Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Bom dia, Sexta Feira 29 de Março de 2024

Menu

Artigo

Coitado do picolezeiro

13 de Dezembro de 2018 as 10h 16min

Sabe quando o Ronaldinho Gaúcho olha para um lado e chuta para outro? Foi exatamente isso que o vereador Dilmair Callegaro (PSDB), fez na última sessão da Câmara de vereadores – só que sem a genialidade peculiar desse futebolista. Aliás, o “truque de ilusão”, foi mais um tropeção do que uma finta. Ou pelo menos foi assim que acabou sendo narrado.

O fato é que Dilmair apresentou um projeto de lei, afim de alterar parte da lei 166/2018, aprovada nesse ano com o objetivo de regulamentar o comércio de rua de Sinop. Da mesma forma que o ex-atacante do Barcelona, Dilmair estava olhando fixo para um lado. Na justificativa do projeto e até na sua defesa, Dilmair afirmou em tribuna que não mudava em nada o artigo 19 da lei, apenas o seu formato e acrescentava um único ponto: a obrigatoriedade dos ambulantes apresentarem sua fatura de energia elétrica. A ideia, garantiu o vereador, era acabar com o popular “gato” de energia.

Mas o coice foi em outra direção. O projeto de Dilmair alterava a redação do artigo 19. Mas quando esse foi redigido, acabou ficando de fora a sentença “exceto a venda de produtos alimentícios”, logo no inciso 1 do artigo 19. Pela lei atual, é proibida a atividade de comércio ambulante no quadrante formado entre as avenidas Ingás, Tarumãs, Jacarandás e Palmeiras, além da extensão da Avenida das Saudades, até a Av. André Maggi – exceto para venda de produtos alimentícios.

O projeto proposto por Dilmair tornaria proibido vender comida no centro da cidade, através de comércios ambulantes. Seria o fim do espetinho do lado da rodoviária, do vendedor de água de coco, de algodão-doce ou churros. Nada de pipoqueiro ou picolezeiro no centro da cidade. Esse teria sido o impacto da lei proposta por Dilmair.

É possível prever a revolta que se desencadearia. A população de Sinop é franca consumidora desse comércios de rua. Os trabalhadores “móveis” gozam da simpatia dos consumidores. Já Dilmair, além de vereador, é o dono de uma padaria no cruzamento da Avenida Júlio Campos com Avenida das Acácias – basicamente o miolo do centro de Sinop. Entenderam? Seria como se o vereador estivesse fazendo uma lei para eliminar a concorrência ao seu próprio comércio. Já nos bairros, os comerciantes formais que se lasquem.

Se Dilmair deu uma de Ronaldinho, Billy Dal’Bosco (PR), encarnou o Puyol. O vereador fez a função de zagueiro atento e interceptou o projeto. Billy percebeu que a alteração na redação da lei causaria esse impacto, indo contra tudo que havia sido conversado com os comerciantes ambulantes. Assim como Puyol, que pareceria jogar futebol de smoke, Billy fez o desarme com elegância. Ao invés de pisotear Dilmair, ele sugeriu que o “drible” provavelmente se tratava de um erro material, onde a sentença que altera o sentido da lei acabou sendo esquecida.

Dilmair assumiu o erro na redação da lei. Quer dizer, mais ou menos. Disse que falha foi da secretaria que redigiu o texto. De imediato, fez uma emenda verbal, corrigindo a legislação e salvando os picolezeiros. Ao GC Notícias, ontem, Dilmair comentou fato e garantiu que em nenhum momento havia a intenção de boicotar os vendedores de comida do centro de Sinop. “Foi mesmo um erro material”.

O projeto acabou sendo aprovado em primeira votação e irá para apreciação do plenário novamente na próxima segunda-feira (17). Desse caso, restou um temor e um alívio. Temor em saber que um texto mal escrito por um vereador pode acabar com toda uma categoria de vendedores. E alívio porque, no fim das contas, entre os 15 vereadores, pelo menos um viu.

Jamerson Miléski

O Observador