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Artigo

A mosca de Deus

12 de Agosto de 2019 as 13h 43min

No início de agosto do ano passado estávamos reunidos eu e o meu amigo Pedro Pinto de Oliveira, com o então candidato a governo Mauro Mendes iniciando os preparativos para o horário eleitoral que se avizinhava. Em determinado momento da reunião passei a ver uma incomoda mosca que fica à frente do meu rosto. Tentei matá-la três vezes com as mãos. Foi quando, olhando para cima e para os lados percebia que ela se deslocava para os lugares onde olhava. Ou seja, não havia mosquinha nenhuma.

Além do desconforto aquilo não me causava nada. Só uma pequena irritação. Pedi desculpas aos que participavam da reunião e fui ao Hospital Santa Rosa fazer uma consulta para compreender o que se passava. Lá fiz exames do cérebro e logo depois dos primeiros resultados, o clínico geral, que não me lembro o nome foi até ao box onde estava e diagnosticou: “acho que você está com hidrocefalia, mas o diagnóstico definitivo só com um especialista que é um neurologista”.

Assim que o médico retirou-se do box liguei ao cardiologista Roberto Kalil e narrei o ocorrido acrescentando que eu tinha a certeza que não tinha a tal hidrocefalia. O Dr. Kalil ouviu-me e deu a orientação: “pegue um avião e venha saber uma segunda opinião aqui em São Paulo”.

Horas depois chega o especialista neurologista e confirma as minhas expectativas: “você não tem problema nenhum neurológico”. Liguei novamente ao Dr. Kalil e disse-lhe que a segunda opinião havia me tranquilizado e que não iria mais a São Paulo. Ele contra argumentou: “você tem duas opiniões diferentes aí mais um motivo para vir a São Paulo”.

Fui. Queria ir sozinho, pois tranquilizado pelo neurologista imaginei que seria um bate volta. Uma pequena checagem. O meu filho caçula Tiago disse que queria ir comigo a São Paulo e meu amigo e sócio Pedro Pinto ainda estimulou dizendo vá mesmo, seja protagonista disso. Como assim protagonista, não tenho nada. Tenho certeza. Tiago viajou comigo. Fui vencido pela teimosia dele que achava desnecessária.

No dia seguinte cedo já estava fazendo os mesmos exames no hospital. Meia hora depois confirmado o diagnóstico do neurologista eu não tinha hidrocefalia. Estava preparado para voltar ao trabalho na coordenação da comunicação da campanha de Mauro Mendes. Foi quando o Dr. Kalil, com quem faço checagem de dois em dois anos, olhando a minha ficha disse: “da última vez você não fez exames das carótidas. Vai demorar só trinta minutos e depois você estará liberado”. Insisti que tinha uma campanha eleitoral na qual trabalhava e precisava voltar. Já tinha passagem marcada para as 23 horas. Meu filho Tiago argumentou: “pai dá tempo mais que suficiente do senhor fazer os exames e depois vamos para o aeroporto”. Diante de tanta teimosia cedi. O Dr. Kalil disse que “como você vai pagar a mesma coisa vou pedir também as imagens do abdômen total”.

Meia hora depois o Dr. Kalil e sua equipe voltam a falar comigo parabenizando: “foi muito bom termos feito o exame pois encontramos um nódulo no fígado”. Interrompi aquela explicação e perguntei se ele estava me dizendo que eu posso estar com câncer no fígado. Disse-me com tranquilidade “precisamos fazer uma biópsia pois pode ser sim”.

Aquela notícia era como uma verdadeira bomba. Recuperei a tranquilidade e pedi que gostaria então que fosse chamado o médico Paulo Hoff, um dos mais renomados oncologistas do Brasil para me atender, pois tinha amizade com a família dele. O Dr. Kalil disse-me: “é quem eu ia lhe indicar”.

Quando estive senador em Brasília fiz o curso de Direito com Paulo Sérgio Hoff, irmão do médico e sempre brincava com ele que esperava nunca precisar do irmão dele. Pronto, estava precisando.

Nesse mesmo dia a noite recebi a visita de Paulo Hoff, que confirmou a necessidade da biópsia, mas antecipou que não havia gostado dos exames. Exame feito a comprovação: estava com “colangiocarcinoma”. A única solução era cirúrgica. Tirar um pedaço do fígado. Antes, entretanto nova tensão, pois é raro o câncer originar-se no fígado. Ele migra pra lá. Portanto eu tinha que fazer PET (acho que é assim que se escreve) para verificar se não tinha por outras partes do corpo. UFA! Era só no fígado.

Na manhã seguinte o Dr. Paulo Hoff apresentou-me ao médico cirurgião, professor doutor como ele na USP, o renomado médico Paulo Herman. Fui para a mesa de cirurgia e doze horas depois já estava recuperando-me na UTI do Hospital. Quando voltei da cirurgia o Dr. Paulo Herman estava comemorando. A cirurgia foi um sucesso, disse-me. Indaguei dele se já havia avisado Cristiane e meus filhos, todos no Hospital, e ele, disse-me que sim.

Depois de dois dias na UTI volto ao quarto e começo todo um trabalho de recuperação. Esses dias foram importantes demais na minha vida. Reconciliei-me com Deus. Fazia diariamente duas novenas “Maria Passa na Frente e Mãos Ensanguentadas de Jesus”. Percebi o enorme valor da família. Sabia que precisava vencer e pensava muito em todos. Desde a dureza que seria para minha mãe enterrar mais um filho até a constatação de que eu ainda seria muito útil, principalmente, na convivência com Gabriela, à época a netinha caçula. Isso me dava força. Muita força.

Antes de receber a alta no Hospital, o Dr. Paulo Hoff me disse o seguinte: “Você deve sua vida ao seu filho Tiago que exigiu que você fizesse o exame e ao Dr. Kalil, que solicitou as imagens da carótida e do abdômen total”. O normal era o cardiologista ter solicitado apenas o exame das carótidas. Tive alta dias antes do nascimento do filho de Tiago. Ele deu o meu nome para o netinho. Sou eternamente grato a Tiago e Elisa, por esse gesto. Era Antero chegando e Antero não partindo. Era Antero chegando para conviver com Antero. Hoje tenho a alegria de conviver também com Cecília, agora a caçulinha das netinhas.

Depois que tive alta fiquei os primeiros seis meses aos cuidados de Paulo Hoff e sua competente equipe. Quem mais cuidou de mim foi a Dra. Lucila, um verdadeiro anjo que Deus colocou na equipe de Paulo Hoff e na minha vida. Fiz quimioterapia e tenho realizado check'ups, que no inicio eram mês a mês e agora estamos na fase de três em três meses. Os médicos têm sempre me tranquilizado. O Dr. Paulo Hoff chega a ser enfático: “Você está curado”.

E eu acredito mesmo que estou curado. Até hoje não entendi como surgiu aquela mosca na reunião com o Mauro Mendes. Detalhe importante: nunca mais vi a mosca. Era evidente que aquilo foi um sinal de Deus. Aquela mosca era a Mosca de Deus.

Com tudo isso, não tem como não acreditar que estou curado mesmo. Agradeço a muita gente que soube dos acontecimentos e orou muito pela minha saúde. Por isso que escrevi ontem no meu facebook, que o 7 de agosto passou a ser comemorado como dia do meu renascimento.

 

* Antero Paes de Barros é jornalista e ex-senador da República

Antero Paes de Barros

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