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Artigo

Batendo no maior cliente

18 de Fevereiro de 2021 as 13h 20min

Nessa terça-feira (16), o Financial Times – um dos mais importantes jornais de negócios do mundo, com sede em Londres – publicou uma reportagem sobre o Norte de Mato Grosso. O título é “Mato Grosso transforma seu destino com boom movido por China, fé e Bolsonaro”. Aqui tem o link para ver a publicação.

A reportagem narra a expansão econômica da região alimentada pelo agronegócio, a ampla adesão da população local ao discurso bolsonarista e a ascensão das igrejas evangélicas – tentando entrelaçar os assuntos para descrever a visão de mundo de quem vive em uma das fronteiras agrícolas mais férteis do planeta. Para tal, deu voz para diferentes personagens locais, de pastores a produtores rurais. De Sinop, o jovem ex-vereador Ícaro Severo, foi um dos ouvidos, assim como o pesquisador Angelo Maronezzi.

O texto não foi escrito para agradar quem por aqui vive. A reportagem é um retrato que o jornalista Bryan Harris fez da região para apresenta-la ao mundo. Em especial, ao mundo dos negócios. É um superficial – mas bem escrito – cartão de visita para investidores e governos internacionais. E, na minha opinião, esse folder acabou saindo com um “borrão”. Por nossa culpa.

Uma das pessoas ouvidas pelo jornalista foi um produtor rural, escolhido como o personagem que abriria sua história. Esse jovem homem do campo, de 35 anos, deu, ao Financial Times, a seguinte declaração: “Poderíamos esbofetear a China e ela ainda viria comprar nossa soja, porque não tem outra opção”.

Não é a primeira vez que alguém diz isso. Já vimos coisas parecidas no Itamaraty e nas nuvens do Twitter que pairam sobre Brasília. Mas será que é algo inteligente para um produtor mato-grossense falar ao Financial Times?

Quase 70% da soja produzida em Mato Grosso (2020), vai para a China. O gigante asiático é nosso principal cliente. Historicamente prefere fazer negócios com o Brasil. Com o dólar alto, além da compra ser vantajosa para os estrangeiros, também derrama Reais em abundância na economia da região – que como frisa o periódico britânico, supera a crise com esse “boom da China”.

Os produtores podem até achar que a China tem obrigação de comprar, que não tem opção. Não é bem uma verdade. Não é preciso parar de comprar do Brasil. Basta reduzir o “volume” comprado – em 20 ou 30% - para dar uma solapada no mercado.

Se tem uma coisa que a máxima capitalista ensina é que “esbofetear” o cliente não é uma ação inteligente. A empresa que trabalha obrigando o consumidor a comprar, abre espaço para concorrência. No mundo liberal, ninguém gosta de se sentir refém.

Se hoje a China compra 40% de todos produtos agropecuários que o Brasil produz, deveríamos melhorar nossas parcerias, não coloca-las à risco. A maior parte do agronegócio, sério e competente que esse Estado tem, tem trabalhado nessa linha. A conversa de boteco, precisa ficar no boteco. Não é porque a pandemia fechou o bar, que o Financial Times virou lugar de resmungar.

Lembrem-se do que o candidato prometeu em 2018 e o Brasil comprou: fazer negócios com o mundo todo “sem viés ideológico”.

A prosperidade da China paga a Hilux nova... e também o meu bife.

Jamerson Miléski

O Observador