 30% do que Mato Grosso exporta em grãos vai para China. Se Olavo não pode vender outdoor para esquerdista, os Bolsonaristas de verdade também não podem vender soja para os comunistas. Os deixem morrer de fome, para não se criar – como diz a nota.

É claro que o agro não deve parar de vender para China e nem Olavo precisa se preocupar para quem aluga seus outdoors. Uma das virtudes do pensamento de Direita é justamente a liberdade econômica. O padeiro não acorda cedo porque quer fazer um país melhor para todos. Ele acorda cedo porque quer vender pão. Essa é do Adam Smith, o guru do capitalismo e do chamado pensamento de direita liberal.

Essa meia dúzia de reacionários que estão atacando uma gráfica não são liberais. Acho que de perto, nem de direita são. Tenho certeza que é possível gostar, acreditar e concordar com o presidente Jair Bolsonaro sem precisar agir dessa forma. Sem atravessar essa linha da democracia, ficando a direita. Sendo gente direita. Assim como Olavo sempre foi.

Essa é a minha impressão.

Jamerson Miléski

O Observador