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Artigo

Governo de propaganda

29 de Setembro de 2017 as 17h 54min
Fonte: Jamerson Miléski

Pedro Taques não tem um plano de governo. Tem um plano de poder. Suas ações, se analisadas de forma simplista, se comparam com qualquer regime autoritário que tenha tomado o poder ao redor do mundo.

Como ex-procurador da República, Taques habita o Poder Judiciário. Tem amizades, contatos, um histórico de militância nos órgãos de Justiça e, com o seu discurso, arrebanhou a simpatia de muitos operadores do Direito. Seja por influência ou empatia, Taques tem o judiciário ao seu lado. Convenientemente, esse mesmo judiciário tem caçado (com “ç” mesmo), seus principais adversários políticos. Qualquer grande liderança estadual que poderia fazer frente ao atual governador está presa ou com um processo judicial em seu cangote, prestes a estourar.

Naquele caldeirão que foi 2014, com a depreciação definitiva da classe política e uma ascensão do poder judiciário que surgia como bastião do combate à corrupção, o discurso Caxias travestido de Taques ganhou eco. Bom em oratória, o cuiabano falador subiu ao pedestal, apresentando-se como última reserva moral da política mato-grossense – mesmo carregando consigo um monte de figuras bem carimbadas do cenário. Taques, que já habitava a cadeira do judiciário, com o voto, sentou também no Poder Executivo.

Faltava a Assembleia Legislativa, o terceiro poder formal que alicerça nossa democracia. Ao destruir o maior ícone da casa de leis do Estado nas últimas duas décadas, Taques mostrou que era mais forte e articulado que José Riva. Pelo pavor ou pelo amor, o novo governador conquistou o apoio da maioria na Assembleia. Pronto! Taques acabou de se tornar intocável.

Mas ainda havia uma brecha: a opinião pública. Mesmo tendo os 3 poderes em sintonia com o seu governo, isso não garantia que o povão estaria na coleira. São tempos modernos, de Facebook e Whatsapp, sem um aparelho ideológico de Estado uníssono, ditando regras. Para o plano de poder ser longevo, era fundamental ter a opinião pública ao seu lado, independente das adversidades.

Essa não chegava a ser uma tarefa tão difícil. Taques conquistou bastante popularidade durante o pleito. Tanto que foi eleito ainda no primeiro turno. O novo governador gozava de prestígio frente aos principais setores do Estado. Bastava apenas cultivá-lo.

Foi então que Taques começou sua estratégia para domar o chamado 4º poder: a imprensa. Ele chamou de Gabinete de Comunicação, mas na verdade, o GCOM é um Ministério da Propaganda. Nesse departamento estão 125 jornalistas, um time para dar inveja as quase extintas grandes redações. Fotógrafos e cinegrafistas experientes, com equipamentos de ponta, acompanham o governador em cada aparição pública. Estrutura que acompanha também seus principais secretários, gerando diariamente uma tonelada de “notícias” mostrando toda positividade do governo. Os jornalistas do GCOM são bons no que fazem. Aqui em Sinop, em pelo menos 2 visitas do governador, os jornalistas do gabinete praticamente comandam as coletivas. São eles que fazem as perguntas que Taques escolhe responder quando todos os microfones e gravadores da imprensa estão apontados para o governador. Se fosse um jogo de baralho, chamaríamos essa prática de “três cantos” – quando alguns jogadores fazem um combinado para que apenas os demais percam.

Mas não é só com uma equipe de ponta e muita estratégia que o Ministério da Propaganda de Taques opera. Essa repartição tem toda a influência que o dinheiro pode comprar. Em 2016, o Gabinete de Comunicação do Governo do Estado empenhou gastos correspondentes a R$ 49,6 milhões, tendo efetivamente pago 34,1 milhões. Isso não é conta de salário, luz ou transporte. É dinheiro repassado para 7 agências de publicidade que fazem a propaganda de Pedro Taques. Dinheiro público, parte repassado para os veículos de comunicação falarem bem do Governo do Estado. Veja bem: “do governo do Estado” e não de Mato Grosso. As propagandas dessa gestão que vão ao ar são enaltecendo o “Estado de Transformação”, mote da campanha de Taques.

Quanto pior a imagem de Taques na opinião pública, mais a torneira do GCOM jorra. Em 2017, até a última semana de setembro, o gabinete já havia empenhado R$ 61,6 milhões – quase o dobro do volume pago em 2016. Desse total, R$ 51,5 milhões já foram efetivamente pagos. Mais uma vez, essa é apenas a conta do dinheiro destinado para 6 agências de publicidade.

Com a bunda legitimamente sentada sobre o Poder Executivo, um pé no Poder Judiciário, uma mão puxando os cabrestos do Poder Legislativo e a outra alimentando a Imprensa, Taques governa o Mato Grosso com o discurso de que é diferente dos outros políticos.

Concordo. Não é qualquer político que consegue acumular tanto poder e tão pouco tempo. Assim como ocorreu na maioria dos regimes totalitários espalhados pelo mundo, por enquanto o povo ainda aplaude, acreditando que este é o salvador da pátria.

Heil Taques!

Jamerson Miléski

O Observador